UJS revela segredo para a vitória nos congressos da UNE

Fundada em 22 de setembro de 1.984 a União da Juventude Socialista (UJS) lidera o movimento “Eu quero é botar meu bloco na rua” ao 50º Congresso da UNE (Conune), a se realizar de 4 a 8 de julho na cidade de Brasília (DF). Há pelo menos 16 anos a UJS está

Por quê a UJS propôs alterar os critérios de eleição de delgados ao congresso da UNE, já que há 17 anos a entidade elege o presidente da entidade com os atuais critérios?


 


Gavião: Nós sugerimos mudar o processo de eleição de delegados por curso para eleição por universidade por entendermos que a UNE está num novo momento da sua história. Esse novo momento precisa ser mais vivido pelo conjunto da universidade e o congresso é um excelente espaço para isso.


 


Antes o processo de eleição do delegado ao congresso, em sua grande maioria, não acontecia de maneira pública. Muitas vezes a universidade nem aos menos sabia quem eram os seus representantes. Agora está sendo diferente já que em todas as universidades os estudantes votam diretamente nos seus representantes. A participação no processo é muito maior e com isso o congresso ficou bem mais público. Com este novo modelo o congresso da UNE ganhou muito e aprovará bandeiras de lutas que refletem mais o conjunto dos anseios de toda a universidade.


 


Outra questão importante é que os estudantes votarão em chapas e não em pessoas. Nós optamos por defender esta proposta porque a base da eleição é pautada em idéias, teses e propostas. Em última instância, podemos dizer que defendemos mudar o processo de eleição de delegados porque o movimento estudantil de hoje não é mais o mesmo dos anos 80 e a UNE não pode ficar parada no tempo, precisa acompanhar as mudanças que o mundo e o Brasil viveram nas últimas décadas.


 


Na sua opinião, o que faz com que a maioria dos estudantes não acompanhe o que as entidades estudantis fazem?



 


Gavião: A juventude de hoje sofre com a influência neoliberal. Os valores do individualismo, da competitividade, do consumismo, entre outras questões, formam o bombardeio ideológico que torna tudo muito mais difícil. Para mim, fazer movimento estudantil hoje é muito mais difícil do que nos anos 60. O ambiente político no mundo impõe muito mais dificuldades do que em outros tempos. Você pode não ter um fuzil apontado para a sua cara, mas tem propaganda neoliberal bombardeando na televisão, no rádio, na rua, na relação entre as pessoas.


 


Agora, a UNE tem jogado um grande papel. Se você parar para ver vai perceber que a UNE foi à entidade responsável por conter um processo político em 2005 que tinha como alvo o impeachment de Lula. No momento em que os setores mais conservadores do Brasil, se aproveitando de uma crise política fundada em denúncias de corrupção, buscaram golpear o projeto popular e democrático que as urnas elegeram os estudantes se mobilizaram. Mas as entidades não foram às ruas apenas para defender o projeto eleito pelo voto popular, elas pautaram a necessidade de uma ampla reforma política que radicalizasse a democracia no país. Dois anos depois o debate voltou com força e a UNE, desde lá, vem debatendo com os mais amplos setores da sociedade esta questão da reforma política.


 


A UNE se tornou o principal instrumento político da juventude no país. A entidade é chamada a dar opinião sobre tudo que acontece, ela é meio que uma porta voz da sociedade, tão importante quanto a CUT ou o MST.


 


Como você vê a juventude de hoje?


 


Gavião: A juventude brasileira hoje tem grandes responsabilidades sobre a sua cabeça. Nesse momento da história a principal tarefa é iniciar um processo de maior participação nas questões políticas.


 


Não faltam motivos para que a turma se sinta à vontade na hora de se engajar. Estamos num processo que pode levar a uma reforma da Previdência em que teremos que trabalhar talvez até 10 anos a mais que nossos pais para nos aposentarmos com um salário menor do que eles recebem hoje de aposentadoria. O país em que vivemos ainda está longe de ser aquele com o qual sonhamos.


 


Por outro lado, também estamos vivendo num cenário de maior abertura democrática, com maior espaço para o diálogo e a luta. Esse momento precisa ser aproveitado para que ampliemos as nossas vitórias. Lutas como a redução da jornada de trabalho, por exemplo, tem mais espaço hoje do que em outros momentos. Precisamos aproveitar tudo isso para pressionar o Estado a desenvolver todo o potencial que ele pode nos oferecer.


 


Qual é o desafio da UJS?


 


Gavião: Nos marcos de todas essas possibilidades é preciso elevar a luta para que todo jovem tenha cesso ao emprego, à cultura, ao lazer, ao esporte, à educação, ao transporte, etc, etc…O nosso desafio é elevar a capacidade de intervenção política da juventude na sociedade. Buscar uma maior conscientização sobre o que está acontecendo, é esse elemento que vai possibilitar uma maior mobilização para que conquistemos vitórias concretas no nosso tempo.


 


Essa questão do emprego para a juventude é muito preocupante, imagine que, segundo pesquisas recentes, a cada dois desempregados no Brasil, um é jovem com até 24 anos. O emprego continua sendo, como foi na década de 90, a nossa maior preocupação. Agora, não é possível resolver o problema do desemprego sem crescimento econômico. As atuais taxas de juro e as metas do superávit primário são verdadeiros empecilhos ao crescimento que pode alterar concretamente os índices de desemprego. Porém, não basta o crescimento da economia como um todo para resolver este problema na juventude, para esta parcela específica é preciso ter medidas específicas para a geração de empregos. O governo federal não tem apresentado estas medidas satisfatoriamente nos últimos anos.


 


Além do emprego, tem o problema da Previdência. A UJS não vai se calar diante do que está sendo proposto e está lançando a campanha “Nenhum direito a menos que meus pais”. Não podemos admitir que uma reforma da Previdência seja feita para retroceder no tempo e dar condições piores de vida para os que estão no mercado de trabalho hoje do que aqueles que estiveram ontem. Se as coisas não mudarem, eu pergunto, qual é o futuro para a jovem hoje?


 


Qual é o segredo da UJS para ganhar os congressos da UNE?


 


Gavião: O nosso segredo em primeiro lugar é acertar na política. A UJS é uma entidade que tem uma responsabilidade para com a UNE muito grande. Tratamos a entidade com muito carinho e atenção no cotidiano do conjunto da nossa militância.


 


A escolha do nosso movimento ao 50º Congresso da UNE, “Eu quero é botar meu bloco na rua”, revela essa política acertada que defendemos. Isso porque acreditamos que neste momento o desafio da entidade deve ser mobilizar os estudantes para alterar o cenário das universidades e do nosso país para melhor. Para nós, jovens socialistas, o saldo dos oito anos de governo Lula não pode ser uma soma de políticas compensatórias, é preciso avançar. O governo precisa consolidar um projeto político para o Brasil que venha de fato a gerar mais empregos e investimentos pesados nas médias e pequenas empresas. O mais importante não deve ser o pagamento de juros de dívidas internas ou externas. O governo precisa escolher o capital produtivo no lugar do especulativo para o Brasil mudar a sua cara.


 


Queremos, para os próximos anos, uma UNE muito mais protagonista, que ao lado de entidades importantes como a CUT, o MST e a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), desenvolva grandes lutas no país.


 


A questão da reforma Política é uma destas lutas e ela não pode se resumir apenas a apurar denúncias de corrupção. É preciso fortalecer os partidos políticos. A gente sabe que muita gente se elege mais para atrapalhar do que para ajudar o Congresso Nacional, o Clodovil é um exemplo de desserviço ao Congresso. Para evitar fenômenos como o Clodovil é o caminho não é a dissolução de partidos, mas sim o fortalecimento destas instituições. Questões como voto em lista fechada, a oficialização de plebiscitos e consultas também representa boas pistas para uma boa reforma Política.


 


Defendemos que a UNE tenha um papel destacado neste debate, dando conseqüência para uma bandeira histórica que a entidade apresenta à sociedade. O verdadeiro absurdo são estes juízes envolvidos na Operação Furacão que continuam livres. O sistema político está muito corrompido, é preciso ter uma atitude forte no combate a coisas deste tipo, a reforma Política pode ser uma resposta à altura dos problemas que enfrentamos hoje no sistema democrático do país.


 


Além da nossa política, acredito que há outro elemento no segredo da UJS para as suas vitórias nos congressos da UNE, é o cumprimento das metas estaduais de eleições de delegados. Quando um estado está cumprindo a sua meta de eleições de delegados não está apenas contribuindo para uma meta nacional, está garantindo a vitória de toda a UJS no congresso. Se cada estado cumpre a sua meta para o congresso é impossível a UJS perder a presidência da UNE. Agora, para cumprir as metas, ainda mais dentro deste novo congresso, é preciso muita disposição, energia e, sobretudo, política afinada, coletiva, concatenada com que o acontece dentro e fora de cada universidade deste país.