Apoio a Renan revela atitude de autopreservação do Senado

O aguardado pronunciamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), provocou um resultado incomum: uma fila de senadores da oposição e da base aliada do governo se formou para cumprimentar o senador que acabara de se defender de acusações fe

Líderes da base aliada e da oposição elogiaram o pronunciamento feito na tarde desta segunda-feira pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Muitos consideraram que ele foi rápido, convincente e apresentou provas documentais.


 


Ao terminar o discurso de 23 minutos (leia a íntegra aqui), Renan foi aplaudido e recebeu os cumprimentos de praticamente todos os senadores presentes.


 


Além de senadores, o discurso de Renan foi acompanhado por aliados da Câmara, como o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder do partido na Casa, Henrique Alves (RN), além do ministro das Comunicações, o senador licenciado Hélio Costa (PMDB-MG).


 


Tamanha manifestação de solidariedade não é comum no parlamento brasileiro. Basta lembrar o triste episódio que arrancou da presidência da Câmara o então deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).


 


Senado preservado


 


''Ele foi rápido, convincente, exibiu documentos e continua a merecer minha confiança'', afirmou o líder do DEM, senador José Agripino (RN), que disputou a presidência do Senado com Calheiros no início da atual legislatura.


 


''O discurso foi bom, conciso e tocou nos pontos fundamentais'', completou o senador Heráclito Fortes. O senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) disse que sua primeira impressão foi muito boa. ''Acho que não é caso para o conselho de ética, embora, evidentemente, tenhamos que esperar para ver se surge uma ou outra coisa''. O líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), também considerou que os esclarecimentos de Renan ''conseguiram desmontar as acusações''. Raupp defende a tese de que não há razão para levar a questão ao conselho de ética e disse que defenderá junto à bancada do PMDB o encerramento do assunto.


 


O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), acrescentou que teve a oportunidade de examinar os documentos entregues por Renan à mesa do Senado. Jucá está convencido de que os documentos comprovam que Renan Calheiros tem renda pessoal para pagar a pensão e os valores à jornalista Mônica Velloso.


 


O senador Romeu Tuma (DEM-SP) considerou positivo para o presidente do Senado o fato de ter embasado seu pronunciamento em documentos. ''Acho que ele baseou praticamente todo o seu depoimento em documentos, todas as acusações, inclusive a publicação, hoje, feita por um jornal de terrenos que ele teria omitido na declaração [de Imposto de Renda]. Ele trouxe a prova material do registro do cartório e da declaração do imposto de renda''.



Caberá a Tuma, como corregedor, encaminhar as conclusões das investigações ao Conselho de Ética do Senado, que analisará a necessidade ou não de abertura de processo contra Renan Calheiros.


 


Mas quem resumiu de forma mais clara a percepção da Casa em relação ao discurso do senador foi a líder do bloco governista (PT-PC-doB-PP-PR-PTB), senadora Ideli Salvatti (PT-SC). ''Ao acusador cabe o ônus da prova'', ''Nenhum órgão de imprensa pode acusar algo tão grave, que tem uma incidência inclusive na institucionalidade. Não foi qualquer coisa que aconteceu nesta sessão. Ficou bastante claro que é uma reportagem que poderia criar uma crise institucional. E faz isso sem apresentar nenhum documento?'', questionou.''Acho que (agora,m depois do discurso de Renan Calheiros) temos uma situação de estabilidade no Senado'', concluiu a senadora.


 


É justamente o temor de que ocorra a tal “crise de institucionalidade” que move boa parte dos senadores que, mesmo sendo de oposição, preferem que o presidente, ou melhor, a presidência do Senado não seja exposta a uma crise institucional. Observando-se a história do Congresso, percebe-se que o Senado sempre cultivou este instinto de autopreservação.


 


O próprio Renan Calheiros deixou isso claro em seu discurso ao dizer que “quando me agridem, ferem também uma das mais altas instituições nacionais. Quando me miram atingem a instituição”.


 


Ao governo muito menos interessa que um de seus principais aliados fique “sangrando” numa crise sem fim, ainda mais num ambiente onde as forças do governo e da oposição são equivalentes. Não foi à toa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que as denúncias vieram à tona, procurou defender Renan Claheiros. Hoje, durante o programa de rádio “Café com o Presidente”, o apresentador do programa pediu a opinião de Lula sobre as denúncias da revista Veja.  ''Você disse bem, a reportagem o colocou sob suspeita'', respondeu Lula. ''Isso não quer dizer que o senador Renan seja culpado ou tenha qualquer culpa'', completou.


 



Invasão de privacidade


 



Também pesou a favor de Renan o fato da revista Veja ter explorado informações sobre sua vida íntima de forma acintosa, expondo ao público uma relação extraconjugal do senador, um tema delicado e sempre constrangedor para qualquer homem público. Apoiar este tipo de invasão de privacidade promovido pela “Veja” seria como dar carta branca para que publicações sensacionalistas, como é o caso da revista da Abril, se sintam incentivadas a revelar novos casos análogos ao de Renan. Daí mais uma razão para o apoio quase unânime que o presidente do Senado recebeu de seus colegas.


 


Renan Calheiros lembrou esta circunstância durante o discurso desta segunda-feira. Disse que o país regrediu à época em que os ataques à vida pessoal das pessoas eram corriqueiros e acusou parte da imprensa de ressuscitar os ''temíveis métodos'' do passado.


 


''Não quero debitar a uma parta da imprensa. Trata-se de uma ignonímia a que fui submetido e sobre algo que padeci nos últimos três anos. É uma pena que a vida política tenha chegado ao ponto de ter que descer a essas minúcias no Senado Federal'', afirmou.


 


Renan disse que foi submetido ao contrangimento e forçado a expor detalhes de sua vida pessoal, deixando sua família em situação extremamente desconfortável. Pediu desculpas a sua mulher Verônica, que estava no plenário, e aos colegas parlamentares.


 


E lembrou as palavras de um filósofo paulista falecido recentemente: “Neste calvário regido por mãos que atiram pedras e se escondem, encontrei amparo nas reflexões do ex-deputado e brilhante filósofo Roland Corbisier um libelo que está completando 52 anos, mas cuja atualidade é desconcertante. Disse ele: ‘Essa mania de denunciar, de acusar, de julgar e de condenar, antes de ouvir a defesa dos acusados, essa obsessão do inquérito, da devassa, essa complacência no escândalo, na publicação do escândalo, esse gosto em comprometer e desmoralizar o poder público, os homens que o exercem ou que aspiram a exercê-lo, essa precipitação, essa leviandade em atacar e condenar, sem o menor respeito pela justiça e pela verdade, essa sofreguidão, essa impaciência em fazer justiça com as próprias mãos, em dizer a última palavra a respeito de pessoas e dos assuntos em debate, essa atitude moralista e farisaica, pretensiosa e auto-suficiente, é uma atitude que, a prazo longo, se revela a mais nociva à formação política e mesmo à formação moral do País. Porque é impossível dissociar, na acusação, na agressão aos homens públicos, aos homens que exercem o poder, os próprios homens, enquanto indivíduos, dos cargos que ocupam e a função que exercem …


 


Novos ataques


 


Renan disse ainda estar preparado para novos ''ataques especulativos'' e afirmou que seus colegas não têm motivo para se preocupar. ''Qualquer que forem os novos ataques, até que sejam vencidos esses ataques especulativos, vou responder em nome da democracia e da liberdade'', afirmou.


 


Mas os “novos ataques” vieram bem antes do que o Senador imaginava. A Rede Globo apresentou na edição desta segunda-feira do Jornal Nacional trechos maliciosamente editados de uma entrevista feita por telefone com o advogado da jornalista Mônica Veloso.


 


Na edição feita pelo Jornal Nacional, o advogado Pedro Calmon Filho dá a entender que são verídicas as suposições levantadas pela revista Veja


 


Renan já disse que não se intimidará diante dos novos ataques, resta saber se o conjunto dos senadores que hoje lhe foram tão solidários continuará apoiando o presidente do Senado em nome da boa imagem da instituição.