Lula defende integração para superar dificuldades de energia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira (16) que a 1ª Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações, que começa hoje (16) na Venezuela, tem de estudar formas para que as nações possam se integrar para superar dificuldade

Lula embarca, agora de manhã, para Ilha Margarita, na Venezuela, onde será realizado o evento, que deverá reunir dez mil pessoas de 12 delegações sul-americanas. “A nossa idéia é que a gente possa ter um diagnóstico correto da dificuldade de cada país na questão energética. Com esse diagnóstico correto na mão, nós então apresentamos uma proposta do que fazer conjuntamente, onde arrumar dinheiro, qual projeto nós vamos ter para que a gente tenha uma integração”, afirmou, no programa de rádio Café com o Presidente.



“Essa reunião é, para mim, importante na medida em que ela pode definir o que vai ser a América do Sul para os próximos dez, 15 ou 20 anos”, completou.



O presidente citou formas de como um país pode ajudar o outro. Segundo ele, o Brasil, por exemplo, quando tiver energia excedente poderá vender para quem sofre desabastecimento. “Quando tiver muita chuva em um país que tiver energia, nós poderemos estar utilizando a energia deles. Quando lá chover pouco e aqui chover muito e a gente tiver energia em excesso, a gente pode passar energia para eles”.



Lula destacou pontos fortes de algumas nações sul-americanas no setor energético, como as grandes reservas de gás da Bolívia, as jazidas de petróleo da Venezuela e a produção de biodiesel no Brasil. “A sociedade vai ganhar mais tranqüilidade, mais certeza de que nós vamos ter energia suficiente para atender a demanda da sociedade e a demanda do crescimento econômico desses países”, afirmou.



Confira abaixo a íntegra do Café com o Presidente desta segunda-feira:



Bom dia, amigos, em todo o Brasil. Eu sou Luiz Fara Monteiro e começa o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Tudo bem, presidente?
Presidente Lula: Tudo bem, Luiz.



Nesta segunda-feira e terça-feira também, o senhor participa, na Venezuela, da 1ª Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações. O que o Brasil vai levar para o encontro, presidente?
O Brasil tem mostrado uma preocupação com a integração da América do Sul, e o item energia é um dos principais para que haja uma integração efetiva na América do Sul. O Brasil é um país que tem o privilégio de ter fronteira com dez países da América do Sul, só não temos fronteiras com o Equador e com o Chile. Portanto, precisamos estabelecer uma política de integração capaz de um país ajudar a suprir as dificuldade do outro no que diz respeito à energia. Por exemplo, na Bolívia, nós temos muito gás, na Venezuela, nós temos muito gás. Nós temos outros países que têm petróleo, como o Peru, como a Colômbia, como o Equador. A Venezuela tem muito petróleo. Nós estamos presentes em todos esses países. Estamos construindo parcerias também na questão da energia elétrica, na questão do gás, na questão do biodiesel, na questão do etanol, ou seja, nós queremos fazer uma integração para que nenhum país da América do Sul sofra qualquer crise por falta de abastecimento de energia, seja elétrica ou seja combustível. Isso leva a que nós tenhamos estabelecido um calendário. Esse é o primeiro tema importante que vai envolver todos os presidentes e os ministros já foram no domingo para avançar a discussão. E a nossa idéia é que a gente possa, primeiro, ter um diagnóstico correto da dificuldade de cada país na questão energética. Com esse diagnóstico correto na mão, nós então apresentarmos uma proposta do que fazer conjuntamente, onde arrumar dinheiro, qual projeto que nós vamos ter para que a gente tenha uma integração. Por exemplo, nós já temos uma parte de energia elétrica da Venezuela conectada ao Brasil. Pode ser feito mais, ou seja, o Brasil já tem energia ligando o Paraguai, ligando a Argentina, ligando o Uruguai. Portanto, essa reunião é, para mim, importante na medida em que ela pode definir o que vai ser a América do Sul para os próximos dez, 15 ou 20 anos.



Hoje falamos sobre a 1ª Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana das Nações. O que a sociedade desses países ganham com um acordo como esse, presidente?
A sociedade vai ganhar mais tranqüilidade, mais certeza de que nós vamos ter energia suficiente para atender a demanda da sociedade e a demanda do crescimento econômico desses países.



É uma garantia para a capacidade de produção, de investimento?
É mais do que uma garantia. É a certeza de que os países da América do Sul estão preocupados em fazer uma integração da questão elétrica, mas também da questão das rodovias, da questão das ferrovias, da questão das pontes. Então, o que nós queremos é partilhar com todos os presidentes as nossas preocupações, ouvir as preocupações dos presidentes e, a partir daí, estabelecer que tipo de integração nós vamos fazer. Eu vou dar um exemplo, ou seja, nós, agora, estamos aqui no Brasil fazendo linhas de transmissão e estamos conectando todo o Brasil. Quando nós tivemos o apagão em 2001, nós não tínhamos linhas de transmissão que ligavam o Sul do país ao Sudeste do país. Se nós tivéssemos linhas de transmissão, nós poderíamos ter trazido energia elétrica para cá e não teria tido o apagão no Sudeste brasileiro. Se nós partilharmos essa integração com os países da América do Sul, o que vai acontecer? Quando tiver muita chuva num país que tiver energia, nós poderemos estar utilizando a energia deles. Quando lá chover pouco e aqui chover muito e a gente tiver energia em excesso, a gente pode passar energia para eles. E aí vale também para a questão do etanol, vale para a questão da gasolina. O que é importante é que o povo brasileiro e o povo dos países da América do Sul saibam que nós estamos dispostos a construir um sistema de integração para nos ajudarmos mutuamente.



Agora, presidente, o senhor é um grande defensor dos biocombustíveis, mas existem críticas, como a do líder cubano Fidel Castro, e do próprio presidente Hugo Chávez, da Venezuela, de que o incentivo à produção desse tipo de combustível pode aumentar a fome no mundo. Existe uma preocupação que isso realmente possa ocorrer?
Eu não sei qual é a base técnica ou científica das críticas ainda. Eu espero que tenhamos oportunidade de discutir um pouco esse assunto. Obviamente, nós temos uma imensidão de um território, não apenas no Brasil, mas em todos os países da América do Sul, na África, que poderão tranqüilamente combinar a produção de oleaginosa para produzir o biodiesel, de cana para produzir o etanol, e ao mesmo tempo, produzir alimento. O que nós precisamos é ser racionais, trabalhar com muito cuidado nisso, obviamente que nós temos que ter uma política de Estado orientando onde vai ser produzido, que tipo de coisa vai ser utilizada. E isso nós estamos tratando com o maior carinho, pelo menos, no caso do Brasil, nós não temos essa preocupação.



OK, presidente. Obrigado, uma boa viagem e até semana que vem.