Escravos da Mauá pode estar com os dias contados

O samba do Largo de São Francisco da Prainha, feito pelo conhecido bloco Escravos da Mauá, corre o risco de acabar. Os organizadores reclamam da falta de apoio dos governos estadual e municipal. O local chega a receber cerca de duas mil pessoas nos ensaio

O Largo de São Francisco da Prainha se tornou um ponto de encontro dos amantes do samba. Os ensaios do bloco Escravos da Mauá são gratuitos e acontecem sempre as sextas, uma vez por mês. Apesar da grande concentração de pessoas o evento não conta com o apoio dos poderes públicos. Falta principalmente segurança e, além disso, são poucos banheiros para o público.



Diante disso, os organizadores dizem que não têm como continuar os ensaios e lançaram um manifesto: “É necessária a presença do poder público, mediação com os inúmeros ambulantes e com o trânsito, policiamento e segurança para os cidadãos e para o espaço público”, diz um trecho.



Veja abaixo o manifesto na íntegra



O samba do largo de S. Francisco da Prainha não pode acabar! O Rio não pode perder mais essa batalha!



Não é possível que, no contexto da cidade fragmentada que estamos vivendo, o poder público não perceba sua responsabilidade na construção e na sustentação de relações positivas entre cidadãos que tentam fazer o Rio de Janeiro mais fraterno e mais feliz.



Há muito tempo, a região portuária do Rio vem sendo alvo de grandes projetos de revitalização… que não conseguiram sair do papel. Desconhecida por muitos cariocas, a área permanece bastante esquecida, com seus imensos galpões abandonados.



Há 15 anos, no entanto, cidadãos apaixonados pelo samba e pelo Rio de Janeiro se encontram – uma sexta-feira por mês – no Largo de S. Francisco da Prainha, bucólica pracinha próxima à Praça Mauá, que, nessas noites, chega a reunir 2 mil pessoas.



Falamos dos eventos do bloco Escravos da Mauá, que, além de puxar 20 mil foliões no carnaval, ali promove animadíssimas rodas de samba mensais a céu aberto. Há 10 anos, o mesmo grupo produziu o cd-rom Circuito Mauá, que conta a história do lugar, berço dos primeiros movimentos do samba, do choro e do carnaval popular, ponto de encontro de Donga, João da Bahiana, Sinhô e Pixinguinha, e que tem os artistas da Radio Nacional e o Mestre-Sala dos Mares na galeria de seus personagens imortais. O conjunto das iniciativas do grupo recebeu, em 2000, o prêmio URBANIDADE, do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), que distingue ações de valorização do patrimônio e de ocupação positiva do espaço público.



O samba no Largo da Prainha é solidário: as despesas com o som são rachadas entre dezenas de amigos, incluindo os próprios músicos que organizam o evento (o Fabuloso Grupo Eu Canto Samba “toca pra gastar dinheiro”). Resgata uma antiga tradição nessa região da cidade e já recebeu a participação espontânea de grandes nomes do samba como Luiz Carlos da Vila, Beth Carvalho, Moacyr Luz, Walter Alfaiate, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Aldir Blanc, Camunguelo, Zé Luiz do Império, Tia Surica, Xangô da Mangueira, Zé da Velha, Delcio Carvalho e Wanderley Monteiro, apenas pra citar alguns dos bambas cuja presença honra e legitima o samba da Mauá, que, ao longo de sua história, já levou à região mais de 200 mil pessoas, em mais de 150 eventos.



Ou seja, um projeto espontâneo de revitalização da região portuária, criado e mantido com um esforço incomum, com 15 anos de sucesso e credibilidade, respeito à comunidade, ao espaço público e à história do lugar.



Por incrível que pareça, isso corre o risco de acabar, por falta de sensibilidade dos órgãos públicos. Os problemas são MUITO acima do que os organizadores podem enfrentar sozinhos e não se esgotarão com a mera colocação de banheiros químicos e pontos de luz. É necessária a presença do poder público, mediação com os inúmeros ambulantes e com o trânsito, policiamento e segurança para os cidadãos e para o espaço público.



Não é possível que, no contexto da cidade fragmentada que estamos vivendo, o poder público não perceba sua responsabilidade na construção e na sustentação de relações positivas entre cidadãos que tentam fazer o Rio de Janeiro mais fraterno e mais feliz. O samba do Largo de S. Francisco da Prainha não pode acabar! O Rio de Janeiro não poder perder mais essa batalha!