Zulaiê abandona tucanos: ''Cadê o PSDB?''

Por André Cintra
A cobra deixou o casco, mas não abre mão do veneno. Declarando-se ''muito decepcionada'' com os caciques tucanos, a advogada criminalista Zulaiê Cobra Ribeiro se desfiliou do PSDB na terça-feira (24). Está à procura de um partido me

Os termos da separação não foram amigáveis. Zulaiê desejava que o PSDB continuasse na trilha golpista que guiou a oposição no primeiro governo Lula. Em sua opinião, o partido inverteu o rumo, tornando-se ''um tapete para o Lula pisar quando sai do Palácio (do Planalto)''. A fundadora do PSDB – e sua deputada federal mais estridente de 1995 a 2007 – é assumidamente contrária a qualquer tipo de diálogo com o governo federal.


 


''O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), se encontra com o presidente Lula e sai dizendo que a oposição tem que ser racional. Que história é essa? Vai plantar batatas'', diz a ex-parlamentar. ''O governador José Serra fica puxando o saco do Lula. O Serra gosta do PT. Cadê o PSDB? É uma vergonha.''


 


Na opinião de Zulaiê, o governador paulista é o maior símbolo destes novos tempos. ''O Mário Covas fazia mais oposição ao Fernando Henrique do que o Serra faz ao Lula'', compara. ''Quero distância do governo Serra, do (Gilberto) Kassab. Quero um partido menor onde se faça oposição.''


 


Partido rachado


 


Tratando-se de Zulaiê, essa recente esculhambação do tucanato não deve ser vista como uma surpresa. Afeita a discursos retóricos e agressivos, a advogada fez da oposição raivosa sua principal fonte de holofotes nos últimos anos. Enquanto procurava ''sangrar'' Lula até o impeachment, nada parecia constranger a deputada – nem a presença de câmaras, nem as transgressões ao decoro parlamentar.


 


A virulência lhe valeu o apelido de ''apelidada de ''Afanázio Jazadi de calças''. Em 2005, convenção para a escolha do diretório do PSDB-SP, Zulaiê chegou a chamar Lula de ''bandidão''. Por conta dessa leviandade, o PT abriu uma representação contra ela no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.


 


Na opinião de Zulaiê, o PSDB é hoje um partido rachado, e prova disso foi o desempenho do tucano Geraldo Alckmin nas eleições presidenciais de 2006: ''Por que o Geraldo perdeu milhões de votos no segundo turno? Ninguém explica. A má vontade do PSDB no segundo turno foi evidente. Por que o material de campanha não chegava?''. Nesse ponto, retornam as críticas ao governador de São Paulo. ''Parece que o Serra nunca gostou que o Geraldo tenha sido candidato.''


 


Embora sua reeleição à Câmara fosse dada como certa, Zulaiê se lançou como pré-candidata ao Senado em 2006. Na reta final, aceitou ser suplente do pefelista Guilherme Afif Domingos. ''Cinco dias antes da convenção do partido, foi feito acordo. O Serra me chamou e falou que a vaga era do Afif'', diz. ''Não saí candidata a mais um mandato porque ia sair do PSBD.''


 


Ambições


 


Com a derrota de Afif para Eduardo Suplicy (PT), Zulaiê ficou sem cargos políticos pela primeira vez em 14 anos e voltou para o escritório de advocacia. Desfiliada, não esconde que queria mais – muito mais. Revela-se abertamente magoada com a ''ingratidão'' tucana e acusa: ''O PSDB faz isso com todo mundo''. Quer se filiar a um novo partido apenas em agosto. Garante que não será o DEM (ex-PFL) – ''nem pensar'' – e diz que foi procurada por algumas siglas.


 


É possível que, fora do PSDB, ela consiga mais espaço para suas idéias fixas. Com exceção dos cargos legislativos, Zulaiê tem um currículo de ambições e derrotas. Na eleição ao governo de São Paulo em 1990, foi vice de Mário Covas, que não passou de um vexatório terceiro lugar. Um ano depois, perdeu a disputa pela presidência do PSDB-SP.


 


Com o tempo, quis o que chamou de ''o devido espaço dentro do PSDB'' – e fracassou. ''Não consegui me candidatar a cargos majoritários, ao Senado, à prefeitura de São Paulo ou ao governo de estado.'' Foi pré-candidata à Prefeitura de São Paulo (1992, 1996 e 2004) e ao Senado (2002 e 2006). ''Tinha condições de ganhar. Havia pesquisas que mostravam isso'', afirma. ''Mas sempre tive de disputar com alguém dentro do partido''.


 


Na opinião de Zulaiê, sua desfiliação inaugura uma série de deserções no PSDB. A revoada no ninho tucano começou pela cobra, que se adiantou a eventuais mudanças de foco no partido e agora ruma em busca de novo habitat.


 


Com agências