Sem rival à esquerda, Brown é o herdeiro oficial de Blair

''Estou realmente honrado pelo apoio de meus colegas, sinal de um partido realmente unido'', disse o futuro primeiro ministro do Reino Unido, Gordon Brown, ao garantir a condição de sucessor de Tony Blair, que anunciou sua renúncia, no próximo dia 27 de j

Desde o dia 10 passado, quando Blair anunciou sua intenção de deixar o governo no início do verão europeu, Gordon Brown se esforçou para corrigir sua imagem negativa. Agora trata de por em evidência uma personalidade profunda que faz sombra a todos.



Em busca do carisma que falta



Pouco carismático? Ei-lo brincando com crianças. Cerebral demais? Já participou de inúmeros programas de entrevistas amados pelas donas-de-casa. Antieuropeu? Ele – que com freqüência tratou as reuniões com ministros do continente como uma necessidade incômoda mais do que uma oportunidade de forjar alianças – agora apela à maior colaboração entre os diferentes parceiros da União Européia, especialmente na luta contra o aquecimento global. Autoritário? Seu governo será mais colegiado, menos obcecado com a manipulação midiática, é o que promete o sucessor assumido.


O certo é que Gordon Brown chegará ao ''Number Ten '' (''Número Dez'' da Rua Downing, endereço e também apelido da residência do chefe de governo britânico) com maior liberdade de ação, sem ser obrigado a fazer todas as promessas que talvez tivesse que fazer caso devesse enfrentar uma real competição pela direção do partido. O Labour Party se apresenta como uma frente coesa.



Erosão de uma supremacia



Quer consiga melhorar sua imagem, quer não, a tarefa de Brown se anuncia duríssima. O futuro chefe de governo não pode renegar a herança de Blair, pois ela é igualmente a sua. As recentes eleições locais e regionais na Escócia demonstraram, embora a derrota tenha sido menos grave que o previsto, que a erosão da atual maioria é real. Apesar do respiro criado pelo anúncio da data da retirada do atual primeiro ministro, os conservadores continuam a suplantar consideravelmente o Labour nas pesquisas. A renegociação do Tratado Constitucional Europeu, que o novo primeiro ministro herdará depois do conselho ministerial de junho, encarregado de fixar uma agenda, será um teste difícil para Gordon dada a impopularidade da União Européia no Reino Unido, que permanece.



Todos os olhares se voltam agora para a disputa pelo posto número dois do Partido Trabalhista, cujo ocupante será também  vice-primeiro ministro. Alan Johnson, o popular ministro da Educação, é o favorito nas apostas, entre cinco pretendentes que estão no páreo.



Há especulações também sobre o restante dos nomes que irão compor o governo Brown. Os nomes mais citados para ministérios estratégicos são: Jack Straw ou Alastair Darling nas Finanças e David Miliband nas Relações Exteriores. A retirada de muitos integrantes do círculo íntimo de Blair – John Reid e John Prescott – facilitará a tarefa. Ministros blairistas como Lord Falconer ou Patricia Hewitt não devem ter assento no próximo gabinete.



Com Marc Roche, no Le Monde