Países em desenvolvimento se dividem após fracasso do G-4

Movimentos contra e a favor da posição do Brasil e da Índia na negociação de produtos industriais confirmam a divisão entre países em desenvolvimento, no rastro do fiasco de Potsdam. México, Chile e Costa Rica, que têm acordos de livre comércio com os Est

O grupo alega que as perdas com o fiasco ou congelamento da Rodada Doha superam em muito um “acordo menos que perfeito” e que “no contexto específico de Nama (produtos industriais), uma mostra concreta de flexibilidade tem sido rara mesmo nesse estágio da negociação”. O grupo sugere um corte que pode variar entre 58% e 64% nas alíquotas de nações em desenvolvimento, com flexibilidade para proteger entre 5% a 10% de linhas tarifárias. Os países ricos deveriam cortar acima de 70% nas suas alíquotas.



A proposta está próxima do que a União Européia (UE) defendeu em Potsdam e foi recusada pelo Brasil, por ter potencial para “desinvestimento e desindustrialização” nos países em desenvolvimento.



Influência dos EUA



Houve reações mistas em Genebra. Alguns negociadores, que só falam sem serem citados, diante do clima de tensão, notam que esses países defendem seus interesses específicos e não se sentem representados pela “posição mais rígida do Brasil”. Outros chamam a atenção para a composição curiosa do grupo: os que têm maiores vínculos comerciais com os EUA e os que já têm tarifas baixas e vão cortar pouco na Rodada, mas que pedem para os outros aceitarem amplas reduções tarifárias.



Outras nações participaram do grupo coordenado pelo Chile, mas não se comprometeram formalmente com o texto. Um deles é o Paraguai, membro do Mercosul e portanto com Tarifa Externa Comum (TEC) com o Brasil, Argentina e Uruguai. A missão paraguaia em Genebra, em todo caso, despachou uma funcionária para Assunção com a proposta para ser examinada pelo governo e possivelmente para discussão com os parceiros do bloco do Cone Sul, esta semana.



Posição argentina



Buenos Aires procura corrigir o mal-estar causado pelo seu silêncio constrangedor durante a reunião dos 150 países membros da OMC que se seguiu ao fiasco de Potsdam, ainda mais que a Argentina era menos flexível que o Brasil na área industrial, e Brasília acabou refletindo a posição argentina. Para reparar o erro, o ministro das Relações Exteriores, Jorge Taiana, telefonou na sexta-feira à noite para o ministro Celso Amorim, que já dormia. Deixou o recado de que a Argentina apoiava o Brasil, mas recebeu a resposta de que o melhor seria tornar esse apoio público. Foi o que Taiana fez, em comunicado no qual expressou “reconhecimento e solidariedade” com as posições de Brasil e Índia.



A nota destacou que os dois países “defenderam com dignidade os interesses dos países em desenvolvimento na busca de um acordo equilibrado” para “fortalecer” a OMC e acusou os EUA e a UE de serem os responsáveis pelo fiasco. Com a Rodada em crise, o Mercosul discutirá a lista de produtos sensíveis para Doha, esta semana.



Fonte: Valor Econômico