15 canavieiros morreram de trabalho exaustivo em 2006

No ano passado, 15 cortadores de cana-de-açúcar, com 25 a 45 anos de idade, morreram nas usinas da região de Ribeirão Preto (SP). As mortes foram diagnosticadas como acidente cardiovascular cerebral e parada cardiovascular, sem ligação com o trabalho exau

A pesquisa encontra-se no Relatório Nacional de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais, lançado na semana passada. Cândida, professora da relatora da Universidade Federal do Maranhão, especializada na pesquisa do mundo do trabalho (escreveu uma história da CUT-MA), coordenou a parte da publicação sobre direito ao trabalho. E levou a publicação ao Ministério do Trabalho, em Brasília, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recentemente chamou os usineiros de ''heróis nacionais''.



Pesquisa em Ribeirão Preto



A professora maranhense sustenta que a causa da morte dos bóias-frias é o trabalho exaustivo em condições precárias. No ano passado, ela visitou as cidades da região de Ribeirão Preto, noroeste paulista, para investigar as denúncias de morte de canavieiros. Constatou casos de morte súbita.



As mortes foram diagnosticados como morte por acidente cardiovascular cerebral e parada cardiovascular, sem registrar, no óbito, a ligação com o trabalho excessivo. Caso tivesse sido feita a ligação, a família das vítimas teria direito a indenização, e o empregador teria que ser punido.



Cândida contesta essa versão. Um dos motivos que embasam sua denúncia é que os trabalhadores que morreram eram relativamente jovens, entre 20 e 45 anos, ''sem histórico de problemas cardiácos''.



''Os trabalhadores não têm água potável, equipamentos de primeiros socorros, ambulância. Eles freqüentemente desmaiam e têm desidratação. Moram em alojamentos precários sem nenhum tipo de condições habitáveis'', conta Cândida da Costa.



Uma boa proposta, menos para os ''heróis''



O relatório sobre as mortes apresenta uma proposta simples de solução para o problema: a criação de um piso salarial para os bóias-frias, e o fim do pagamento por produção, como é feito hoje. O pagamento por produção estimula o trabalho exaustivo, na opinião de Cândida, que levou a proposta ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Lupi prometeu tomar medidas.



É previsível o que os ''heróis nacionais'' usineiros de Ribeirão Preto acham da proposta. Em seus canaviais a perder de vista, os trabalhadores temporários já concorrem com a mecanização, que lhes rouba postos de trabalho. Em conseqüência, têm que elevar a produtividade. A média cortada por um assalariado, com o mesmo podão, quadruplicou desde os anos 50 e chega hoje a 20 toineladas. Este é o motor do lucrativo boom da cana e do etanol. E os usineiros não se dispõem a partilhar seus lucros. A proposta do piso salarial terá, portanto, que enfrentar sua oposição.