Angra 3: ''É como se tivéssemos ganhado a 6ª Copa do Mundo''

Essa é a opinião de Antônio Cordeiro, dirigente do Movimento Popular de Angra dos Reis, integrante do Movimento Pró Angra 3. Eles comemoraram em Brasília a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ontem de retomar a construção da te

A obra, iniciada há 21 anos, estará fornecendo energia a partir de 2013. O projeto deve custar em torno de 3,7 bilhões de dólares. A decisão seguiu para ser ratificada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já se declarou favorável à opção nuclear para geração de eletricidade como fonte auxiliar na matriz energética brasileira, fortemente sustentada nas hidrelétricas. A construção significará mais de R$ 3 bilhões em investimentos privados e gerará mais de 15.000 empregos diretos e indiretos que beneficiarão a diversos municípios do Rio de Janeiro.


 


Para Donato Borges, presidente do Sindicato da Construção Civil de Angra dos Reis, foi um grande desfecho e agora se inicia outro período de pressões. “Nós vamos voltar para cobrar as medidas compensatórias com a Eletronuclear, com as empresas e com o Ibama”, disse. Os dois dirigentes estavam acompanhados por um grupo de cerca de dez pessoas que vieram de Angra à Brasília para pressionar pelo voto favorável à construção da usina. “Nós viajamos 18 horas em uma van.  Foi um sacrifício enorme, as pessoas tiveram dores nas pernas… Mas valeu o sacrifício”.


 


Segundo Antônio Cordeiro a comemoração é grande. “Todos os movimentos da região, de Rio Claro, Mangaratiba, igrejas, todos se movimentaram para que acontecesse essa vitória. É como se a gente tivesse ganhado a 6ª copa do mundo. Com certeza, 90% da região, que tem quase 300 mil habitantes, está comemorando essa vitória. Inclusive os profissionais que estão no projeto há muito tempo. Já tinha gente pensando ‘poxa, eu vou morrer e infelizmente não vou passar pra frente o conhecimento que eu tenho já que o projeto tá parado’. Isso abre as portas do Brasil para a tecnologia mundial que é essa da energia nuclear”, disse.


 


Integram o movimento o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e Pesada de Angra e Paraty (STICPAR); o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica de Niterói (STIEEN/Angra); a Associação dos Trabalhadores da Central Nuclear de Angra dos Reis (Acena); a Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben); o Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro (Senge); o Sindicato das Secretárias do Estado do Rio de Janeiro (Sinserj); o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA-RJ/Angra); o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio de Janeiro e Região (Sintergia); o Sindicato dos Metalúrgicos de Angra dos Reis (STMMMEIAPRJ), além dos movimentos comunitários.


 


Comemoração


 


Defensor da idéia, o deputado Edmilson Valentim (PCdoB/RJ) também comemorou. “Esta é uma decisão corajosa e que vem no sentido de aumentar a oferta de energia elétrica no Brasil”, afirmou. “Depois de anos sem investimentos de fôlego no setor, o governo Lula foi obrigado a enfrentar o problema de frente e estabelecer metas de curto, médio e longo prazo para garantir não só o fornecimento de energia elétrica nos patamares atuais mas, principalmente, garantir a oferta com a expansão do crescimento econômico”.


 


Valentim apontou que a Angra 3 é mais uma alternativa de fornecimento de energia a um custo relativamente baixo. “O Brasil dispõe em abundância da matéria prima necessária para produzir energia térmica por pelo menos os próximos 500 anos. Segundo estimativas, o Brasil possui a sexta maior reserva geológica de urânio do mundo, concentrando algo em torno de 6% de todo o minério existente na terra”, disse.


 


“Quanto às preocupações ambientais, todos os cuidados serão tomados para garantir a segurança no manuseio de seus rejeitos. De nenhuma forma esta medida significa a opção do governo Lula em mudar a matriz energética do Brasil. Continuaremos investindo em forma de energias renováveis e limpas, que produzam o menor risco possível ao meio ambiente”, avaliou.


 



Rejeitos


 


Uma das questões polêmicas que impediu a decisão de sair nos últimos anos diz respeito aos resíduos nucleares. Segundo Cordeiro, “a gente tem que ter medo daquilo que não conhece. Como a gente conhece muito bem as usinas nucleares, nós não temos medo nenhum. Inclusive nós levamos nossos filhos para tomar banho junto com as tartarugas que tomam banho envolta das usinas. Porque temos certeza que é garantido. Eu não tenho certeza é sobre o esgoto que é jogado a céu aberto nas cidades e que aí sim dão esse problema todo de poluição”.


 


“A gente convive harmoniosamente com as usinas nucleares. Não tem esses problemas de vazamento nem nada disso. Inclusive ontem os repórteres presentes à porta do Ministério de Minas e Energia ficaram surpresos com o nosso movimento porque eles não sabiam que existia um movimento favorável. Eles achavam que a cidade de Angra dos Reis e as cidades circunvizinhas eram obrigadas a conviver com as usinas nucleares e não é nada disso. Nós sabemos e entendemos a necessidade da usina ali”, complementou Borges.


 


Segundo Cordeiro, em todo o mundo se fazem pesquisas sobre o reaproveitamento dos rejeitos. “Existem estudos que garantem que vai haver o reaproveitamento de todo este combustível. Porque quando se troca o combustível das usinas, troca-se apenas 30% e não 100%. Então, com certeza, vai haver uma reutilização desse combustível que já foi parcialmente queimado. O que é rejeito, na verdade, são luvas, pedaços de ferramentas, roupas”, disse.


 


O dirigente explicou que “nós temos que lembrar que o rejeito de alta, de média e de baixa o próprio tempo se encarrega de acabar com essa radiotividade que ele tem. O de baixa, estimadamente em dez anos passa a ser um lixo comum. E hoje existem vários processos para trabalhar com o lixo nuclear. Tem a compactação, que faz com que esse rejeito ocupe o menor espaço possível. Fora que as usinas novas tem tecnologia mais avançada. Angra 1 produz 40 m3 de lixo por ano. Já Angra 2 produz menos de 20% desse total. Então a tecnologia tem avançado a cada momento”.


 


Cordeiro lembrou ainda que essa questão diz respeito não somente à produção da usina: “Mesmo que não houvesse nenhuma usina nuclear, teríamos que ter depósito de rejeitos para os nossos hospitais, que estão cheios de aparelhos que usam energia nuclear”.


 


Os próximos passos do movimento serão no sentido de garantir que não haja mais paralisações na construção de Angra 3. “Nós temos o comitê de entidades sindicais que vai vigiar a contratação de mão de obra, a discussão das contrapartidas e vamos continuar trabalhando para que, quando do término da obra,  nós tenhamos profissionais inclusive com requalificação de mão de obra e ensino profissionalizante, para que possamos deixar essas pessoas aptas ao ensino ou para ajudar na construção do Ceará 4 ou Pernambuco 4”, prevê.


 


De Brasília,
Mônica Simioni