Clodovil, ''o cruel'', terá que se explicar no Conselho de Ética 

A deputada Cida Diogo (PT-RJ) anunciou hoje que vai entrar com duas representações contra o deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP). Uma delas, vai tratar da agressão verbal que a deputada diz ter sofrido ontem em plenário. Segunda ela, Clodovil teria dito:

Em pouco mais de três meses de mandato, o deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP) já é alvo pela terceira vez de processo na corregedoria da Câmara. Todos por declarações polêmicas que têm caracterizado as ações do estilista e apresentador de TV que se tornou parlamentar com 500 mil votos sem nenhuma história política, como ele mesmo ressalta.


 



Hoje, a deputada Cida Diogo (PT-RJ) protocolou representação contra Clodovil, com o apoio de cem parlamentares, por ele ter afirmado em seu programa de TV, há 15 dias, que ''as mulheres hoje em dia trabalham deitadas e descansam em pé''.


 



A última desavença entre Clodovil e Cida – que chorou ao ser chamada de ''feia'' pelo colega -, na quarta-feira, poderá resultar em censura verbal ou escrita. Cida recebeu flores hoje e foi escolhida coordenadora da Frente Parlamentar GLBT – Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) pediu a expulsão de Clodovil da frente. Ele, que é assumidamente homossexual, diz que não integra essa frente.


 



''Ele é extremamente insensível, arrogante e não tem respeito por nada. Ele se sente o centro do mundo e o que está em torno dele é só cenário'', afirmou Cida. Ela disse que se arrependeu de ter chorado no plenário – ''tenho ódio quando choro em público'' -, mas que foi uma reação impulsiva. ''Não pensei em nada. A indignação foi tão grande que não conseguia parar de chorar e tive uma atitude de pedir ajuda.''


 



Segundo a deputada, Clodovil Hernandes a teria procurado por meio de uma assessora para conversar sobre a primeira representação. Cida Diogo explicou que considerava suficiente uma retratação pública do deputado em relação àquelas declarações. Conforme o relato da parlamentar, ela teria sido ofendida por Clodovil nessa conversa. ''Ele disse que as mulheres ficaram ordinárias, vulgares, cheias de silicone, que trabalham deitadas e descansam em pé, mas que ele tinha se dirigido apenas às mulheres bonitas e que até as (''p''…) precisavam ser bonitas para ganhar dinheiro e como eu era feia nem para (''p''…) eu servia''.


 



Clodovil nega ter atacado a colega.''Essa coitada é manipulada pelo partido dela'', disse Clodovil, que reconhece ter sido cruel, mas não pretende se retratar. ''Eu fui muito antipático, mas falei distanciadamente. Foi horrível, eu sei. Sei que fui cruel, mas cruel falando. Só isso. Não a agredi. Olhe para minha cara. Você acha que combina com a minha figura dizer um palavrão desse tamanho dentro da Casa que eu respeito?''


 



''Digamos que eu tivesse dito a palavra para você. O que você faria? Me dava um tapa na cara. Agora, sair correndo fazendo cena, a única pessoa privilegiada no assunto sou eu. Ela conseguiu fazer com que eu fosse visto'', avaliou Clodovil.


 



Na versão do deputado, ele procurou Cida para se explicar: ''Eu disse que as mulheres estão ordinárias, não têm mais respeito por elas mesmas. Isso é plural. Agora, se a pessoa vestiu a carapuça, vestiu porque quis. Se ela fosse uma mulher bonita poderia se sentir vilipendiada porque isso induz a esse tipo de raciocínio. Mas o seu caso é exatamente o oposto.'' ''Nem cheguei a dizer que era feia. Agora é evidente que estava dizendo isso no subtexto. Eu não tenho o direito de achar uma pessoa feia ou bonita?''


 


Ministra condena declaração


 


A ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, encaminhou hoje um ofício ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), condenando a atitude do deputado Clodovil.


 


A ministra pede que Chinaglia encontre um caminho “enérgico” para repelir a atitude discriminatória praticada por um parlamentar.


 


Em entrevista à Agência Brasil, a ministra disse que a atitude de Clodovil foi desrespeitosa e ofensiva a todas as brasileiras. “Não podíamos deixar de nos manifestar pela forma como ele manifesta o seu desprezo por 51% da população brasileira. Nos manifestamos ao presidente da Câmara dos Deputados, não só a Secretaria como o Conselho Nacional de Direitos da Mulher, que também está se manifestando”.


 


Questionada se a atitude do deputado pode ser enquadrada como quebra de decoro parlamentar, Nicéa disse que ele quebrou o decoro de cidadão.


 


Sanções possíveis


 


A corregedoria da Câmara propôs o arquivamento dos dois primeiros processos com o argumento de que os fatos ocorreram quando ele ainda não tinha sido diplomado deputado. O primeiro é referente a declaração de que poderia apoiar projeto mediante pagamento e o segundo trata de suposta ofensa aos judeus. 


 



A representação será encaminhada à Corregedoria da Câmara para exame. Se ela considerar que há fundamento, dará seguimento; se não, devolverá a representação ao presidente para arquivamento. Se a Corregedoria avaliar que há elementos, instalará uma sindicância.


 


Concluída a sindicância, o corregedor encaminhará seu parecer à presidência. Se o parecer reconhecer que as acusações contra o parlamentar procedem, quatro tipos de punição poderão ser propostas: censura verbal; censura escrita; suspensão de prerrogativas parlamentares; ou perda de mandato.


 



A censura verbal pode ser aplicada pelo próprio presidente da Câmara. A censura escrita deve ser aplicada pela Mesa. Já a suspensão de prerrogativas e a perda do mandato precisam ser encaminhadas ao Conselho de Ética, encarregado de abrir um processo administrativo contra o deputado.


 


O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou que vai aguardar o encaminhamento das representações pela Mesa Diretora. Izar lembrou que o conselho aplica outras sanções além da cassação de mandato, como a advertência e a suspensão do parlamentar. Mesmo assim, o deputado ponderou que o caso deve ser apurado.


 


Da redação,
com agências