Coleção quer levar o mundo da periferia para o da literatura
Dentro de seu espírito vanguardista, a Global Editora lança uma coleção cujos autores apresentam uma característica comum: moram e têm origem na periferia. A coleção Literatura Periférica enfoca, como não poderia deixar de ser, a literatura produ
Publicado 03/07/2007 20:18
Não se trata de ''literatura marginal'', uma denominação controversa usada para identificar a literatura produzida e difundida na década de 1970 e começo dos anos 1980, pois sob esse rótulo costumava cunhar as formas alternativas de produção literária, num momento em que o Brasil vivia sob a tensão da ditadura militar e da pseudo abertura.
Para definir a Literatura
Periférica, devemos lembrar que ''periférico'' é uma condição geográfica e também um sentimento de pertencimento. Sentimento que além de evidenciar um tipo de produção literária visceral, contundente, engajada e impregnada de ódio às misérias que marcam a tragédia da vida urbana, deixa transparecer o amor, a solidariedade e a esperança na humanidade.
Para esclarecer o por que da designação de Literatura Periférica para a nova coleção, o historiador e programador cultural Eleilson Leite, coordenador do projeto, diz: ''O surgimento do movimento hip hop na década de 1980 e sua ascensão na década seguinte, revelou uma poesia contundente e ao mesmo tempo de grande vigor literário, expressas nas letras de rap – ritmo e poesia. Representantes maiores do gênero no Brasil, os Racionais MC´s elevaram essa arte ao mais alto patamar da cultura pop, estimulando um movimento artístico que tem na periferia sua razão de ser. Não menos importante foi a publicação de Capão Pecado, de Ferréz, em 2000, que é o marco inicial do movimento literário periférico''.
No final da década de 1990, poetas e escritores da periferia começaram a se reunir em núcleos culturais, oficinas e ONGs, reinventando, assim, os antigos saraus. O Sarau da Cooperifa, localizada na Zona Sul de São Paulo, é o mais importante deles. Com mais de seis anos de existência, este sarau reúne às quartas-feiras mais de 300 pessoas, de todas as regiões da cidade e de municípios vizinhos. Lá surgiram Sérgio Vaz e Allan da Rosa e para lá seguem Sacolinha, Buzo, Dinha – próximos autores da coleção – e muitos outros talentos que, certamente, ainda terão seus nomes firmados na coleção Literatura Periférica.
Colecionador de Pedras
''Os poemas de Sérgio Vaz estarão mais seguros na sua memória'', diz Ferrez na apresentação do primeiro livro da coleção, o Colecionador de Pedras, quinto livro do poeta Sérgio Vaz, um dos pioneiros nessa literatura que tem como característica o engajamento com o movimento hip hop, cada vez mais enraizado na periferia dos grandes centros urbanos. A obra é uma coletânea com poemas – alguns inéditos em livro -, em que o autor, um verdadeiro militante, exibe um panorama de sua poesia nos últimos vinte anos.
Colecionador de Pedras traz a apresentação de Ferréz e a chancela de Nelson Maca, professor de literatura da Universidade Católica de Salvador e ativista do coletivo Blackitude, um dos principais grupos de hip hop da Bahia, que eleva a poesia de Vaz dizendo: ''Sérgio Vaz é poeta, e, como poeta, sabe ser simples. Como simples, sabe tecer o coletivo. Como coletivo, sabe ser nós. E, como nós, faz-nos grandes ao seu lado. Se você, leitor, quer saber mais do que ora comungo, leia este incansável colecionador de pedras. Conheça esse ladrilhador de imagens. Eu, que não tive a felicidade de escrever ´O milagre da poesia´, ou o Bruno matador (´Pé-de-pato´), sinto-me, poeticamente, vingado por Sérgio Vaz''.
Sobre o autor
Sérgio Vaz é poeta da periferia e agitador cultural. Mora em Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, e vive nas periferias do Brasil. É o criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) e um dos criadores do Sarau da Cooperifa, evento que transformou um bar da periferia em um centro cultural, e que, às quartas-feiras, reúne cerca de 300 pessoas para ouvir e falar poesia; fato que gerou um livro com 43 autores, um CD de poesia com 26 poetas, uma tese de mestrado e diversos documentários, além do reconhecimento e respeito da comunidade.
O local também se transformou num dos maiores quilombos culturais do país. É autor do projeto Poesia Contra a Violência, que percorre as escolas da periferia incentivando a leitura e criação poética como instrumento de arte e cidadania.
Acreditar. Essa é uma palavra que deveríamos aplicar com mais freqüência em nossas vidas. O trabalho de Sérgio Vaz só existe porque ele acredita no que faz e escreve. É por gente como Sérgio que ainda temos a certeza que a realidade pode não ser como queremos, mas o nosso mundo é como o fazemos.
Título: Colecionador de pedras
Autor: Sérgio Vaz
Coleção: Literatura Periférica
Coord. da Coleção: Eleilson Leite
Páginas: 168
Preço: R$ 29,00
Lançamento: Quinta, 5 de Julho. Ás 19 horas.
Onde: CEMUR – Teatro Municipal de Taboão da Serra.
Ende.: Pça. Nicola Vívilechio, S/nº (Largo do Taboão) Taboão da Serra – SP
Público-alvo: público em geral