Tele nacional pode barrar estrangeiros

Criação de uma nova tele brasileira (cujo capital não poderia ser transferido a estrangeiros por no mínimo dez anos) e TV a cabo livre para exploração pelo capital externo. Esse cenário pode fazer parte do desfecho de uma guerra comercial travada no gover

Ofuscada pelos escândalos políticos do momento, essa disputa, ainda nos bastidores, opõe dois grupos. Um forte politicamente, o das TVs -encabeçado pela Rede Globo- venceu a batalha da TV digital, quando o presidente Lula escolheu o padrão japonês.
E outro forte economicamente, o das companhias telefônicas -puxado pela espanhola Telefônica e pela mexicana Telmex- que contam com o poderio de expansão da economia como seu principal trunfo.


 


De um lado, as emissoras de radiodifusão alegam que precisam de mais tempo para se tornarem competitivas e enfrentar as teles num mercado que até pouco tempo era cativo delas. Dizem que, se ficarem expostas totalmente à concorrência, podem ser prejudicadas. Enquanto o faturamento das radiodifusoras atinge R$ 10 bilhões por ano, o das teles chega a R$ 110 bilhões.


 


Para pelo menos equilibrar o jogo no mercado bilionário das teles e evitar a formação no futuro de um duopólio estrangeiro, dentro do governo e no Congresso é praticamente consenso a idéia de fundir a Telemar (Oi) e a Brasil Telecom, mas com regras de salvaguardas que impeçam a venda do controle da nova tele para um grupo externo num prazo de pelo menos dez anos.


 


Já a liberação da TV a cabo para as concessionárias de telefonia e o capital estrangeiro ainda divide opiniões entre os atores que vão definir o tema legalmente: governo Lula e parlamentares.


 


Apesar de boa parte dos envolvidos nas negociações ser a favor da entrada de capital estrangeiro no setor, há no governo e no Congresso posições mais alinhadas à Globo que desejam criar um período de carência, de até dez anos, em que as emissoras de TV não sofreriam a concorrência das teles.


 


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, diz temer a abertura completa do setor a empresas estrangeiras. “Elas são sempre muito agressivas, podem querer dominar o mercado. Não sou a favor nem contra, precisamos ouvir o setor para ter uma posição definitiva”, diz o ministro.


 


Cabo


 


A pressão mais forte das teles é pelo fim da Lei do Cabo, de 1995, legislação que regula a TV por assinatura via cabo. Do ponto de vista dessas empresas, a lei tem dois entraves: define TV a cabo como concessão e limita em 49% a participação estrangeira nas empresas que oferecem o serviço.


 


Ao definir TV por assinatura por meio de cabo como sendo uma concessão, a Lei do Cabo impede que as teles atuem no setor. Isso acontece porque as empresas não podem ter mais de uma concessão na área em que já atuam. O serviço de telefonia já é uma concessão.


 


As teles querem usar sua infra-estrutura já instalada (fios que chegam à casa dos consumidores) para oferecer pacotes de serviços convergentes (linha fixa, internet em banda larga e TV por assinatura), o que se chama de “triple play”.


 


“Do jeito que está, só um grupo pode oferecer “triple play'”, diz José Fernandes Pauletti, presidente da Abrafix, numa referência à Globo, que, por meio da Net/Telmex, oferece telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura.
A Abrafix é a entidade que reúne as concessionárias de telefonia fixa, como Telefônica, Telemar e Brasil Telecom.


 


Fusões


 


Outro aspecto consensual entre as teles é a necessidade de abolir restrições a que uma concessionária compre outra, previstas na legislação.


 


“Tem que mudar para que haja consolidação”, diz Pauletti. Segundo o executivo, o argumento de manter as restrições para garantir competição não existe. “A competição já acontece hoje. A telefonia móvel compete com a fixa”, disse.
Essa mudança seria o primeiro passo para fazer a fusão da Telemar e da Brasil Telecom, duas empresas com forte participação dos fundos de pensão, o que facilita uma decisão do governo de tentar formar uma grande empresa brasileira no setor.