Filme de Michael Moore ganha elogio em Cuba e torpedo da CNN

Sicko, o novo documentário de Michael Moore, representa a maior publicidade para o sistema gratuito de saúde em Cuba desde a revolução de 1959. A opinião é do médico cubano Jaime Davis, que serviu de anfitrião ao cineasta. Com o filme, no entanto

Em Sicko – que estreou há duas semanas nos Estados Unidos -, Moore denuncia o sistema de saúde americano e elogia outros, como o canadense e o cubano. Em março, o documentarista levou a Cuba oito norte-americanos, para realizarem tratamento gratuito. Eles adoeceram depois de se voluntariarem para os trabalhos de resgate nos atentados de 11 de setembro de 2001.


 


O objetivo do diretor era provar que um país pequeno e pobre como Cuba é mais eficiente que os Estados Unidos no atendimento médico à população. A tese do polêmico filme é de que o sistema norte-americano é voltado para o lucro e deixa milhões de cidadãos desprotegidos.


 


“Michael Moore despertou mais interesse por nosso sistema de saúde do que os mais de 40 anos em que estamos fornecendo saúde à nossa gente”, disse Jaime Davis, que ofereceu exames e tratamento grátis ao grupo levado pelo documentarista.


 


Baixo custo


 


Durante dez dias na ilha, os pacientes americanos foram tratados de problemas respiratórios contraídos pela respiração de poeira nas ruínas do World Trade Center. Alguns também receberam tratamento de problemas dentários e digestivos, segundo Davis. O próprio Moore teve sua pressão arterial medida.


 


Parando em uma farmácia, um membro do grupo comprou um refil do seu inalador por um peso cubano (menos de 3 centavos de real) – um valor fortemente subsidiado. “Dê mil para mim”, brincou Moore para o atendente, contando que o mesmo medicamento nos Estados Unidos custaria 50 dólares, segundo Davis.


 


Esse cirurgião, atualmente no departamento de assuntos internacionais do Ministério da Saúde, disse que o grupo de Moore deixou o país com “a saúde melhorada”, mas não entrou em detalhes.


 


Trunfos cubanos


 


A educação e a saúde, sempre gratuitas e de acesso universal, são consideradas as maiores conquistas do sistema socialista construído pelo dirigente Fidel Castro. Parte dos hospitais cubanos está deteriorada e mal iluminada. Mesmo assim, o sistema de saúde consegue resultados equivalentes aos de países ricos.


 


A mortalidade de crianças com menos de cinco anos é de apenas 7 por mil nascidos vivos em Cuba – resultado melhor que os 8 por mil dos Estados Unidos, segundo a Organização Mundial da Saúde.


 


“Moore está mostrando a realidade do sistema cubano de saúde – e essa é uma mensagem muito positiva para nós”, enfatizou Davis.


 


A CNN contra Sicko


 


Também nesta segunda-feira, a CNN respondeu a uma carta do diretor, afirmando ser “irônico” que alguém que fez carreira pedindo explicações a grupos seja tão sensível quando jornalistas analisam seu trabalho.


 


Foi uma reação à carta publicada no sábado (14) por Moore em seu site. Nela, o diretor diz que espera uma desculpa da emissora sobre afirmações feitas em relação a Sicko. E adverte que está prestes a se transformar no pior pesadelo da rede de televisão, se não receber desculpas.


 


No entanto, a CNN diz que só cometeu um erro de informação na primeira reportagem sobre o documentário – das várias que produziu. “Pedimos perdão e corrigimos na televisão e em nosso site há seis dias, apesar do que afirma Moore em sua carta”, divulgou a rede.


 


Troca de farpas


 


O comunicado da rede é uma etapa a mais em uma série de conflitos que vêm marcando a relação entre a CNN e Moore desde o dia 10 de julho. Na ocasião, o cineasta criticou ao vivo a emissora e Wolf Blitzer, um dos principais jornalistas da rede, por considerar que haviam interpretado mal o documentário.


 


Na resposta, a CNN afirma que visa oferecer informações objetivas e que foi exatamente isso que fez no caso de Sicko. A rede diz, ainda, que ofereceu a Moore diversas oportunidades para falar da informação divulgada.


 


Na opinião do diretor, o dado foi, na verdade, uma “crítica”. A emissora questionou algumas informações apresentadas pelo diretor no filme.