Emenda 3: Para intimidar, Serra ataca e demite grevistas

Por André Cintra e Carla Santos


Em violenta resposta contra os trabalhadores que pararam em apoio ao veto presidencial a Emenda 3, o governador de São Paulo, José Serra, voltou à truculência, criminalizando as entidades e demitindo cinco trabal

Das 4h30 às 6h30, houve paralisação nos terminais de ônibus e metrô da capital paulista. Uma manifestação conjunta foi realizada às 5 horas na estação do metrô Corinthians-Itaquera, linha da zona leste de São Paulo, responsável pelo maior fluxo de passageiros da capital. Os representantes das centrais sindicais se somaram às lideranças dos metroviários, dos motoristas e cobradores de ônibus para explicar à população que chegava às conseqüências desastrosas da emenda para a classe trabalhadora.


 


“Estamos aqui para garantir a manutenção dos direitos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), para impedir o fim da carteira assinada, do vale-transporte e de todos os direitos duramente conquistados ao longo de décadas de luta”, declarou o vice-presidente da CUT, Wagner Gomes. Segundo ele, “a amplitude do movimento que se alastrou pelo país serve de alerta para a gravidade da situação”.
 


Para Jorge Isao Hosogi, o Jorginho, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de São Paulo, a categoria parou em peso na capital porque ''não aceita essa emenda. A medida, diz Jorginho, põe “o trabalhador como refém dos patrões, sem qualquer direito, nem mesmo à indenização quando é mandado embora”.
 


Já o presidente da Força Sindical, Paulo pereira da Silva, o Paulinho, deputado federal (PDT-SP), lembrou que ''a emenda foi vetada pelo presidente Lula a pedido das centrais sindicais para garantir direitos, mas é preciso ampliar a mobilização e a vigilância para que os parlamentares mantenham o veto''.


 


Na avaliação do presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Antonio Carlos dos Reis (Salim), é fundamental esclarecer a população. “Mais do que nunca, este é o momento da unidade e da mobilização das centrais, pois o que está em jogo é os direitos históricos da classe trabalhadora.”


 


Além dos transportes, realizaram uma paralisação relâmpago os trabalhadores da unidade de manutenção e distribuição de energia Monte Santo, da multinacional norte-americana AES, no Jardim São Carlos.


 


E Serra vai ao ataque


 


Em vez de dialogar com os trabalhadores, representantes do Metrô e do governo tucano preferiram notas e declarações lacônicas à imprensa. Houve até mensagens irresponsáveis, como a do secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Luiz Portella. Segundo ele, os metroviários cortaram cabos da via, num ato de “vandalismo”, para levar à frente a paralisação.


 


Também Serra não poupou o povo de seus pontos de vista conservadores. Em pronunciamento a jornalistas, classificou as manifestações de “lamentáveis”, afirmando que a greve foi “política” e “não teve nada a ver com as condições de trabalho dessas categorias — serviu apenas aos interesses dos sindicatos”. O Metrô radicalizou ainda mais na ofensiva, ao demitir lideranças do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.


 


Acusados de impedir a operação de algumas linhas do metrô foram exonerados o vice-presidente do sindicato, Paulo Roberto Pasin; o secretário geral, Pedro Augustinelli Filho; o secretário de Esporte, Cultura e Lazer, Alex Adriano Alcazar Fernandes; o secretário de Saúde e Condições de Trabalho, Ronaldo Campos de Oliveira; e o membro do Conselho Fiscal Ciro Morais dos Santos.


 


A entidade atribuiu as demissões “ao desconhecimento, por parte do secretário e do governador, do sistema metroviário”. O sindicato também esclareceu à população as falácias do governo. Quando uma pessoa é detectada na via do Metrô, um dispositivo chamado SPAP é acionado, interrompendo a circulação de energia elétrica no local, evitando que ocorra um acidente.


 


O dispositivo está presente nas plataformas, na Sala de Supervisão Operacional (SSO) e no Centro de Controle Operacional (CCO) — e pode ser acionado por qualquer pessoa que presencie um indivíduo em perigo na via. O restabelecimento também é automático e imediato. Segundo informações do sindicato, o operador de um trem visualizou um indivíduo na via e informou ao CCO, que remotamente acionou o SPAP, desenergizando a via.


 


De acordo com a lei


 


Apesar da política oficial de criminalização dos movimentos socais,  o sindicato informou, em nota, que “os metroviários nunca fizeram sabotagens, depredaram ou praticaram qualquer modalidade de violência em suas manifestações ou paralisações. A categoria sempre decidiu suas ações de forma coletiva e democrática, e confia em seu Sindicato para organizá-la e conduzi-la com responsabilidade e prudência”.


 


A entidade também lamentou as críticas do governador e disse que vai tomar medidas para reverter as demissões. “O governo Serra tem adotado posturas cada vez mais repressivas com relação aos movimentos sociais”, acusou Wagner Fajardo, presidente da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro). “Assim como no 8 de Março, em que as manifestações do Dia da Mulher — Fora Bush foram reprimidas com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, este dia 23 de abril foi marcado pela repressão.”


 


Fajardo enfatizou que a categoria não vai “tolerar a truculência” do governo estadual. “Já estamos averiguando que medidas poderemos tomar para enfrentar a situação”. Nesta terça-feira (24), segundo o presidente da Fenametro, haverá reunião entre lideranças do sindicato e das sete centrais sindicais que mobilizaram a paralisação. “Nossa paralisação cumpriu um grande papel, paramos a cidade. A violência do Serra não vai intimidar os metroviários a intensificarem as lutas contra a Emenda 3.”


 


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