Ida de Coutinho para o BNDES reforça time dos desenvolvimentistas

O economista Luciano Coutinho foi confirmado nesta quarta-feira (18) como o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).  Professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Coutinho, de 54 anos, é Ph.D em Economia

O anúncio foi feito pelo porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach. Segundo o porta-voz, ao formalizar o convite a Coutinho, o presidente Lula fez menção à ''excelente'' contribuição de Fiocca à frente do BNDES. ''O presidente Lula considera que Demian realizou excelente trabalho e consolidou a instituição como um banco de desenvolvimento'', disse o porta-voz. E ressaltou que nos últimos 12 meses o banco obteve recordes de aprovação de financiamentos e desembolsos de recurso, com alta de 49% nas aprovações e 28% nos desembolsos, os quais alcançaram R$ 56,8 bilhões nos últimos 12 meses.


 


Um dos principais cargos da República


 


Com tamanho orçamento, o BNDES é uma peça-chave em um projeto nacional de desenvolvimento. Sua presidência é vista como um dos principais cargos da República.


 


No primeiro governo Lula, a presidência do Banco foi confiada inicialmente a Carlos Lessa, intelectual nacionalista ligado ao PMDB, que trabalhou para recuperar o papel do órgão como um banco de fomento, descaracterizado nas gestões anteriores. Lessa, sob fogo cerrado da mídia conservadora, caíu dois anos depois.


 


No entanto, Lula não acatou a íntegra do plano expansionista orquestrado pelos ortodoxos de seu governo, na época tendo à frente o ministro Antonio Palocci (Fazenda). Deslocou para o BNDES o então ministro do Planejamento, Mantega, que comentou a mudança como ''uma promoção'', o que dá uma idéia do poder de fogo do cargo. Quando Mantega substituiu Palocci, no ano passado, deixou no Banco o economista Demian Fiocca, alinhado com sua linha de pensamento. Agora, a escolha de Coutinho empresta ao BNDES maior visibilidade intelectual e engajamento desenvolvimentista.


 


Agora, com Coutinho à frente do banco, o rumo ''desenvolvimentista'' da instituição tende a se desenvolver. O novo presidente do BNDES tem sido interlocutor freqüente do presidente, defendendo propostas como a redução da carga tributária como uma necessidade da reaceleração do desenvolvimento nas circunstâncias do Brasil atual. Sua indicação reanima o debate sobre a adoção de uma política industrial avançada por parte do segundo governo Lula.


 


Quem é Luciano Coutinho



Professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciano Coutinho foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia entre 1985 e 1988, no governo Sarney. Atuava, nos últimos anos, como consultor na área de investimentos. Dono da LCA Consultores, ele prestou serviço a grandes empresas como Vale do Rio Doce e Ambev.


 


Apesar de não ter participado diretamente, em cargo, do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Coutinho auxiliou na construção da política econômica, graças ao seu relacionamento com integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT). O economista chegou a ser sondado para compor o ministério em 2002, mas não aceitou.


 


Autor de vários estudos na área industrial, o professor é considerado um desenvolvimentista e tem idéias afinadas com alguns dos principais economistas petistas, como a professora Maria da Conceição Tavares, o senador Aloizio Mercadante (SP) e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, era sócio de Coutinho na LCA.


 


Luciano Coutinho formou-se em economia em 1968 pela Universidade de São Paulo (USP), onde também coordenou o programa de pós-graduação de 1974 a 1979. Em 1980, foi professor visitante na Universidade do Texas. Em janeiro de 1994, na Universidade de Paris XIII, também foi professor visitante e palestrante.


 


Coutinho foi consultor do Sebrae, do Banco do Nordeste e de governos estaduais. Venceu o Prêmio Gastão Vidigal em 1967. Em 1980, recebeu, da Universidade do Texas,o título Edward L. Tinker Professor. A Unicamp concedeu-lhe a Bolsa de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz em 1996.


 


Mangabeira Unger no governo?


 


A confirmação de Coutinho como novo titular do BNDES ocorre no mesmo dia em que a imprensa divulga boatos sobre um provável convite do presidente Lula para que um outro acadêmico de renome, o professor Mangabeira Unger, integre a atual equipe ministerial. 


 


O boato sobre a possível convocação de Mangabeira ganhou ares de oficialidade no momento em que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi, nesta quarta-feira, à tribuna do Senado para elogiar a decisão do presidente Lula de convidar Luciano Coutinho para exercer a presidência do BNDES e também para saudar o suposto convite para que o professor Roberto Mangabeira Unger assuma uma nova secretaria com status ministerial a ser criada pelo governo: a Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo.


 


Suplicy acredita que Mangabeira Unger, professor titular da Universidade Harvard, irá honrar o Brasil pelos seus méritos como acadêmico e pela qualidade de suas publicações. Embora tenha estudado e vivido grande parte da vida nos Estados Unidos, o futuro secretário especial é, segundo o senador, um brasileiro profundamente interessado na realidade do país.


 


Mangabeira é fundador e vice-presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB), o mesmo do vice-presidente da República, José Alencar. Ele também coordenou o programa de governo do então candidato à Presidência Ciro Gomes, em 2002.


 


Conforme o jornal Folha de S. Paulo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) saíriam da esfera do Ministério do Planejamento para se vincular à nova Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo.


 


Apesar de considerar ''acertadíssima a escolha de Mangabeira Unger'', o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse causar surpresa o fato de se indicar para o primeiro escalão do governo Lula alguém já muito criticado pelo PT. Uma das principais críticas feita ao professor Mangabeira é sobre seu estreito relacionamento com o banqueiro Daniel Dantas, para o qual já trabalhou. ''Dantas e Unger têm uma amizade antiga, desde os tempos em que os dois eram baianos.'', brincou o jornalista Paulo Henrique Amorim em ácido comentário publicado no site Conversa Afiada. (clique aqui para ler)


 


Mangabeira não só é alvo e críticas de integrantes do governo, como também já teceu críticas severas ao governo Lula, chegando, inclusive, a propor o impeachment do presidente. ''Afirmo que o governo Lula fraudou a vontade dos brasileiros ao radicalizar o projeto que foi eleito para substituir, ameaçando a democracia com o veneno do cinismo. Ao transformar o Brasil no país continental em desenvolvimento que menos cresce, esse projeto impôs mediocridade aos que querem pujança.'', afirmou Mangabeira em artigo publicado na Folha de S. Paulo em novembro de 2005, no auge da chamada ''crise do mensalão''.


 


Da redação,
com agências