Ana Rocha relata o 14º Congresso Internacional de Mulheres

Leia artigo-relato de Ana Rocha, membro da União Brasileira das Mulheres (UMB) e presidente do PCdoB-RJ, sobre o 14º Congresso da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) realizado em Caracas, Venezuela, do dia 8 a 14 de abril deste ano.

Mulheres contra o imperialismo e pelo socialismo



 


Ana Rocha*



 


Realizou-se em Caracas, Venezuela, de 8 a 14 de abril, o 14º Congresso da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM). O congresso contou com a participação de cerca de mil mulheres, entre delegadas e convidadas, de 91 países de todos os cantos do mundo. A delegação brasileira foi de cerca de 50 mulheres de vários estados do Brasil.


 


Dentre elas 9 representaram a UBM (União Brasileira de Mulheres): Liege Rocha(SP), Eline Jonas(GO), Ana Rocha(RJ), Dilceia Quintela(RJ), Raimunda Leone(RJ) Lucia Rincon(GO), Elza(PR), Amanda(PR). Olivia Santana(BA).


 


A diversidade de países, de culturas, de etnias, se unificaram num único discurso de combate ao imperialismo, às mazelas do capitalismo neoliberal, pelo socialismo e pela igualdade entre gêneros. Até mesmo uma delegação de mulheres norte-americanas estava no congresso e se uniu no combate a Bush.


 


Fizeram-se presente as denúncias de discriminação da mulher em todo o mundo. Na Índia, quando uma mulher fica grávida, se o diagnóstico diz que vai nascer uma menina, a mulher é obrigada a abortar. No Uruguai, as diferenças salariais entre mulheres e homens são de 43% para trabalho igual. A feminização da pobreza é um fenômeno em todo o mundo. Em muitos países o direito ao trabalho para as mulheres não é reconhecido. A participação política das mulheres ainda está muito distante da dos homens.


 


O congresso da FDIM realizou-se em meio às comemorações do dia 13 de abril, e as mulheres presentes participaram do grande ato político no centro de Caracas , onde constataram a vitalidade do povo na defesa de Chávez. Tiveram, além disso, um encontro com o Presidente Hugo Chávez no Teatro Tereza Carreno, gravado ao vivo para uma rede de TV e Rádio para quatro países da América Latina. Eram cerca de mil mulheres de todo o mundo participando do programa Alô Presidente.


 


As mulheres da platéia tiveram acesso ao microfone para falar da realidade de seus países. A emoção teve um ponto alto quando chegou a vez de duas mães da Praça de Maio. Uma delas, com o retrato da filha pendurado no pescoço, disse com a voz embargada: ''Desde que milha filha foi presa e desaparecida há 30 anos, nunca dirigi a palavra a um militar. Mas hoje, quero abraçar o comandante Chávez.''


 


O plenário aplaudiu de pé enquanto as mães da Praça de Maio subiam ao palco e abraçavam o presidente Chávez. Ao mesmo tempo ecoava a palavra de ordem que se fez presente durante todo o Congresso: “alerta, alerta que caminha, a espada de Bolivar pela América Latina”.



 


Palestina, chilena, argentina, brasileira, indígena, indiana, mulheres do Chipre, Peru, Cuba, dentre outros países, tiveram a palavra dirigida a Chávez pela televisão. Chávez comentou sobre as relações da Venezuela com cada país representado pelas mulheres. Deu destaque a Cuba, a maior delegação pressente ao congresso, além da Venezuela é claro. Referiu-se à sua grande amizade com Fidel. Falou dos avanços e das dificuldades para levar adiante as conquistas bolivarianas, das reservas energéticas da América Latina a serem preservadas, da unidade latino-americana para resistir ao imperialismo de Bush. Mas também se referiu à necessidade de combater o machismo, das heroínas como Clara Zetkin e Manuela Saenz, lutadora e companheira de Simon Bolivar.


 


Temos muito mais a falar sobre o Congresso da FDIM na Venezuela. O fato é que nos sentimos irmanadas em um mesmo campo de luta, progressista, de mulheres que sabem que sua luta pela igualdade faz parte de uma luta maior, por uma sociedade sem exploração, pela paz, soberania e socialismo.


 


Uma força que tem futuro quando articulada com um comando conseqüente e com maior visibilidade em cada país. A reunião das comunistas presentes ao congresso fez essa reflexão. Que estratégias nós precisamos traçar para potencializa a força dessas mulheres, que têm um mesmo ideal e que vivem, sobretudo, na América Latina um clima favorável à democracia e ao avanço de sua luta.


 


O Congresso da FDIM, não foi perfeito, é claro. O atraso na distribuição do regimento e das teses dificultou os debates. Alterações de última hora na programação também afetaram seu andamento, mas o debate ocorreu profícuo nos 10 grupos de trabalho de conteúdo variado: 1 – Os impactos (negativos) da globalização neoliberal sobre as mulheres; 2- A luta das mulheres e o impacto do terrorismo de Estado, as ocupações e as guerras imperialistas. A luta das mulheres pela independência nacional; 3 – O tráfico e a mercantilização das mulheres e crianças (com especial referência à exploração sexual da imigrante, refugiada e mulheres ''deslocadas''); 4 – Construção da solidariedade internacional contra a repressão política às mulheres e todas as formas de violência contra as mulheres; 5 – Defesa dos direitos das mulheres indígenas e afro-descendentes, à cultura e pela igualdade; 6 – Avançar na igualdade dos direitos sociais ao trabalho, saúde, educação, seguridade social, no combate à fome e outros; 7 – Transformar o papel negativo dos meios de comunicação no trato da imagem das mulheres; 8 – Mulheres no poder e a tomada de decisão política; – 9 – A história e o papel da FEDIM na defesa dos direitos das mulheres, independência nacional, justiça social, democracia e paz; 10 – O feminismo e a teoria de gênero.


 


O congresso da FDIM foi precedido da realização do 2º Encontro da Mulher Jovem, que desenvolveu o debate sobre esses diversos temas.


 


Ao final, o 14º Congresso da FDIM aprovou a Declaração de Caracas que afirma dentre outras coisas:


 


''O 14º Congresso da FDIM (Federação Democrática Internacional de Mulheres), realizado em Caracas, de 8 a 14 de abril de 2007, se declara herdeiro das heróicas lutas das mulheres e dos povos do mundo inteiro. Nossos 62 anos de existência têm suas raízes na luta das mulheres contra o fascismo, pela independência nacional e pela paz sobre nosso globo terrestre (…)


 


Não é casual que nosso 14º Congresso se realize na Venezuela de Bolívar e de Manuelita Saenz (…)


 


Somos e seremos mulheres em luta para transformar o mundo e alcançar o bem-estar , com justiça econômica, social, política e de gênero, incluindo a indispensável luta pelos direitos da mulher trabalhadora (…)


 


Queremos um mundo de igualdade entre homens e mulheres, onde a igualdade seja real e efetiva. Condenamos a guerra silenciosa que o grande capital transnacional impôs com suas políticas neoliberais, gerando fome, desnutrição, miséria, analfabetismo, desigualdades no mundo, males que nos afetam em particular (…)


 


Queremos um mundo onde cada cidadã e cidadão sintam respeitados seus direitos e por isso exigimos a eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra as mulheres, desemprego, exclusão de imigrantes, tráfico de mulheres e crianças, exploração sexual, prostituição, assassinato e tráfico de drogas, assim como a eliminação dos obstáculos de acesso aos recursos e emprego em igualdade de condições que propiciem a autonomia econômica (…)


 


As mulheres não são um setor ou um grupo, nem um tema. Estamos em todos os setores e em todos os âmbitos da sociedade, por isso estamos convencidas de que a diversidade e a transversalidade nos dão a riqueza de nossas visões e propostas. Essa diversidade é a que gera iniciativas criadoras, que mata os esquemas e a mediocridade do pensamento único.


 


(…) Por isso nossa exigência se baseia na necessidade histórica de incorporar toda a experiência acumulada, nossa reflexão, tendo presente a situação econômica, social, cultural e política de cada continente, de cada região, de cada país (….).''



 


Exigindo um mundo de paz e condenando a escalada imperialista guerreira do governo dos Estados Unidos, a declaração do 14º Congresso da FDIM alerta para a necessidade de nos apropriarmos do mais avançado pensamento revolucionário e feminista.
  


*Ana Rocha é jornalista e psicóloga, presidente estadual do PcdoB_RJ e do Conselho da União Brasileira de Mulheres (UBM).