AL: Telefônica tenta conter expansão de magnata mexicano dos celulares

A obsessão da multinacional espanhola é impedir o avanço do concorrente Carlos Slim, o bilionário mexicano que controla a América Móvil e a Telmex, operadores de telefonia móvel e fixa que há vários anos disputa com a Telefônica o domínio n

 



por Jonathan Wheatley*



Quando a Telefônica da Espanha pagou 2,3 bilhões de euros (US$ 3,1 bilhões) para integrar um consórcio que assumiu o controle da Telecom Itália no mês passado, havia pouca dúvida no setor de que o foco das atenções da companhia não era o seu mercado doméstico na Europa, mas sim uma batalha travada no outro lado do Oceano Atlântico, na América Latina.



“A Telefônica pagou por uma cláusula em um contrato que impede a Telecom Itália de vender os seus bens a uma empresa concorrente”, explica Samuel Possebon, do Teletime, um website e revista sobre a indústria de telecomunicações.



Esse concorrente é Carlos Slim, o bilionário mexicano que controla a América Móvil e a Telmex, operadores de telefonia móvel e fixa que há vários anos disputa com a Telefônica o domínio na região.



No mundo desenvolvido a telefonia fixa atingiu a maturidade e o crescimento dos mercados de telefones celulares está sofrendo uma desaceleração. Mas tal crescimento ainda é forte nos mercados emergentes, e o Brasil não é uma exceção.



Unidades controladas integral ou parcialmente pela Telefônica (Vivo), América Móvil (Claro) e Telecom Itália (TIM) dividem três quartos daquele que já é o quinto maior mercado de telefonia celular do mundo.



A Telefônica diz que deseja fechar um acordo operacional com a Telecom Itália. Caso tenha sucesso, a empresa saltará para o topo do mercado no Brasil, ganhando dimensão, sinergia e poder de compra adicionais suficientes para anunciar uma vitória decisiva sobre Slim.



Mas para fazer tal coisa a companhia teria que vencer obstáculos aparentemente insuperáveis. Em ocasiões anteriores as regulamentadoras brasileiras rejeitaram acordos de menor magnitude. Quando a Telecom Itália, no decorrer de uma disputa bizantina com co-investidores, se viu controlando mais companhias do que as regulamentações permitiam, a empresa foi obrigada a colocar a sua parcela de controle acionário da Brasil Telecom, uma grande operadora de telefonia fixa e móvel, em uma conta caução e a se retirar da direção administrativa. Um bloco conjunto formado pela Vivo e pela TIM teria um domínio muito mais amplo sobre o mercado.



A Telefônica precisa também resolver questões referentes à Vivo, cujo controle acionário ela divide com a Portugal Telecom. No início desta semana a empresa reiterou a sua determinação de assumir controle pleno sobre a operadora. Mas a Vivo é a principal fonte de crescimento de rendas da Portugal Telecom, e os portugueses têm exibido poucos sinais de que vão ceder. A Telefônica poderia vender a sua parcela acionária, mas a quem?



“Quem desejaria comprar metade de uma operadora para ter que compartilhar o controle desta com parceiros teimosos que não têm nenhuma intenção de fazer favores a ninguém?”, questiona Thomas Abreu, da Pyramid Research, uma empresa de consultoria da área de telecomunicações com sede em Boston.



No entanto, qualquer que seja o desfecho dessa história, a Telefônica demonstrou que está determinada. “O principal benefício do negócio foi o fato de eles terem enfiado os dedos nos olhos da América Móvil e da Telmex”, afirma Abreu. “A América Latina se constitui em fonte de uma importante fatia dos lucros da Telefônica, e foi ali que eles traçaram a linha de tolerância”.



Se a peleja é complexa, o campo de batalha também o é. Durante a onda de privatizações em 1998, o mercado brasileiro de telefonia celular foi dividido em dez regiões, cada um com quatro licenças separadas. Desde então o mercado se consolidou, mas ainda assim restaram de três a seis operadoras competindo em cada região. A Vivo, a Claro e a TIM dominam, mas duas operadoras locais – a Oi, controlada pela operadora de telefonia fixa Telemar, e a BrT Celular, da Brasil Telecom – estão ganhando terreno.



Os usuários de celulares pré-pagos correspondem a 80% do mercado total de telefonia móvel, já que a riqueza do país está concentrada nas mãos de uma pequena porcentagem da população brasileira. De fato, muitos usuários de telefones celulares jamais fazem uma ligação e só usam os aparelhos para receberem chamadas.



As guerras de preços também tiveram um papel na luta por fatias de mercado. Os números de telefones celulares não podem ainda ser transferidos de uma rede para outra. E entre as operadoras é alto o índice de táticas no sentido de conquistar os clientes das rivais.



Desde o ano passado, as operadoras declararam uma trégua e passaram a se concentrar em serviços com maior margem de lucro – basicamente assinantes de telefones pós-pagos que são alvos dos programas que envolvem lealdade à uma determinada empresa, mas também serviços de mensagens de textos e outros.



Muitas deixaram de fornecer aparelhos para clientes interessados em serviço pré-pago, passando, em vez disso, a vender apenas cartões SIM. A Pyramid Research diz que 50% das vendas de telefones celulares são feitas atualmente por supermercados e outros estabelecimentos do gênero, 30% por lojas e apenas 20% pelas próprias operadoras.



As margens de lucros são apertadas e muitas operadoras ainda não recuperaram o capital investido. Mas atualmente a maioria delas é lucrativa, e as perspectivas de crescimento – especialmente se o Brasil conseguir aumentar o seu crescimento econômico, que no ano passado foi de mirrados 3% – estão entre as mais atraentes do mundo. Nesta guerra os espanhóis e os mexicanos têm tudo pelo que lutar.



*Mark Mulligan, em Madri, contribuiu para esta matéria



Fonte: Financial Times / Tradução: UOL