Independent: Complô secreto dos EUA para matar al-Sadr

O exército dos Estados Unidos tentou matar ou prender Muqtada al-Sadr, o clérigo seguido por muitos xiitas iraquianos, afirma o diário britânico The Independent em manchete de capa desta segunda-feira (21). Patrick Cockburn, correspondente do jor

''A revelação deste extraordinário complô, que caso tivesse se efetivado provavelmente teria provocado uma insurreição de xiitas indignados, deixou um saldo de amarga desconfiança na mente de Sadr, pela qual os EUA e seus aliados no Iraque ainda estão pagando'', diz a matéria exclusiva.



As revelações de Mowaffaq Rubai



''Creio que este incidente específico fez Muqtada perder qualquer confiança na coalizão [liderada pelo Pentágono] e tornou-o realmente esquivo'', afirmou ao Independent Mowaffaq Rubai, assessor de segurança nacional do governo de Bagdá.
O jornal não descobriu quem deu a ordem de tramar o complô. Mas classifica-a em ''uma série de ações imprudentes e politicamente explosivas dos EUA no Iraque desde a invasão''.



A matéria cita outras trapalhadas americanas durante a ocupação. A tentativa de seqüestro de dois altos funcionários dos serviços de segurança do Irã, em visita ao presidente iraquiano. E o menosprezo pelas conseqüências da dissolução do exército iraquiano e do partido Baath.



Uma isca para atrair o líder xiita



''A tentativa de assassinato ou seqüestro ocorreu há dois anos e meio, em agosto de 2004, quando al Sadr e sua milícia, o Exército do Mahdi, estavam cercados pelos marines dos EUA em Najaf, ao sul de Bagdá. Rubai acredita que os seus esforços como mediador – transmitidos em detalhes à embaixada dos EUA, ao comando militar americano e ao governo de Bagdá – foram usados como uma sofisticada isca para atrair o líder xiita ao lugar da armadilha'', diz Cockburn.



''Al Sadr escapou com vida, no último momento, mas o incidente ajuda a explicar por que ele desapareceu de vista no Iraque, enquanto o presidente George W. Bush iniciava sua confrontação com ele e sua milícia, o Exército do Mahdi, em janeiro seguinte''.



''Conheço-o muito bem e penso que sua suspeita e desconfiança no que diz respeito à coalizão e a qualquer estrangeiro está realmente enraizada'', afirma Rubai, relacionando-a com o que aconteceu em Najaf. Depois do complô, Sadr passou a refugiar-se no santuário do imã Ali, na mesma cidade.



Rubai encontrou-se com Sadr em uma tentativa de fazer com que cessassem os combates. Diz que o líder xiita concordou em indicar condições para encerrar a crise e ''na verdade assinou o acordo de seu próprio punho'', dizendo que ''queremos que a parte interna de Najaf, a cidade velha, em torno do santuário, seja tratada como o Vaticano''.



''O ataque se adiantou por uns poucos minutos''



O emissário foi a Bagdá e mostrou o documento ao então primeiro ministro, Mohammed Sadiq. Então voltou a Najaf para chegar a um acordo final. Ficou acertado que o último encontro aconteceria em uma casa da cidade santa, que fora a residência de Mohammed Sadiq al-Sadr, pai do líder xiita.



Rubai e outros mediadores partiram para o local combinado para o encontro. Mas quando se aproximavam viram os marines, assim como as Forças Especiais dos EUA abrirem intenso fogo contra a casa.



''O ataque se adiantou por uns poucos minutos. Al Sadr não estava na residência, e tratou de escapar'', diz o Independent.



Rubai é apresentado pelo jornal britânico como um antigo membro do Conselho de Governo do Iraque, empossado pelos ocupantes, ''intimamente associado com as autoridades americanas em Bagdá''. Diz porém que ele ''não tem dúvida'' sobre o que aconteceu.



''Ele vê as negociações como parte de um engodo para atrair al Sadr, normalmente muito cauteloso quanto à sua própria segurança, para uma casa onde poderia ser eliminado'', diz o jornal.



Líder na favela que é 1/3 de Bagdá



O jovem líder dos xiitas de Bagdá projetou-se na época da deposição de Saddam Hussein, em 2003. Pôs-se à frente do movimento sadrista, fundado por seu pai, também um religioso, que se opôs a Hussein nos anos 90 e foi morto por agentes do governo em 1999. ''Sua mistura de nacionalismo, religião e populismo provou ser bastante atraente para os xiitas iraquianos, em especial os muito pobres'', diz a matéria. A base principal do movimento é descrita como ''a vasta favela xiita rebatizada Sadr City, onde mora um terço da população de Bagdá''.



''As autoridades dos EUA parecem ter uma compreensão reduzida sobre a reverência com que a família Sadr é vista por muitos xiitas iraquianos'', agrega.



O Independent menciona que em 2004 ocorreram duas tentativas de deter o movimento sadrista, ''nenhuma delas exitosa''. Um mandato de prisão contra Sadr chegou a ser emitido e um general americano disse que ''as alternativas eram matá-lo ou capturá-lo''. E recorda a reação xiita, para a qual ''os EUA não estavam preparados''. ''O Exército do Mahdi, mesmo mal armado e mal treinado, tomou parte de Bagdá e muitas cidades e vilarejos xiitas do sul do Iraque''.



O jornal observa que al Sadr ''tornou-se menos antagonista'' mais recentemente. Participou das eleições de 2005, fazendo 32 deputados num total de 275. ''Os EUA começaram a hostilizar crescentemente os sadristas. Mas eles eram um apoio essencial para o governo iraquiano, o que dificultava a ação americana. Quando as reforçadas tropas dos EUA ameaçavam o Exército do Mahdi, Muqtada simplesmente mandava seus milicianos para casa, e desaparecia'', descreve o jornal.



Com http://news.independent.co.uk