Diretivas aprovadas ao final da conferência reafirmam a luta brasileira pelo povo cubano

Sábado (7) foi o último dia de atividades da 15ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba. Com ampla participação juvenil, o evento que teve ao todo 250 delegados inscritos e aprovou uma resolução reafirmando o compromisso das entidades com a luta

    Pela manhã, quatro grupos apresentaram propostas em sintonia com as diretivas já debatidas durante a 15ª Convenção. As propostas percorrem desde uma investida de meios para abrir espaço na mídia tradicional para a causa cubana, até abertura e ampliação de novos comitês pró-liberdade para os cinco cubanos.


 


    Sobre a consolidação dos movimentos de solidariedade a Cuba, José Estévez Hernandez, diretor de América Latina e Caribe do ICAP, disse que o povo cubano se orgulha do grande apoio que recebe. “É o maior movimento existente até hoje em apoio a um povo, contando com cerca de duas mil organizações distribuídas em 139 países. E a maior contribuição é o sentimento de solidariedade a Cuba” afirma Hernandez. 


 


    Ele diz que é necessário se informar sobre a realidade cubana, pois Cuba “é tida como o paraíso para os simpatizantes e como o inferno para os que desconhecem a verdade de nosso país”. Hernandez atenta para o fato de se enfrentar a campanha desinformativa sobre Cuba. “Os meios de comunicação passam uma imagem estereotipada, de uma Cuba dominada, infernal, atacada. Como se quisessem justificar uma possível agressão. É necessário o combate a isso no terreno político e ideológico”.


 


    Hernandez faz uma ponte com a questão de informar a opinião pública melhor com a questão do embargo econômico e a questão dos cinco heróis presos nos Estados Unidos. Ele afirma que é preciso irradiar para todos os setores e informar o que de verdade acontece. “O bloqueio é condenado pela comunidade mundial há 16 anos, e continua. Os cinco heróis estão presos ilegalmente desde 1998, e continuam. Por tanto, ser solidário com Cuba, é ser solidário com os excluídos, com os reprimidos” finaliza.


 


CHE
    Na parte da tarde, o Sr. Tirso Saénz Sanchez, que foi vice-ministro para o desenvolvimento tecnológico no ministério de indústrias na gestão do então ministro da economia Che Guevara, falou de um outro Che, muito além daquele que conhecemos pelo rosto estampado nas camisas.


 


    Sanchez, que é autor do livro “O ministro Che Guevara”  (Ed. Garamond, 288 p.) onde relata com grande riqueza de detalhes essa época que viveu ao lado de um dos maiores heróis da nossa América. Ele descreve Che como “uma pessoa de ação, determinada e trabalhadora. Com grande força de vontade e coragem para mostrar sua visão estratégica através de seu exemplo pessoal”. Sanches diz ainda, que além desse caráter visionário, Che era dotado de grande sensibilidade humana, como ele narra, em um dos exemplos, o momento em que Che gravou com a própria voz duas fitas com suas poesias preferidas pouco antes de ir para guerrilha.


 


Balanço


    O diretor de eventos da Associação Cultural José Martí de Minas Gerais, José Rodrigues diz que a 15ª Convenção ocorre em um momento muito propício, “pois hoje está em voga essa necessidade de integração dos povos latinos, e existe também o novo cenário de experiências de países que ousam transpor a lógica do neoliberalismo”. Outro ponto destacado foi a mudança de formato do evento que agilizou o processo e conseguiu reunir grande parte dos delegados em um único lugar,  proporcionando mais contado entre as delegações.


 


    O centro das questões presentes na 15ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba foi o processo de integração latino-americana, necessário para união de forças progressistas que lutam pela auto-determinação dos povos.


 


    Ao final da convenção, foi aprovada uma resolução, que reafirma o compromisso das entidades com a luta por Cuba transposta em cinco eixos; a luta contra o terrorismo; a defesa permanente e consistente dos direitos humanos; a luta contra o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos; a ampliação da rede de solidariedade a Cuba; e por último a questão validação dos certificados dos médicos que estudaram em Cuba e que não conseguem trabalhar no Brasil. Também foi aprovado que o Rio de Janeiro é o estado que vai sediar a 16ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba.


 


Entrevista – Tilden Santiago
Participando ativamente do evento, o mineiro Tilden Santiago, ex-embaixador do Brasil em Cuba, conversou em entrevista ao Vermelho, sobre a Convenção, o embargo econômico e de como foi sua gestão como embaixador do Brasil em Havana.



Vermelho – O Sr. Voltou ao Brasil há cerca de um mês, depois dos quatro anos a frete da Embaixada Brasileira em Cuba. Como o Sr. analisa o crescente movimento de apoio a Cuba no Brasil?


Tilden – Fico muito feliz com a ampla mobilização no país inteiro, desenvolvendo essa solidariedade. É um termômetro sobre cada força política quando se ousa se pronunciar sobre Cuba. Em um país onde existe tanto preconceito nas classes dominantes contra Cuba e mesmo na mídia em geral, onde os assuntos referentes a Cuba são tratados com certo preconceito, esses movimentos representam grandes avanços. Eu espero que a gente venha a superar isso quando a sociedade brasileira como um todo se torne solidária com a causa cubana. É necessário que essa causa se amplie, que seja uma causa mais ampla que a partidária. O apoio a Cuba tem que ser algo do conjunto da força política nacional.


 


Vermelho – Estamos em pleno o século 21 e o povo cubano ainda sofre por conta do bloqueio norte-americano. Não existe saída diplomática para acabar com o bloqueio?


Tilden – Cuba tem muita sensibilidade para atuar no campo diplomático. É maravilhoso você ver um país que se relaciona com a quase totalidade dos estados. Mesmo aquelas pequenas ilhas que são estados do Caribe e da Ásia, possuem representantes em Cuba e existem representantes cubanos nelas. Nos últimos tempos, somente Estados Unidos, Israel, Marrocos e Arábia Saudita que não possuíam relações diplomáticas com Cuba. Sendo que os sauditas reataram suas relações com Cuba. Tem sido feito um excelente trabalho diplomático por parte de Cuba. Eu creio que a luta é mais política hoje. Existe algo na área política mais que na área diplomática. É mais um embate no campo ideológico.


 


Vermelho – Como foram esses quatro anos como embaixador do Brasil em Cuba?


Tilden – Eu cumpri as três metas que o presidente Lula me colocou quando me enviou para lá. Aumentar o intercâmbio comercial, que cresceu de 73 milhões para cerca de 400 milhões, em cerca de três ou quatro anos. Um avanço bem grande. Segundo, aprofundar as relações políticas; Eu creio que avançamos muito nesse sentido em função de benefícios para Cuba e para o Brasil, mas também para a integração latino-americana. Trabalhamos com essa linha de integração. O terceiro ponto foi aperfeiçoar o trabalho consular, afim de dar melhor atendimento e solução dos problemas dos estudantes que estudam em Cuba. Hoje temos 700 estudantes só de medicina em Cuba. Nesse ano vão seguir 500 estudantes. Cuba mandava 60, 100 estudantes por ano, agora abriram vaga para 500. Além desses três tarefas, eu peguei um projeto arquitetônico de uma nova embaixada de autoria do Niemeyer. Ele reformulou o projeto, Fidel e o governo de Cuba nos ofereceram 8 mil metros quadrados no coração de Havana. O Itamaraty está destinando recursos para essa obra e cabe agora ao meu sucessor tocar esse projeto para frente.


 


De Belo Horizonte,
João Paulo Dias