Sob o impacto da gravação, Medina se afasta do STJ

O ministro Paulo Medina pediu afastamento do  do Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesta quarta-feira (2). Acusado de integrar uma negociava sentenças judiciais em favor dos bingos, ele se afastou diante da repercussão de trechos, divulgados na vésp

As escutas feitas pela PF mostram que Paulo Medina antecipou seu voto em um processo do qual era relator, em conversa pelo celular com um colega ligado à pessoa envolvida no caso. O caso aconteceu em 1º de dezembro. Medina atendeu ligação do presidente do Conselho Deliberativo do Minas Tênis Clube, Paulo Eduardo Almeida de Mello. O jornal O Globo noticiou o teor da conversa.



''Você manda, viu?!''



Mello pergunta sobre o processo aberto contra outro diretor do Minas Tênis Clube, Fernando Furtado Ferreira, detido quando foi a outro clube e, abordado pela segurança, apresentou carteira falsa de policial. “Quando ele foi diretor da Andrade Gutierrez do Paraná, o secretário de Segurança deu (a carteira) para ele”, afirma Mello na ligação. Diz ainda que houve inquérito por uso de documento falso, o diretor foi denunciado e o Tribunal de Justiça de Minas negou habeas-corpus. O caso foi parar no STJ.



Medina, então, antecipa seu posicionamento. ''Estou sustentando uma tese de que realmente era um documento… Porte de um documento falso. Só que a falsidade, para o uso dela, tem que ser destinação… Quer dizer, se é um (documento) falso, mas ele não se apresentou como polícia… Então não há… Não há o crime.” E ainda dá um conselho a ser transmitido ao advogado do diretor: “Manda ele fazer sustentação oral, xará. Sem sustentação é meio perigoso…”



Na ligação, Mello diz que ele e Medina “são amigos há mais de 50 anos” e “é muito bom ter amizades desinteressadas e com confiança ilimitada”. No fim da conversa, o ministro diz: “Você manda! Você manda, viu? Você manda!”



No dia 10 de abril, o habeas-corpus foi concedido, por quatro votos a um, pela 6º Turma do STJ. Três dias depois, a PF deflagrou a Operação Furacão e Medina passou a ser acusado de participar de um esquema de venda de sentenças em favor de donos de bingos e caça-níqueis.



Os argumentos da defesa



O advogado de Medina, Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que não há ilegalidade na conversa com o advogado. ''Não há uma orientação ilegal, não há uma exploração de prestígio. Nesse contexto que nós estamos vivendo hoje, tudo pega uma dimensão enorme. Mas olhando sob o prisma técnico, não há ilegalidade'', afirmou.



À noite, Mello divulgou nota onde também afirma que não praticou “qualquer ato que sequer se aproxime até mesmo de mera irregularidade profissional”. Ele disse que não pediu a Medina decisão favorável no caso e só queria “esclarecer questões relativas ao processo”.



O irmão do ministro, Virgílio Medina, acha-se preso desde o dia 13 de abril, quando a deflagrou a Operação Furacão. Na ocasião, Paulo Medina pediu um primeiro afastamento, alegando razões de saúde, com duração até o próximo dia 18. Desta fez o pedido é de afastamento por tempo indeterminado, até que uma comissão de sindicância apure seu caso. Durante o afastamento, Medina continua recebendo seu salário de ministro, no valor de R$ 23,2 mil mensais.



Impacto da montanha de dinheiro



A Operação Furacão foi iniciada em 13 de abril, com a prisão de 25 pessoas. Entre elas estavam magistrados, bicheiros, policiais, empresários, advogados e organizadores do Carnaval do Rio, como o Capitão Guimarães – ex-integrante dos órgãos repressivos da ditadura nos anos de chumbo.



Medina, segundo a PF e a Procuradoria, pode ter negociado por R$ 1 milhão, por meio de seu irmão, uma liminar concedida por ele em 2006 (e depois cassada pelo STF). A liminar liberava 900 máquinas caça-níqueis apreendidas em Niterói (RJ).
A operação causou impacto na opinião pública devido às apreenções de bens dos acusados. A PF divulgou as fotos de montanhas de dinheiro vivo, além de veículos, jóias, armas, relógios e uma lancha de 41 pés, a Bandida, do advogado Evandro da Fonseca.



Também foram apreendidas 523 jóias, entre pulseiras, brincos, anéis e colares, além de 160 relógios das marcas Mont Blanc, Bulova, Rolex, Tag Heuer, Suunto e Omega. Entre os 51 veículos apreendidos havia Mercedes, Audi, Pontiac e motos Harley Davidson.



Da redação, com agências