Policial pró-pena de morte ameaça ativista do hip-hop em Osasco (SP)

Por Carla Santos


 


O ativista da Nação Hip-Hop Brasil e vereador pelo PT da cidade de Francisco Morato (SP), Anderson Domingos da Silva, 31, denunciou ao Vermelho nesta quinta-feira (12) que está sendo ameaçado de

Era para ter sido apenas uma aula sobre penas criminais no curso de Direito da Universidade Bandeirante (Uniban) de Osasco. Porém, quando Anderson levantou a questão da redução da maioridade penal e a pena de morte a aula cedeu espaço ao debate. A discussão acalorada entre colegas e professor, em especial entre Anderson e Genivaldo, fez com que ambos se agredissem fisicamente dentro do banheiro da faculdade.


 


Segundo o vereador, nas conversas com colegas de faculdade, Genivaldo vangloriava-se das vezes em que participava de ações que resultavam na morte de um suspeito. “O cara gostava de chegar na sala e ficar comentando com a gente das pessoas que ele apagava e como isso lhe fazia bem, de como isso é bom para o Estado e para o país”, declarou Anderson.


 


Os “três Ps”


 


Tudo começou quando Anderson, que também é ativista do mvimento negro, comentou que a pena de morte já existe no país para os “três Ps” de ''preto, pobre e prostituta''. ''Todo mundo sabe que a polícia mata mais do que ladrão e bandido em SP. Só no ano passado foram mais de 3 mil pessoas que morreram pelas armas da polícia”, teria dito Anderson durante o debate. O policial Genivaldo não gostou do comentário a respeito de sua corporação. ''A polícia cumpre um papel importante para a sociedade e merece ser tratada com respeito'', teria dito Genivaldo, segundo o vereador.


 


Depois de uma discussão inflamada na sala, Anderson declarou que foi ao banheiro da faculdade e Genivaldo o seguiu. “No banheiro, ele começou a me intimidar dizendo que eu tinha que ter mais cuidado com o que falava, que as conseqüências poderiam ser mortais, que eu devia temer pela vida e que qualquer dia eu poderia ser apagado”.


 


Quando o policial o encostou contra a parede do banheiro, o ativista teria reagido com um empurrão e uma briga se iniciou. Socos, pontapés e chutes se prolongaram por alguns minutos até que colegas e seguranças da faculdade contiveram a briga.


 


Ambos foram levados à delegacia. Lá, Genivaldo acusou Anderson de agressão, enquanto o vereador realizou exame de corpo de delito. “Esse cara é duas vezes maior que eu. É inacreditável que ele tenha tido a coragem de me acusar de agressão”, disse o ativista, que ficou com inúmeros hematomas pelo corpo e também no olho direito. “Na delegacia, ele quase conseguiu me colocar na cadeia, o que o impediu foi a intervenção do deputado estadual Marcos Martins (PT), que exigiu investigação do caso antes que se prendesse qualquer pessoa. Agora, temo pela minha vida. Não duvido que ele venha a cumprir a promessa de me apagar”, disse o vereador.


 


Genivaldo faz parte do Setor de Operações Especiais (SOE) da Polícia Civil de SP. Fundado em 1991, o SOE tem por função prestar auxílio às unidades policiais convencionais em ocorrências de alto risco, intervenção em ocorrências policiais com reféns e rebeliões no sistema prisional. O setor conta com centenas de policiais, viaturas e divide-se em cinco grupos tático-operacionais, uma unidade especial Delta, setor de inteligência, com policiais e viaturas descaracterizados, além dos setores administrativo e de supervisão. Ao longo dos anos, o SOE tem inspirado outras unidades táticas que levam o mesmo nome em diversas cidades de SP e também em outros estados. Até o fechamento desta matéria, Genivaldo não havia sido localizado pelo Vermelho para comentar o episódio ocorrido na Uniban.


 


Polícia despreparada


 


Dados divulgados em fevereiro deste ano pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo mostram o aumento de 79% nas mortes de civis provocadas por policiais entre 2005 e 2006 (de 300 em 2005 para 537 no ano seguinte). Segundo o balanço, o número de policiais mortos aumentou de 31% para 34% no mesmo período.


 


O diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne, observou que o estado de São Paulo vinha registrando redução no número dessas ocorrências, devido a algumas ações implementadas pelo governo estadual nos últimos dez anos. “No ano passado, claramente esse histórico fugiu da curva e, se dividirmos por meses, veremos que isso está muito concentrado naquele período dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Na época, diversas entidades manifestaram uma grande preocupação de que a reação da polícia estava sendo desproporcional”, disse.


 


“Claro que ninguém deseja que um policial morra. Cada um que morreu é um fato grave, mas isso não justifica que, no dia seguinte, haja um número absurdo de pessoas mortas pela polícia e não se veja que isso ocorreu porque os confrontos continuaram”, acrescentou  Mizne.


 


O diretor do Instituto Sou da Paz disse ainda que não considera a polícia do estado de São Paulo como uma “polícia matadora” e acredita que não houve ordem para que os policiais executassem civis durante os ataques sofridos em maio de 2006. “Se tivesse acontecido isso os resultados seriam piores ainda. O que eu acho que houve foi uma perda de controle, que tem que ser corrigida”.  Na avaliação dele, é preciso também que a Secretaria de Segurança Pública continue investigando as ações dos policiais que estavam trabalhando no período em que as mortes ocorreram para saber se elas aconteceram, de fato, em momentos de confronto ou se podiam ser evitadas.