“YouTube” caminha para sua 2ª revolução

Por André Cintra
Em O Cantor de Jazz (1927), primeiro filme falado da história, Al Jolson emendava vários números musicais para exaltar a novidade sonora. Entre uma apresentação e outra, pedia ao público: “Acalmem-se, vocês ainda não viram nad

Oitenta anos depois, Chad Hurley e Steve Chen estão aptos – e prestes – a nos fazer a mesma solicitação. Os dois jovens criadores do YouTube se preparam para revolucionar, mais uma vez, as novas tecnologias.


 


A primeira revolução está consumada. Fundado há apenas dois anos, o YouTube já mudou para sempre os hábitos do internauta – assim como a introdução do som renovou o cinema.


 


O maior site de compartilhamento de vídeos do mundo tem mais acessos que a soma de seus 64 concorrentes (MySpace, Google Video, MSN, etc.). Só entre janeiro e maio, sua audiência se elevou em 70%, enquanto a dos rivais não passaram de 8%.


 


Com mais de 30 milhões de visitantes e cerca de 100 milhões de clipes vistos por dia, é a quarta página mais acessada na internet, atrás de Yahoo, MSN e Google. Não foi por acaso que a Google Inc. teve de desembolsar nada menos que US$ 1,65 bilhão, em outubro do ano passado, para adquirir o YouTube.


 


Seu sucesso levou as pessoas a usarem cada vez mais a Rede para procurar, postar e ver vídeos. É dessa forma que os americanos – maiores usuários da internet – passam 60% de seu tempo on-line. Em breve, estima-se que esse índice chegará a 98%.


 


Mas Chad Hurley e Steve Chen querem ir além da audiência. O YouTube passa por reformas e ousadias que miram a tal segunda revolução. Nunca as empresas procuraram tanto o YouTube, em busca de parcerias ou indenizações.


 


Em troca das novidades, os criadores miram um site mais interativo e respeitado. O objetivo é transformar o YouTube na página mais influente da internet. Cinco mudanças foram anunciadas no mês de junho, e algumas já estão postas em prática. Confira abaixo quais foram as cinco novidades. E é bom acreditar: ainda não vimos nada!


 


1) Versões regionais
O YouTube está mais poliglota. Como parte de uma estratégia global, a Google Inc. acaba de lançar versões especiais do site em nove países: Brasil, França, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Espanha e Reino Unido.


 


“Mais que a metade do nosso tráfico vem de fora dos Estados Unidos”, explica Steve Chen. Seu parceiro, Chad Hurley, completa: “O vídeo é universal e permite pessoas em todo o mundo de se comunicarem e trocarem idéias. Não se trata apenas de traduzir – mas também de criar conteúdo próprio para os países”.


 


A versão brasileira (http://br.youtube.com) foi lançada com muito conteúdo inédito – de trabalhos domésticos e curtas-metragens até produções de ponta. O site firmou parcerias para retransmitir programas da TV Globo e vídeos dos portais UOL, Terra e iG. O contrato com a Globo, por exemplo, começou com a liberação dos melhores trechos de Malhação.


 


Em contrapartida, é no Brasil que o YouTube tem enfrentado alguns de seus piores momentos. Em 2006, a modelo e apresentadora Daniela Cicarelli quase tirou o site do ar, após processá-lo pela divulgação de um vídeo “pornô” entre ela e seu namorado numa praia da Espanha.


 


O bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus e da TV Record, já conseguiu, na Justiça, que a Google Inc. excluísse do Orkut comunidades negativas à sua imagem. Agora, dizendo-se “alvo de difamação, calúnia e injúria”, Macedo luta pela retirada de vídeos no YouTube “ofensivos” a ele e à sua igreja. Até aqui, não conseguiu nada.


 


2) Parcerias táticas
Qual empresa multinacional não está de olho no maior site de compartilhamento de vídeos do mundo? São quase diárias as notícias sobre parcerias entre o YouTube e megacanais de TV (CNN, France 24, Antena 3, Rede Globo), grandes clubes de futebol (Milan, Real Madrid, Barcelona, Chelsea) e ONGs (Friends of the Earth, Greenpeace).


 


“Estamos empolgados por estar crescendo”, afirma Chad Hurley. O foco da Google Inc. nas negociações é com poderosas emissoras de televisão, que podem acusar o YouTube de ferir direitos de imagem. Só a Viacom, dona da MTV, cobra da Google US$ 1 bilhão por reproduções não-autorizadas, pedindo ainda a remoção de 160 mil clipes.


 


A crescente demanda por vídeos beneficia também os concorrentes. O Brightcove, por exemplo, está autorizado a reproduzir conteúdo de canais como National Geographics, CBS e Discovery. O site também fechou acordo para retransmitir, com exclusividade, programas das emissoras Fox, Fox News, FX e Speed, entre outras do Grupo Fox.


 


3) Reformulações visuais e operacionais
Além de expandir seu conteúdo, o YouTube busca experimentações. A mais visível para os visitantes do site é o layout. A home page (página da apresentação) mostra agora as atrações mais vistas do momento, enquanto as páginas de exibição de vídeo oferecem a opção “beta” – caso o usuário prefira outro visual.


 


Também ficou mais fácil publicar conteúdo. Para montar seu próprio vídeo, basta fazer o download gratuito do YouTube Remixer. Trata-se de uma ferramenta simples para edição de vídeos, que permite associar imagens, fotos e trilha sonora.


 


4) Interação com iPhone
Muito além do PC, o YouTube se expande para outras mídias, sobretudo os aparelhos celulares. O mais novo meio de exibição do site é o moderno iPhone – modelo de telefone celular com tela de 3,5 polegadas sensível ao toque.


 


Febre do ano, o iPhone foi anunciado por Steve Jobs em janeiro. “Vamos reinventar o telefone”, previu o entusiasmado diretor-executivo da Apple. Na semana seguinte, quase 1,1 milhão de pessoas pesquisaram sobre o produto em sites de buscas.


 


Segundo o The New York Times, a novidade da Apple já rendeu 11 mil reportagens e 74 milhões de resultados no Google. Já em seu primeiro fim de semana no mercado, o iPhone provocou “engarrafamentos humanos” nas lojas e nos pontos de venda da AT& T.


 


Apesar de caro (a partir de US$ 499), o lançamento da Apple – que permite tanto ouvir músicas quanto ver vídeos – teve 525 mil unidades vendidas em três dias.


 


5) Participação política
De uma hora para outra, o YouTube se tornou arma para políticos americanos que pleiteiam a Casa Branca. No Partido Democrata – cujas primárias ocorrem em 14 de janeiro -, a disputa entre os senadores Hillary Clinton e Barack Obama já agita o site.


 


Em março passado, um partidário de Obama publicou vídeo de pouco mais de um minuto, chamado Vote Different. O curta-metragem traz Hillary como o totalitário Grande Irmão, do livro 1984. Em menos de uma semana, o YouTube já contabilizava 1,5 milhão de acessos ao vídeo.


 


“Isso é uma mudança histórica – de um mundo em que alguns meios importantes controlavam a comunicação a um jogo no qual todos podem participar”, atestou na época Howard Kurtz, especialista em mídia do jornal Washington Post.


 


Atento ao fenômeno, o YouTube se aliou à CNN para patrocinar debates entre os pré-candidatos democratas à Casa Branca. Qualquer eleitor pode mandar sua pergunta através de um vídeo no YouTube.


 


Anderson Cooper, âncora da CNN, escolherá as melhores questões e mediará os encontros. A primeira transmissão ocorre em 23 de julho, na Carolina do Sul, com os oito pré-candidatos.