Crescimento chinês pode durar mais 20 anos, diz economista

O economista alemão Gernot Nerb, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de Munique (IFO, na sigla alemã), disse que, na sua avaliação, a China poderá prosseguir por mais 10 ou 20 anos crescendo em ritmo acelerado e abastecendo o mundo

“No momento, temos desenvolvimento apenas na parte costeira da China. Há tantas reservas de trabalho dentro do país que eu acho que (o crescimento) vai continuar por muito tempo”, disse. Essa permanência, na sua avaliação, está associada também à manutenção da moeda chinesa, o yuan, desvalorizada.



“Do ponto de vista do poder aquisitivo real, o valor do yuan deveria ser mais alto, mas eu acho que a China, por um período bastante longo, precisa de uma moeda valorizada para continuar desenvolvendo-se. Até certo ponto, os chineses aceitaram investir em títulos (do Tesouro) americanos etc. Então, até certo ponto, eles estão estabilizando o sistema”, afirma o economista.



Vulnerabilidade



Ao considerar que “até certo ponto” o yuan desvalorizado contribui para a estabilidade monetária mundial, o pesquisador alemão disse que se os chineses aceitarem as pressões americanas para que valorizem em 20% a 30% a moeda do seu país, uma parte das empresas chinesas ficaria muito vulnerável. “No momento, é mais importante termos desenvolvimento econômico na China e aceitarmos uma moeda desvalorizada que só vá valorizando-se muito aos poucos”, ponderou.



Nerb traçou um paralelo entre a situação chinesa e a alemã após a Segunda Guerra Mundial. “Nós tivemos esse tipo de processo na Alemanha Ocidental após a guerra (a Alemanha havia sido separada em duas). O marco alemão, durante muito tempo, ficou desvalorizado. Isso ajudou o sucesso da chamada maravilha econômica (o salto de crescimento alemão) que, em grande medida, deveu-se à desvalorização da moeda. Só mais tarde, quando a economia estava desenvolvida, pode-se passar para uma taxa de câmbio correta”, disse.



O papel dos emergentes



Embora entenda que não é algo que venha a ocorrer a curto prazo, “pelo menos durante meu período de vida”, o economista entende que os países emergentes, liderados pela China, caminham para ocupar o lugar dos Estados Unidos como as locomotivas do crescimento mundial. “Levará, pelo menos, outros 20 anos, mas, aos poucos, a China está também desenvolvendo sua economia interna. Precisa desenvolver o seu mercado financeiro para absorver as enormes poupanças que hoje deslocam-se para os Estados Unidos, para estabilizar o sistema americano. Então, a longo prazo, os americanos terão também que aumentar sua poupança interna, porque eles já não poderão depender, como antes, de serem a economia dominante que atrai recursos financeiros do mundo inteiro. Quando os sistemas financeiros da China, da América Latina e de outros países forem mais desenvolvidos, aí teremos mais concorrência pela poupança mundial”, afirmou Nerb.



Em relação à conjuntura mais imediata, Nerb considera que o risco de os Estados Unidos terem uma aterrissagem brusca do seu processo de crescimento está cada vez mais distante. “Os novos dados confirmam que os Estados Unidos terão apenas uma moderação do seu crescimento, mas não terão uma recessão. Portanto, o impacto sobre a economia mundial será moderado”, disse o economista alemão.



“Nós achamos que após um certo decréscimo (do ritmo), nós veremos, já no próximo ano, uma nova recuperação. Por este motivo, estamos otimistas, não só para este ano. Achamos que há uma boa probabilidade de que a economia mundial continue por pelo menos dois anos crescendo”, afirmou.



O fator energético



O grande risco afora a situação americana, para o analista, é a possibilidade de o mundo enfrentar uma crise energética durante a transição para um combustível mais limpo e abundante do que o petróleo que, na sua avaliação, será o hidrogênio. “Tivemos na semana passada uma reunião de cúpula (G-8) na Alemanha na qual a energia foi o principal assunto. Precisamos de medidas de economia de energia. A eficiência energética da China é muito ruim e precisa melhorar.” Nerb entende também que durante a transição para o hidrogênio, que deve durar de 20 a 30 anos, o mundo vai precisar investir mais, como já está fazendo, em energia atômica.



Quanto ao dilema europeu de preservar as conquistas da chamada sociedade de bem-estar social e enfrentar a competição do mundo globalizado, o economista entende que as reformas, reduzindo os benefícios, que já custaram a perda do poder aos sociais-democratas alemães irão prosseguir em países como a Itália e até mesmo na França, onde a resistência é mais forte. “São procedimentos difíceis, mas acho que a globalização força quase todos os países a alterarem a proteção social que tínhamos anteriormente”, afirmou.



Fonte: Valor Econômico