Roberto responde a Ancelmo Gois
No dia 22 de abril, duas notas foram publicadas na coluna do Ancelmo Gois (jornal O Globo). Em ambas, o vereador do PCdoB/Rio, Roberto Monteiro, é citado. Leia as notas e a carta resposta enviada ao colunista.
Publicado 25/04/2007 19:35 | Editado 04/03/2020 17:06
''Vida Dura''
A Câmara de Vereadores do Rio vive estes dias um curioso clima de Flamengo e Vasco. Acredite. O vereador Roberto Monteiro, do PCdoB, vascaíno roxo, apresentou um projeto de criação do…Dia do Vasco. No que sua colega Patrícia Amorim, rubro-negra, contra-atacou com outro que cria a…Semana do Flamengo''.
''Segundo Tempo…
Já pensou se os demais vereadores cariocas, cada um torcedor de um clube, cismam de criar também o Mês do Botafogo, o Ano do Fluminense, a Década do Bangu ou o Século do São Cristóvão? Como diria o saudoso (e grande rubro-negro) Bussunda…FALA SÉRIO''.
Resposta do Vereador Roberto Monteiro:
Caro Ancelmo Gois,
Em relação às notas publicadas no último dia 22, ''Vida Dura'' e ''Segundo Tempo…'', gostaria de prestar os seguintes esclarecimentos:
1)Assumi o mandato recentemente, no dia 01 de fevereiro, na vaga de Fernando Gusmão, que se elegeu deputado estadual.
2)Neste curto período, já apresentei 07 projetos de lei, entre eles:
a) o que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos postos de combustíveis e nas lojas de conveniências instaladas no interior dos mesmos (projeto fundamental para combater o inaceitável índice de acidentes automobilísticos que vitimam principalmente os jovens);
b) o que obriga as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações de Trânsito – JARI a serem compostas por pessoas com formação jurídica (hoje o julgamento dos recursos é feito por pessoas sem formação adequada);
c) o que concede aos trabalhadores desempregados passagens mensais gratuitas durante cinco meses (muito trabalhador desempregado deixa de aproveitar oportunidades de conseguir novas colocações por não ter como se deslocar em busca de emprego);
d) o que concede aos estagiários da administração direta ou indireta do Município do Rio que tenham carga horária igual ou superior a vinte horas por semana, passagens de ida e volta ao local de estágio; entre outras iniciativas legislativas, como projetos de resolução, etc.
3)O projeto de lei de que trata sua nota não onera o poder público, pois não cria despesas e não será feriado, apenas incluí no calendário oficial da cidade que o dia 21 de agosto (data de fundação do Clube de Regatas Vasco da Gama) será o dia do Vasco e dos Vascaínos, homenagem aliás, muito justa a um clube com uma história que incluí o combate ao racismo no esporte nacional e que tantas glórias trouxe ao Rio de Janeiro e ao Brasil (se interessar leia a justificativa do projeto ao final desta mensagem).
4)Por fim, gostaria de ressaltar que iniciativas como esta do ''Dia do Vasco'' não impede de me concentrar, o que tenho feito desde o primeiro dia do mandato, nas questões candentes que atingem todos os cariocas, preocupados com temas como segurança, saúde e educação. Meu compromisso é com o cidadão do Rio de Janeiro, a quem com muito entusiasmo busco representar independente de cores e paixões clubísticas.
Um abraço do seu leitor,
Vereador Roberto Monteiro
Ps. Já existe o projeto do Dia do Fluminense e dos Tricolores, de autoria da vereadora Leila do Flamengo, inclusive com meu apoio.
Justificativa do Projeto que cria o dia do Vasco e dos Vascaínos
109 anos do clube que derrotou o racismo
No final do século XIX, quatro jovens moradores da cidade do Rio de Janeiro – Henrique Ferreira Monteiro, Luís Antônio Rodrigues, José Alexandre d`Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Júnior – decidiram fundar um clube de remo, pois não queriam mais ter que ir até Niterói, no Clube Gragoatá, para praticar o esporte. A idéia prosperou e no dia 21 de agosto de 1898, com a presença de 62 sócios, foi fundado o Club de Regatas Vasco da Gama.
O palco da fundação foi o Clube Dramático Filhos de Talma (Rua da Saúde, 293).
Muitas dificuldades tiveram os fundadores para comprar os primeiros barcos (as baleeiras Zoca, Vaidosa e Volúvel) e começar a competir.
O Vasco era um clube diferente da grande maioria das agremiações esportivas existentes no Brasil. Formado basicamente por pequenos comerciantes portugueses e brasileiros, estudantes e trabalhadores, o clube era ousadamente aberto e sem preconceitos. Tanto é assim que em 1904 o mulato Cândido José de Araújo é eleito presidente do Vasco, fato até então inédito na história dos clubes esportivos em atividade no Rio.
Quando o futebol começou a ganhar mentes e corações do povo brasileiro e carioca, na primeira década do século XX, o Vasco já era um clube respeitado, tendo conquistado cinco campeonatos estaduais de remo (1905, 1906, 1912, 1913 e 1914).
Em 1915 começa a praticar o futebol, graças à fusão com o Clube Lusitânia.
Em 1923, no primeiro ano em que disputou a divisão principal, o Vasco, com uma torcida que nascia nos subúrbios do Rio, conquistou o campeonato carioca.
Um fato então chamava a atenção. Os quatros grandes da época, Fluminense, Botafogo, Flamengo e América, só admitiam em seus times pessoas ''bem nascidas'', ou seja, brancas e com posses. Já o Vasco, honrando suas origens, escalava seu time com jogadores oriundos das peladas dos terrenos baldios e, assim, predominavam os negros e operários. Com o racismo sendo, naquela época, uma realidade ainda mais cruel do que a que ainda sem enfrenta hoje em dia, a reação não poderia deixar de acontecer.
Em 1924 a Liga Metropolitana institui uma comissão de inquérito para ''investigar as posições profissionais e sociais'' dos jogadores vascaínos. A comissão de inquérito, composta pelo rubro-negro Diocésano Ferreira, o tricolor Reis Carneiro e o americano Armando de Paula Freitas, defendeu a exclusão do Vasco com base no argumento de que o Vasco pagava jogadores para atuar em seu time, prática essa que era corriqueira em todos os times. O verdadeiro motivo da perseguição ao clube ficou claro quando, não conseguindo, de acordo com os próprios estatutos da Liga Metropolitana, expulsar o Vasco, os quatro grandes fundaram uma nova liga, denominada ''Associação Metropolitana de Esportes Atléticos''. Para aceitar o Vasco como sócio da nova entidade exigiam que o clube excluísse 12 jogadores de seus quadros. Justamente os negros e operários. A carta com a resposta do presidente do Vasco a essa exigência emociona, pela coragem de sustentar valores de igualdade, enfrentando com denodo o pedantismo racista, então reinante no meio esportivo brasileiro. Eis a íntegra:
Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr.
Obrigado (a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente
A firme resposta do Vasco foi fundamental para a verdadeira popularização do futebol.
Outra resposta foi a construção do estádio de São Januário (os quatro grandes também usavam o pretexto da falta de um estádio decente para tentar excluir o Vasco das competições) em 21 de abril de 1927.
A história da construção do estádio vascaíno – que até a inauguração do Pacaembu em 1941 foi o maior estádio do Brasil – é outra página épica, de sacrifício e abnegação, que faria quase interminável este já longo artigo, que tem a proposta de tentar resumir a formidável história do Vasco da Gama. Como seria ainda mais longo citar as inúmeras glórias e feitos do Vasco cito apenas um: o Vasco foi o primeiro time brasileiro a conquistar um título no estrangeiro, o campeonato sul-americano de 1948.
Viva o Vasco da Gama que, ainda hoje, distante daquele longínquo 1898, continua com as mesmas características: um clube com uma torcida majoritariamente concentrada nos subúrbios, mas agora não só do Rio, mas espalhada pelo país e que ostenta, com orgulho, a mais bela história de luta entre todos os clubes do Brasil.
Resposta do jornalista Ancelmo Gois:
Roberto, parabéns e um belo mandato. A cidade do Rio merece. Saudações cariocas, Ancelmo.