Oposição dividida ajuda governo no controle das CPIs

O governo Lula enfrenta, a partir desta semana, a primeira investigação parlamentar do segundo mandato. Mas desta vez ele estará em maioria esmagadora na CPI dos Aeroportos da Câmara (16 deputados contra 8 da oposição) e em maioria, mas escassa (7 sena

Isso significa que o potencial de desgaste do presidente é baixíssimo, senão zero. Mas não é este o único motivo da situação de quase conforto do governo no cenário político. Além de majoritário nas duas comissões, o que lhe dará o direito de indicar o presidente e o relator das CPIs, o governo se confrontará com uma oposição minoritária e dividida.
 


O Democratas (DEM), por exemplo, quer fazer muito barulho e centrar fogo na investigação de possíveis malfeitorias da estatal Infraero. O DEM acredita que existem indícios de superfaturamento e desvio de recursos para o caixa-2 eleitoral de setores do PT. Os tucanos se propõem a ir fundo nas causas do acidente da Gol, que matou 154 no ano passado, e do caos que se instalou no sistema de tráfego aéreo desde então.
 


As divergências não param por aí. Os democratas não aceitam que a superioridade numérica do governo nas CPIs lhe assegure a nomeação do presidente e do relator. O líder do DEM na Câmara, deputado Onix Lorenzoni (RS), pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir esse direito à minoria. Os tucanos acham que o melhor é seguir a regra regimental, que dá essa prerrogativa à maioria.
 


O PSDB, no entanto, se prepara para agir organizadamente. Para tanto contratou a expertise do ex-senador Antero Paes de Barros, que presidiu a CPI do Banestado e participou de outros quatro inquéritos parlamentares. O eixo do plano tucano é oferecer alternativas para o sistema de controle de vôos e não impor desgastes à imagem do governo ou do presidente da República, algo que consideram quase impossível.
 


Fórmula 1



De fato, enquanto a oposição se desentende, o governo navega em ritmo de Fórmula 1. Na semana passada, sua base aprovou todas as medidas provisórias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Câmara e nesta quinta-feira (3), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, está encarregada de anunciar o que já é realidade e o que ainda não é na execução do programa de crescimento econômico.
 


O governo não terá muito a mostrar. O PAC está devagar, quase parando. Dos R$11,5 bilhões de reais prometidos para investimentos este ano, o governo conseguiu gastar míseros 4,5%, cuja maior parte foi destinada a obras que já existiam e entraram no programa para torná-lo mais vistoso.
 


Mas esse tipo problema não assusta o Palácio do Planalto. A oposição nem percebe essas coisas, e se percebe, não sabe o que fazer delas. A ministra Dilma sequer se constrangerá em anunciar agora medidas de ajuste com o objetivo de acelerar o PAC. Será algo como o PAC do PAC.
 


Em resumo: a oposição alcançou seu objetivo e instalará as duas CPIs para investigar a crise aérea. O governo fez de tudo para evitar o inquérito porque, em princípio, governos não gostam de CPI e parecem fracos quando não conseguem impedi-las. A oposição brasileira nunca foi, porém, tão frágil e dispersa. Mas continua valendo a máxima dos políticos segundo a qual sabe-se como uma CPI começa, mas não como ela terminará.



Agência Estado