Sem-teto bloqueiam três rodovias em protesto contra despejo em SP

Cerca de 900 sem-teto do MTST bloquearam, na manhã desta quarta-feira (25), o acesso a São Paulo pelas rodovias Régis Bitencourt, Raposo Tavares e Castelo Branco. Acampamento em Itapecerica pode ser despejado em maio e movimento cobra acordos com poder pú

Divididos em três grupos de cerca de 350 manifestantes, sem-teto do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) fecharam simultaneamente, por volta das 10:30 h da manhã desta quarta (25), os acessos à São Paulo pelas rodovias Regis Bitencourt, Raposo Tavares e Castelo Branco. A ação durou cerca de uma hora e, segundo lideranças do MTST, foram registrados incidentes na Castelo Branco – repressão policial com bombas de gás – e na Regis Bittencourt, onde uma pessoa não identificada atirou contra os manifestantes, ferindo três com “tiros de uma 9 mm, como prova a cápsula de uma das balas que recolhemos”. Os atingidos foram levados para o hospital.



Segundo a coordenação do movimento, o principal objetivo da ação foi cobrar uma resposta do poder público para a iminência de despejo das cerca de 800 famílias do acampamento João Candido, que ocuparam uma área abandonada da Sociedade Itapecerica Golf, em Itapecerica da Serra, em meados de março. O prazo concedido pelo proprietário do imóvel para segurar uma ação policial de despejo termina em meados de maio.



No início de abril, em reunião do MTST com a Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo e o Ministério das Cidades, e posteriormente com a prefeitura de Itapecirica, foi acordado que o estado negociaria uma trégua com os proprietários do imóvel para evitar o despejo litigioso, o município indicaria uma área provisória para a remoção das famílias, e a União se responsabilizaria pela compra de um terreno e construção de moradias populares. Na época, o MTST entregou uma relação de áreas na região de Itapecerica da Serra, Embu e Taboão da Serra, passíveis de compra ou desapropriação.



“O prazo de permanência na área termina em 7 de maio e as negociações não avançaram. Não temos garantias de que o acordo sairá do papel e se tornará realidade. Desta forma, a situação caminha para um despejo sem qualquer alternativa para as famílias, e que pode ter conseqüências trágicas”, afirma nota do movimento divulgada nesta quarta.



Atendimento parcial



Procurada pela Carta Maior, a diretora de Habitação de Itapecerica da Serra, Eliná Pedro, afirmou que a prefeitura deverá encontrar uma solução apenas para os moradores do município, e, mesmo entre estes, só para os que não são beneficiários de outras políticas de habitação.



“Já temos algo em vista. Estávamos dependendo de um cadastro [dos sem-teto], que seria enviado pelos movimentos até o dia 19 de abril, e chegou por e-mail na segunda-feira, dia 23. Neste e-mail, são indicadas 653 família de Itapecirica, apontadas pelo próprio movimento portanto”. Segundo Eliná, porém, a prefeitura deve atender apenas 235 famílias, já que um levantamento do cadastro do MTST teria apontado que parte dos sem-teto não era moradora de Itapecerica e parte já estaria sendo atendida por programas de habitação da prefeitura.



“Com base nesse número [235 familias], definimos um possível terreno, de um particular, que seria alugado por três meses. A saída do acampamento, segundo acordo dos movimentos com a juíza do caso, teria um desfecho no dia 7 de maio, mas até quarta, dia 2, espero estarmos com o local definido, com endereço, contrato encaminhado e tudo mais”, diz a diretora de Habitação.



De acordo com Eliná, existiria uma dificuldade de encontrar espaços para o assentamento dos sem-teto porque a maioria das áreas públicas do município estariam ocupadas com habitações irregulares, às quais se destinam programas de habitação da prefeitura. “Até buscamos áreas públicas, o que seria mais interessante para nós e não oneraria o município, mas não foi possível”, explica.