Repórteres Sem Fronteiras banca posição dos EUA no caso RCTV

A posição da ONG Repórteres Sem Fronteiras em relação a negativa da concessão da RCTV pelo governo venezuelano reforça as ligações mal-explicadas da instituição com o governo dos Estados Unidos. Sua última atitude é a promessa de levar o caso à Comissão d

Artigo do jornalista Mair Pena Neto, publicado no sítio Direto da Redação, mostra como é no mínimo curioso o comportamento da RSF. Veja abaixo o texto:



Repórteres com fronteiras



Chama atenção a celeridade e o empenho da organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras de condenar a não renovação da concessão da emissora venezuelana RCTV. Agora, a ONG anuncia que levará o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU.



“O fim do canal RCTV inaugura uma hegemonia do poder sobre o espaço audiovisual e um grave perigo ao pluralismo editorial”, diz o relatório da Repórteres Sem fronteiras.



É curiosa a conclusão da ONG. O fim de um único canal de TV, diz ela, representa a hegemonia do poder na televisão venezuelana e um risco ao pluralismo editorial. Quer dizer que a RCTV garantia sozinha a não hegemonia do poder e o pluralismo editorial?



Parece bem longe da verdade. A maioria esmagadora de meios de comunicação na Venezuela é privada e sem qualquer compromisso com o governo. Ao contrário, dados de janeiro deste ano revelam que as maiores continuavam no mínimo desequilibradas na abordagem de suas reportagens políticas. A extinta RCTV levou às telas 21 personalidades hostis ao governo e nenhuma favorável. A Globovisión convidou 59 opositores de Chávez e 7 favoráveis. A Televen levou dois de cada lado. As informações são do Le Monde Diplomatique e foram reproduzidas no blog do Nassif.



Dos 81 canais de televisão, apenas dois são estatais. Das 709 rádios, duas são do governo. Como se inaugura uma hegemonia do poder sobre o espaço audiovisual?



Outra importante observação da Repórteres Sem Fronteiras diz respeito ao pluralismo editorial. Essa é uma crítica importante, mas que jamais foi feita ao monopólio da comunicação em outros países. Não me recordo de qualquer observação da ONG sobre a concentração dos meios de comunicação brasileiros nas mãos de poucas famílias. Não li nada sobre a utilização do poder da mídia aqui e alhures para favorecer políticas conservadoras.



Este seria um bom debate para a Repórteres Sem Fronteiras levar adiante. Caso contrário, corrobora cada vez mais as denúncias de que produz seus relatórios sobre liberdade de imprensa atendendo interesses norte-americanos.



Após a divulgação de que suas fontes de financiamento eram ligadas ao governo dos EUA, como a National Endowment for Democracy (NED), criada pelo governo Reagan, e a Agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), conhecida por sua participação no golpe militar no Brasil em 1964, o porta-voz da ONG, Robert Ménard reconheceu estes apoios, mas negou qualquer interferência.



Ménard revelou que a RSF também é apoiada pelo Centro para Cuba Livre, organização de exilados com sede em Wasginhton, mas apenas para lutar pela libertação de jornalistas presos na ilha. Coincidência ou não, a RSF faz campanha sistemática contra Cuba, que considera prioritária na América Latina, e agora tem voltado suas baterias para a Venezuela. Agora não. No frustrado golpe de 2002 contra Chávez, a RSF afirmou em comunicado que Chávez assinara sua renúncia, o que jamais aconteceu, endossando o que era divulgado pela grande imprensa venezuelana.



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