IMG debate Amazônia durante reunião da SBPC em Belém

Na noite de 10 de julho, no novo plenário da Câmara Municipal de Belém/PA, o Instituto Maurício Grabois promoveu o debate “A Amazônia e o projeto nacional de desenvolvimento sustentado”, evento relacionado à reunião anual da SBPC que ocorre em Belém, p

A mesa do evento foi coordenada pelo vereador Paulo Fonteles Filho (PCdoB), que na ocasião representou o Instituto; por Eron Bezerra (engenheiro agrônomo, professor da Universidade Federal do Amazonas, deputado estadual PCdoB/AM, secretário de agricultura do Amazonas e membro do Comitê Central do PCdoB); Ennio Candotti (presidente da SBPC); Marco Antonio Raupp (presidente recém-eleito da SBPC e doutor em matemática pela Universidade de Chicago); Samuel Soares de Almeida (pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi, órgão federal de pesquisa); Ronaldo Lima Araújo (professor-doutor do Centro de Educação da UFPA) e Luiza Rangel (presidente da ANPg, Associação Nacional dos Pós-graduandos).


 


Na platéia estiveram presentes, dentre outros, Vanessa Vasconcellos (vereadora PMDB/Belém); Alfredo Costa (vereador PT/Belém); José Raimundo Coelho (do INPE e tesoureiro da SBPC); Newton Miranda (gerente Regional do Patrimônio da União); José Varella Pereira (Comissão do Centenário de Dalcídio Jurandir – escritor paraense que filiou João Amazonas ao PC do Brasil na década de 1930); Carlos Pará (editor da revista Pará Zero Zero); Roberto Martins (secretário de Justiça e Direitos Humanos do Pará, em exercício); Fábio Palácio (presidente do CEMJ) e Edvar Luiz Bonotto (diretor do IMG e revista Princípios).


 



Intervenções aprofundaram o tema da Amazônia


 


Paulo Fonteles Filho abriu o debate expondo que o evento do IMG procurava fazer um elo de ligação entre a comunidade científica reunida em Belém e a comunidade local. Afirmou a necessidade de se conhecer, preservar, desenvolver e defender a Amazônia.


 


Eron Bezerra fez uma exposição enfocando aspectos históricos, geopolíticos e estratégicos da Amazônia. Demonstrou as visões sobre a abordagem do tema: o desenvolvimentismo, o “santuarismo” e o sustentabilismo – que advoga o desenvolvimento com preservação. Relatou e criticou as diversas tentativas de internacionalização da região. Expôs dados das dimensões físicas e humanas da Amazônia, a exemplo da riqueza representada pela água doce, e defendeu a necessidade de se implementar um modelo de desenvolvimento sustentado que promova a elevação do nível de renda e sócio-cultural do povo da região.


 


Samuel Soares de Almeida (Museu Emilio Goeldi) partiu da questão de como aproveitar o potencial da região amazônica. Segundo ele, em pesquisa que participa, já foram catalogadas mais de 2 mil espécies de plantas com alto potencial para manejo adequado e uso econômico com grande possibilidade de repercussão para o aumento da renda das populações locais e para o desenvolvimento sustentado da Amazônia. Ele criticou os ciclos vividos até aqui, a exemplo da borracha, por não terem tido sustentabilidade. Um novo ciclo sustentável deveria ser racionalmente induzido pelo poder público e envolver o que ele denomina “plantas do futuro” – recursos naturais locais com imenso potencial, a exemplo do açaí. Para Samuel devemos estudar e estruturar a cadeia produtiva do açaí com base no conhecimento científico. Isso poderia ser multiplicado para outras espécies com perspectiva de exploração econômica sustentável e que apresentam ampliação da demanda de consumo no Brasil e no mundo. Este tipo de investimento tenderia a diminuir a pressão sobre os recursos naturais locais e permitiria aumentar a opção de emprego e renda para os amazônidas – além de ser muito mais rentável que a exploração de madeira e a criação de gado, que são destrutivas.


 


Luiza Rangel (ANPg) defendeu a necessidade de um projeto global estratégico para a região – o desafio do desenvolvimento nacional envolve a Amazônia. Para ela, outro desafio é como formar mais doutores e como fixá-los na região.


 


Ronaldo Lima Araújo (UFPA) fez uma abordagem com o trabalho como centro articulador de um projeto de desenvolvimento nacional para a Amazônia. Relatou que no Pará (foco de seus estudos) há as formas mais modernas de realização do trabalho convivendo com as formas mais atrasadas e degradantes – como o trabalho escravo. Expôs que nos últimos tempos 25 mil trabalhadores escravos foram resgatados dessa condição no Pará. A maioria submetidos pelos criadores de gado locais. Manifestou preocupação com o risco gerado pela ausência do Estado e de políticas públicas, uma vez que os dados demonstram que o trabalho escravo é maior nos municípios com os mais baixos indicadores sociais (água potável, saneamento, saúde, educação …). Ronaldo defendeu um modelo de desenvolvimento que supere o atual e que inclua e envolva os amazônidas e os trabalhadores.


 



Parceria com o PCdoB


 


O debate foi encerrado com a intervenção de Marco Antônio Raupp (novo presidente da SBPC) e Ennio Candotti (atual presidente da entidade).


 


Raupp agradeceu e disse se sentir honrado por comparecer ao evento do Instituto Maurício Grabois. Lembrou que por todo lugar por onde andou em lutas em defesa da ciência e tecnologia sempre encontrou combativos colegas do PCdoB. Destacou a parceria da ANPg com a SBPC e que os jovens cientistas de hoje, dentre eles muitos do PCdoB, vão fazer história na SBPC adiante. Falou que precisamos de criatividade e de parcerias e que, à frente da SBPC, continuará junto com o PCdoB, um importante parceiro. Quanto ao tema da Amazônia, Raupp defendeu a necessidade de conhecermos melhor sua realidade para embasar o seu desenvolvimento, e que o objetivo da reunião anual que ora ocorre é despertar as instituições e universidades para esta tarefa. Precisamos desenvolver tecnologias nacionais para gerenciar e monitorar os recursos naturais locais. Há uma dívida nacional para com a Amazônia: devemos conhecer mais, agregar valor aos produtos locais – uma contribuição a ser dada pela ciência. O sistema de C&T local deve ser mais capacitado em recursos humanos e a SBPC trabalha para isso.


 


Ennio Candotti agradeceu o convite e lembrou que há três anos participou de um ato de apoio ao vereador Paulo Fonteles Filho, quando este estava sob ameaça de morte. Sugeriu à Câmara Municipal o debate para criação de uma fundação ou fundo de apoio à ciência, tecnologia e cidadania. Um órgão municipal para estudar, discutir e planejar a cidade – e suas grandes questões como saneamento, água, urbanização, qualidade de vida. Lembrou que os municípios devem ter instrumento adequado para esse esforço, uma vez que a C&T interfere na vida das pessoas. Ao final Candotti deu congratulações e parabenizou a revista Princípios pela sua edição sobre a Amazônia.


 


Ao final do debate, os presentes participaram de um coquetel de lançamento da edição 90 da revista Princípios. (Leia mais sobre a última edição da revista Princípios)