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Brasil avisa aos EUA que quer cota agrícola maior

O Brasil deixou claro neste domingo (2) aos EUA, na véspera da retomada da negociação agrícola da Rodada Doha, que tem ambição bem maior que os norte-americanos sobre o tamanho de cotas para carnes e outros produtos agrícolas, que considera essencial para

Negociadores dos dois países se reuniram em pleno domingo de sol em Genebra, um dia após o presidente George W. Bush anunciar que deseja dar um “novo fôlego” à combalida negociação global nesta semana, durante o encontro de cúpula anual dos países do Pacifico, em Sydney (Austrália). Segundo a Casa Branca, a administração Bush está preparada para fazer “duras escolhas” se outros países oferecerem mais concessões para atender interesses de exportadores americanos.



Ocorre que, quando a discussão chega aos negociadores e aos detalhes, a conversa é outra. Além de continuar não dando qualquer sinal de que aceitarão corte maior de subsídios, os americanos mostram-se menos ambiciosos sobre uma parte de acesso aos mercados, envolvendo a designação de produtos ditos “sensíveis”.



Por esse mecanismo, os produtos designados terão corte tarifário menor – a proteção contra entrada de importações continuará elevada. Mas quem utilizar essa escapatória precisa compensar os exportadores com cotas maiores, para que determinado volume entre com alíquota mais baixa. O maior alvo é a União Européia, que quer manter ampla proteção para praticamente todos os principais produtos exportados pelo Brasil, encabeçados pelas carnes.



Agora, os americanos demonstram menos ambição do que o Brasil. O argumento é de que são de fato grandes exportadores – US$ 77,5 bilhões previstos para este ano, US$ 8,8 bilhões a mais que em 2006 –, mas também são importadores. Ou seja, de um lado vão se beneficiar de cotas nos mercados de muitos parceiros, mas de outro terão de aumentar cotas para mais importações de concorrentes fortes como o Brasil.



Compensações



Em Potsdam, após uma terrível briga entre os três, o Brasil acusou os EUA e a UE de terem se entendido entre eles para acomodar seus respectivos interesses defensivos, suspeitando que os americanos aceitariam percentual maior de produtos sensíveis e compensação menor, enquanto os europeus admitiriam corte menor de subsídios americanos. EUA e UE negaram.



Em julho, o mediador da negociação agrícola, Crawford Falconer, propôs que os países desenvolvidos possam designar entre 4% e 6% de suas linhas tarifárias agrícolas como sensíveis – e compensar com cotas globais também entre 4% e 6% do consumo doméstico para a commodity protegida.



Exportadores do Brasil querem cotas muito maiores do que a UE se diz disposta a aceitar. O setor de carne bovina quer cota de 500 mil toneladas por ano. Os europeus querem uma negociação que implique pouca redução de produção. Isso pode ocorrer passando uma parte do volume hoje extra-cota (com tarifa maior) para uma cota (com alíquota menor), e transferindo a renda dessa cota maior para o Brasil. A retomada da negociação agrícola ocorre num ambiente de crescente pessimismo. Christiane Lagarde, a ministra de Economia e Finanças da França, disse não esperar um acordo global num futuro próximo porque a divisão entre os 150 membros da OMC continua “muito grande”.



Fonte: Valor Econômico