Movimentos denunciam 10 mil mortos de 4 estados em 6 meses

As Organizações Não Governamentais (ONGs) Rio de Paz e Visão Mundial, clubes de futebol e artistas farão de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo palcos de manifestações contra a violência neste fim de semana. Em apenas seis

O Rio de Paz prepara-se para realizar uma série de manifestações envolvendo Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Sempre com o objetivo de sensibilizar os cidadãos brasileiros para a questão do protesto contra a violência, o movimento percorrerá as três cidades durante todo o final de semana, chamando a atenção para o surpreendente número alcançado de mortes por assassinato somente no primeiro semestre de 2007.


 


Protestos


 


Os protestos começam nesta sexta-feira (29), em Minas Gerais. Aproximadamente 1800 camisas dos clubes Atlético Mineiro e Cruzeiro serão estendidas na famosa Praça do Papa, em Belo Horizonte, simbolizando cada mineiro assassinado nestes seis meses. Batizado de ''BH pela Paz'', o evento conta com o apoio da banda mineira Jota Quest (que coordenou a coleta do material). O ato público começa a ser organizado ainda de madrugada (quinta para sexta-feira) e se estenderá até às 15h do mesmo dia.


 


No Rio de Janeiro, o local escolhido foi mais uma vez o bairro de Copacabana. No próximo sábado (30), às 10h, centenas de pessoas vestidas com camisas vermelhas (simbolizando o sangue carioca) deitarão nas areias da famosa praia brasileira, em referência aos cerca de 2300 homicídios registrados neste semestre. Durante 40 minutos, os voluntários dramatizarão um cenário de ''Campo de Batalha'', como está sendo chamado o evento. À frente do local do protesto, será fincada uma cruz de aproximadamente cinco metros de altura.


 


A capital paulista sediará o terceiro dia de protestos (primeiro de julho). Com o apoio da ONG Visão Mundial e da Comissão Municipal de Direitos Humanos, o Rio de Paz erguerá o que está sendo chamado de ''Bosque das Lamentações''. 2500 mudas de árvores da Mata Atlântica serão ''plantadas'' em cima do viaduto do Minhocão (na altura da estação de metrô Marechal Deodoro). O evento acontece do nascer do Sol até às 15h do mesmo dia.


 


''O objetivo dos protestos é chamar a atenção para o drama de milhares de brasileiros que choram por seus mortos, e conscientizar a população que devemos reagir a este estado de inércia em que vivemos'', diz Antônio Carlos Costa, presidente do Rio de Paz.


 


Homicídios de jovens


 


O Brasil ocupa o terceiro lugar mundial no número de homicídios de jovens, atrás de Colômbia e Venezuela, segundo o ''Mapa da violência 2006: Os jovens do Brasil'',  divulgado em novembro do ano passado pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI).


 


O estudo, que analisa os dez anos entre 1994 e 2004, indica que o número de homicídios de jovens no Brasil aumentou em 64,2% no período, em comparação com um crescimento de 48,4% na quantidade de homicídios na população total.


 


A taxa de 51,7 homicídios por 100 mil habitantes jovens, registrada em 2004, coloca o Brasil na terceira posição mundial, com um índice cem vezes maior ao de países como Áustria, Japão, Egito e Luxemburgo.


 


Jovem, homem e negro 


 


Segundo o documento, os homicídios acontecem principalmente durante os finais de semana, afetam a população de sexo masculino (93% das vítimas), os negros (85,3%), e os com uma idade entre 20 e 24 anos, embora a faixa etária na qual mais cresceram nos últimos anos seja a de 14-16 anos.


 


''Os jovens vivem de uma forma diferente e também morrem de uma forma diferente'', disse o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do ''Mapa da violência 2006'', um estudo que atribui 72,1% das mortes de jovens brasileiros a ''causas externas'' como acidentes de trânsito, homicídios e suicídios.


 


Estas causas substituíram outras consideradas tradicionais, como as epidemias e as doenças infecciosas, principais causas de morte dos jovens há cinco ou seis décadas.


 


Portas fechadas


 


Waiselfisz afirmou que ''a sociedade pressiona os jovens para que tenham sucesso, mas não lhes oferece os meios para alcançá-lo'' e acrescentou que 20% dos jovens brasileiros – cerca de sete milhões – não estudam nem trabalham devido às dificuldades que encontram no acesso à educação e ao mercado de trabalho.


 


''Não fazer nada significa álcool, drogas e crime'', advertiu Waiselfisz, que disse que ''os caminhos estão cada dia mais fechados para a juventude'', um setor da sociedade ''com necessidades diferentes''.


 


O estudo diz que a utilização de armas de fogo como instrumento letal cresceu vertiginosamente, já que em 2003 cerca de 34,4% das mortes juvenis foram causadas por estas, sendo que em 1993 a proporção era de 20,8% e em 1983 de 10,4%.


 


Segundo deixa transparecer o ''Mapa da violência'', 75% dos homicídios de jovens foi realizado com armas de fogo, colocando o Brasil – que tem uma taxa de 43,1 mortes por armas de fogo por cada 100.000 jovens – no primeiro lugar na classificação mundial desse indicador em uma comparação com outros 65 países.


 


O ''Mapa da violência 2006'', que dá continuidade a um trabalho iniciado em 1998, é ''um esforço da OEI para ajudar o poder público a melhorar o combate contra a situação na qual vivem os jovens do Brasil'', explicou Jorge Werthein, assessor especial da Secretaria-Geral da OEI.


 


Para elaborar o documento, foram usados, entre outros, os dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde brasileiro.