Marta Suplicy evita holofotes e avalia opções eleitorais

O fato de ter desembarcado na Esplanada em um ministério com visibilidade menor do que a desejada não freou o ímpeto de Marta Suplicy para articular vôos eleitorais mais altos. Num primeiro momento, Marta queria comandar o Ministério da Educação ou o d

Dependendo da decisão, a definição terá que sair ainda este ano. O prazo máximo é abril do ano que vem, caso tenha que se desincompatibilizar. Mas, Marta precisa de tempo para construir as alianças necessárias. Os petistas próximos a ela já têm toda a estratégia e as composições para que cada um desses cenários se viabilize. Apesar de reconhecer que Marta tem uma força política inquestionável, sabem das fraquezas e das lacunas a serem preenchidas em todos os quadros.


 


Por enquanto, Marta mantém o cenário em aberto. A aposta mais forte é que ela deve ficar até o fim do segundo mandato de Lula, abrindo mão de disputar a prefeitura. Menos por um suposto pedido presidencial neste sentido – ” o presidente e ela saberão o que é melhor no momento certo, tanto para o governo quanto para o PT ” , assegurou um martista – e mais pelo desejo de avançar em novos caminhos políticos. Na última visita que fez ao Planalto, para apresentar seus programas para o setor de turismo, reservou uma parte da audiência para discutir política com o presidente. Guardou o segredo a sete chaves. ” Foi uma conversa particular, entre dois correligionários ” , disse, à época.


 


Marta também vem demonstrando gosto pela Pasta. ” Para meu desespero, ela já disse várias vezes que está adorando ser ministra ” , brincou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP). Enquanto articula a elaboração de um Plano de Turismo social, o ministério firma parcerias com a Caixa Econômica Federal visando a abertura de crédito consignado para aposentados viajarem. Marta aproveita a capilaridade de sua Pasta para conversar com prefeitos e governadores, possíveis aliados em um futuro não tão distante.


 


Opera tudo isso com o cuidado de permanecer afastada dos holofotes. ” Nesse momento, quanto menos marola ela fizer, melhor. É bom para o PT ter uma ministra forte na Esplanada. E é bom pro Lula ter uma ministra discreta ” , acrescentou um parlamentar paulista. Mas o grupo não esconde a empolgação com os 35% de intenção de voto auferidos pelo Ibope na semana passada, colocando a ex-prefeita empatada com o tucano Geraldo Alckmin na disputa pela prefeitura em 2008. ” É um recall muito bom ” , reconhece um petista próximo de Marta.


 


O staff municipal de Marta é composto pela família Tatto, por Cândido Vaccarezza, Carlos Zarattini, Devanir Ribeiro e José Mentor. O grupo calcula que tenha o controle de praticamente 70% do diretório municipal, o que deixa Marta soberana se quiser ser candidata. E com poderes suficientes para ” ungir ” um nome forte para a disputa. Alguns nomes alternativos surgem nesse segundo cenário, ainda fruto de especulação: o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, o deputado José Eduardo Cardozo, o deputado estadual Rui Falcão.


 


Chinaglia foi secretário de Marta na Prefeitura de São Paulo e vem mantendo proximidade com a ministra do Turismo. Não descarta a possibilidade de concorrer em 2008, mas apenas se Marta abrir mão da disputa. ” Eu não vou disputar a convenção com ela, em hipótese nenhuma ” , garantiu o presidente da Câmara. Mas há quem não veja o céu tão azul para Marta. ” Ela poderá concorrer com Alckmin (Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e candidato derrotado do PSDB à Presidência em 2006), um nome forte no Estado e que derrotou Lula e o PT na capital. Não é fácil ” , alertou um parlamentar aliado.


 


Migrar para a disputa estadual também não se apresenta como uma opção tão segura assim. Hegemônica na capital, Marta terá que se aproximar de outros petistas com força no interior, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Cunha chegou a sonhar com o Palácio dos Bandeirantes em 2006, mas foi abatido em pleno vôo pela crise do mensalão. ” Ele não tem condições de concorrer a cargos majoritários, mas tem força no interior e pode agregar apoios ” .


 


Outra estratégia é negociar com os partidos da coalizão federal. Nem passa pela cabeça do grupo repetir a campanha da reeleição em 2004, quando o PT resolveu fazer uma chapa puro-sangue, com Marta e Rui Falcão, fechando as portas para o PMDB. Acabou sendo derrota pelo tucano José Serra. Para o Palácio dos Bandeirantes, o fantasma de Alckmin não está descartado. Como Serra é presidenciável, Alckmin poderá articular um retorno ao Palácio dos Bandeirantes, amparado pela boa avaliação que tem junto ao eleitorado paulista.


 


Resta ainda o vôo mais alto e o mais difícil de todos: suceder Lula em 2010. O PT não tem um herdeiro natural ao Planalto daqui a quatro anos. Se as coisas se mantiverem como estão – e os petistas sonham com isso – Lula será um grande cabo eleitoral. ” Um bom ministro ganha, nesse cenário, dividendos políticos importantes ” , assegurou um parlamentar martista.


 


Esses planos, contudo, são mais ousados. Dependem das eleições internas do PT, o chamado PED, quando as forças internas da legenda vão se reorganizar. Dependem também da composição dos aliados – o PSB do deputado Ciro Gomes já inicia movimentos para viabilizar o ex-ministro da Integração Nacional como candidato da coalizão. Os martistas planejam uma parceria com o PMDB. ” Se fizermos uma composição com o PMDB, fica difícil aparecer outra alternativa na base governista ” , completou Tatto.


 


Falta ainda combinar com Lula. O presidente vai querer subir em palanques, mas tem tradição de não se envolver em bolas dividas. Se tiver dois candidatos da base, ele pode não apoiar ninguém explicitamente. O que talvez nem seja prejudicial em um primeiro momento. Mas mortal numa etapa posterior. ” O PT não precisa do apoio de ninguém para levar um candidato próprio ao segundo turno. Mas precisará, sim, do apoio de Lula para vencer a eleição presidencial de 2010 ” , vaticinou um coordenador da campanha de Marta.


 


Fonte: Valor Econômico