Generais protestam contra homenagem a Lamarca

Generais do Exército reagiram com irritação à concessão de uma pensão equivalente a general-de-brigada para a viúva do capitão revolucionária Carlos Lamarca, assassinado pela ditadura militar em 1971. “Tudo o que é falta grave que pode ser cometida esse a

A decisão sobre a pensão foi tomada pelo Conselho de Anistia, ligado ao Ministério da Justiça, o que provocou “uma das mais fortes demonstrações de descontentamento desde o fim do regime militar, em 1985”, segundo a reportagem. Pela decisão, a família de Lamarca terá pensão de R$ 12.152,61 mensais, o equivalente a vencimento de general-de-brigada, além de indenização de R$ 300 mil, a ser dividida por três familiares.



Protesto “para o Exército” não contesta medida



O jornal diz que o general Cesário, comandante militar do Leste (responsável pelas tropas no Rio, em Minas e no Espírito Santo) foi o mais enfático. “Tudo o que é falta grave que pode ser cometida esse assassino cometeu. E está sendo premiado aí! É lamentável, lamentável! Espero que não vá até o final esse processo. Pode dizer: os generais de Exército, os generais da ativa do Alto Comando do Exército [15 generais quatro estrelas da Força mais dois do Ministério da Defesa] estão indignados. Causou profunda indignação na Força”, afirmou Cesário, em tom de voz elevado durante reunião da Cúpula do Exército.



Uma palestra do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, na sede do Clube Militar, no centro do Rio, reuniu membros do Alto Comando, cinco ex-ministros ou comandantes do Exército e muitos generais e oficiais da ativa e da reserva. O tom do encontro foi de repúdio ao benefício obtido por Lamarca. Mas houve, a julgar pelas informações da Folha, o cuidado de circunscrever o protesto a uma opinião do Exército, e não um questionamento do Conselho de Anistia. O general Peri admitiu também, segundo o jornal, “que a análise jurídica preliminar sobre o caso era de que não cabia recurso ao Superior Tribunal Militar”.



Pensamento “é o mesmo do Exército de sempre”



O comandante Peri, segundo a Folha, afirmou “Para o Exército, ele é desertor; para o Exército, o que ele é? Para o Exército, ele cometeu uma série de crimes”. Em outro momento, o general Peri disse que a posição da Arma não mudou desde a ditadura: “O fato é que o pensamento que nós temos em relação ao caso e em relação à pessoa envolvida é o mesmo do Exército de sempre”, disse.



Peri confirmou ter ligado para o ministro da Defesa, Waldir Pires para protestar. O jornalista relata que “ele sorriu quando questionado sobre a ligação para Pires. 'É evidente que conversamos'. Em seguida, ao microfone, afirmou: 'O que tinha de fazer, eu fiz. Manifestei a quem devia o nosso pensamento. A resposta e as providências são semelhantes a outros casos, em situações semelhantes. O nome da pessoa beneficiada, Lamarca, é que é uma figura singular, mas a solução é semelhante a outros casos e está dentro da competência da comissão'.”



A reportagem cita também o ex-ministro do Exército (1985-1990) Leônidas Pires Gonçalves, que afirmou: “Não me sinto bem tendo como conviva, mesmo morto, um desertor, traidor, ladrão e assassino frio do tenente Mendes (Alberto Mendes Júnior), que se ofereceu para defender seus soldados.



Com informações da Folha de S. Paulo