Mais de 20 mil param contra a Emenda 3 em Caxias do Sul (RS)

O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul (RS), em conjunto com outros sindicatos, parou a cidade nesta segunda-feira (23), a exemplo do dia 10, contra a Emenda 3. Várias assembléias nas portas das fábricas e  a paralisação da única empresa de tr

Com a paralisação dos ônibus deste às 5h, a cidade ficou sem transporte até as 8h30. Este movimento, aliado às manifestações nas empresas metalúrgicas, parou a cidade pela segunda vez em menos de 13 dias. O motivo da nova paralisação foi o mesmo da primeira realizada no dia 10 – em que 10 mil pessoas foram às ruas – manifestar repúdio à chamada Emenda 3 que ameaça os direitos dos trabalhadores como férias, décimo terceiro salário, fundo de garantia e outros.


 


As manifestações dos metalúrgicos tiveram início por volta das 5h da manhã em frente as principais empresas do setor. Em menos de uma hora, trabalhadores da Marcopolo (unidades Planalto, Ana Rech), Mundial, Metalcorte Motores e Agrale estavam parados em repúdio à emenda.


 


Repressão não intimidou paralisações


 


A maior mobilização aconteceu na empresa Suspensys, do grupo Randon, onde os sindicalistas foram impedidos de realizar a assembléia na frente da empresa e os trabalhadores foram forçados a entrarem na fábrica.


 


A manifestação pacífica quase chegou ao limite quando a direção do grupo Randon solicitou o reforço da PM e do Batalhão de Choque na intenção de dispersar os trabalhadores. “A única exigência que estamos fazendo é de que eles liberem os funcionários da Suspensys que foram obrigados a entrar sem o direito de dizer se queriam, ou não, permanecer do lado de fora da empresa. Enquanto eles não se unirem a nós vamos permanecer aqui sem medo, não é a polícia desse governo neoliberal que vai nos intimidar”, declarou Assis Melo.


 


Porém, a truculência e agressão dos empresários tiveram efeito oposto daquele que desejavam “Tudo estava indo dentro da normalidade até a direção da Randon, de forma arbitrária, forçar a entrada dos funcionários na tentativa de impedir que os trabalhadores ouvissem o que o sindicato tinha a dizer, mas o efeito desta atitude acabou reforçando o nosso recado e os trabalhadores em protesto pararam o dia todo nesta segunda-feira em repúdio a Emenda 3”, declarou Melo.


 


No momento em que o presidente do sindicato comandava o protesto na porta da Randon outros dirigentes sindicais mobilizaram trabalhadores em diferentes pontos. Os metalúrgicos da Mundial e Metalcorte Motores seguiram em caminhada pela BR 116, até se encontrarem com os demais. Durante o percurso homens e mulheres, indignados com a situação, gritavam palavras de ordens contra as possíveis mudanças nas leis trabalhistas que retiram direitos históricos dos trabalhadores.


 


Metalúrgicos e condutores parados


 


Em outra ponta da cidade os trabalhadores do transporte urbano, com apoio de outros vários sindicatos, paravam a única empresa de transporte coletivo da cidade. Ao invés de apenas duas horas de paralisação, conforme o previsto, os trabalhadores ampliaram a paralisação por mais três horas e meia.


 


Segundo representantes da empresa, entre as 5 e 8h20 da manhã desta segunda-feira,  deixaram de circular mais de 278 ônibus. Cerca de 600 rodoviários ficaram parados e mais de 150 mil pessoas ficaram sem transporte. Depois de uma assembléia na frente da Visate, os sindicatos que ali protestaram se juntaram aos trabalhadores da Randon em solidariedade ao abuso dos patrões.


 


O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário, Jorge Luiz Lima, disse que “a paralisação foi muito boa e que a categoria que ele representa está consciente dos prejuízos que terá com a aprovação da Emenda 3.”  Já para o coordenador da CUT/Serra, Pedro Pozenato, declarou que “a luta dos trabalhadores rodoviários é uma referência na cidade.”


 


Na metade da tarde uma comissão do movimento sindical de Caxias do Sul e Região entregou uma pauta de reivindicações na Câmara de Indústria e Comércio (CIC). Assinaram o documento mais de 20 sindicatos: metalúrgicos, comerciários, rodoviários, bancários, servidores públicos, refeições coletivas, asseio e conservação, hoteleiros, saúde, vigilantes e os trabalhadores da alimentação entre outros. 


 


Pauta de reivindicações


 


O documento entregue ao representante patronal é também uma ação nacional das centrais sindicais, trata-se da Jornada pelo Desenvolvimento com Geração de Emprego, Valorização do Trabalho e Distribuição de Renda. Consta no documento uma série de reivindicações, entre elas, 20% de aumento geral para todas as categorias, valorização do piso regional em 19,86%, como recomposição do poder de compra do piso regional e proporcionalidade do mínimo nacional.


 


A valorização do salário mínimo, contra a precarização do trabalho também foi pautada aos empresários. A coibição das práticas anti-sindicais, a garantia de direito irrestrito de greve, a liberdade de organização no local de trabalho e redução da jornada de trabalho sem redução do salário foi duramente defendida pelas lideranças sindicais durante a reunião.


 


Para Guiomar Vidor, presidente da Federação dos Comerciários do RS, a recuperação de salários é importante uma vez que na década de 80 o salário representava 45% do Produto Interno Bruto (PIB), hoje ele representa apenas 36%. “Isto significa um arrocho da massa salarial”, completa o líder sindical. Para Assis Melo “a unidade do movimento sindical representada no documento entregue aos empresários é importante porque reflete a luta de todos para enfrentar os mesmos problemas.” 


 


A pauta foi recebida pelo diretor executivo da CIC, Victor Hugo Gauer, que prometeu fazer com que as reivindicações cheguem a todos os sindicatos patronais responsáveis pelas categorias representadas.       


 


De Caxias do Sul,
Diva Andrade Rodrigues e Márcia Carvalho