Prólogo inédito de Neruda traz elogios à URSS de Stálin

“A União Soviética, apesar da matilha cada vez mais ameaçadora em seus latidos, continua sendo para nossos povos o baluarte da paz e da criação”. A conclusão, elaborada nos anos 50, é do poeta chileno Pablo Neruda – e está presente num prólogo inédito par

O pequeno texto foi divulgado na quinta-feira (17) no site da Casa da América. Neruda elogia uma União Soviética que, à época, vivia sob o governo de Josef Stálin. O prólogo, no entanto, não chegou a ser publicado por uma desavença entre os dois autores latino-americanos. Agora, acabou “cedido pela Biblioteca César Brañas da Guatemala para sua difusão exclusiva pela Casa de América”.


 


Além de exaltar o regime soviético, o poeta – autor de Os Versos do Capitão e vencedor do Nobel de Literatura – destaca a atuação da esquerda na América Latina. Ao mesmo tempo, ataca as ingerências norte-americanas na região. “Durante 40 anos, os 'libertadores' dos Estados Unidos andam dando tiros carinhosos nos centro-americanos, até que neles vencesse a 'democracia ocidental'”, diz o texto.


 


Antes da briga entre ele e Cardoza y Aragón, o escritor chileno não hesita em afirmar que Retorno al Futuro é “o livro de um verdadeiro e alto escritor e de um homem honrado, por isso é relegado ao silêncio”. A obra foi publicada por uma pequena editora israelense em 1950


 


Vivências sob o socialismo


 


Segundo o prólogo de Neruda, Retorno al Futuro é um “canto e uma defesa da grande nação que amamos (a soviética). Terá, por isso e pela clarividência iluminada de seu autor, longa vida e um eco sonoro, apesar do silêncio que não pode apagar seu canto”.


 


A obra conta as reflexões e experiências de Cardoza y Aragón com o regime soviético durante sua permanência em Moscou. Foi nesta capital que, em 1946, ele assumiu como embaixador do governo revolucionário do presidente guatemalteco Juan José Arévalo (1945-1951)


 


Neruda e Cardoza y Aragón se conheceram no México quando o primeiro foi cônsul-geral do Chile e o segundo estava exilado. Na época, o chileno aceitou escrever o prólogo da segunda edição do livro do poeta guatemalteco, que nunca chegou a se concretizar.


 


Por não concordar com a crítica de Cardoza y Aragón ao sistema comunista após a queda do governo de Jacobo Arbenz (1951-1954), Neruda retiraria posteriormente a autorização para o uso do seu prólogo.