Gravadoras em risco: que fazer para enfrentar a crise do CD?
Você compra uma pastilha e ganha grátis o download de um MP3. Ou você compra uma versão econômica do disco completo, com menos faixas e capa de papelão. Ou você simplesmente baixa músicas de um artista e um patrocinador paga ao artista o repasse que antes
Publicado 03/09/2007 21:35
Antes símbolo de uma nova era tecnológica para a indústria fonográfica, o compact-disc completou 25 anos no mês passado com cara de velho. Pior: num mundo em que o MP3 se tornou a nova moeda corrente musical – e no qual os discos prateados também são usados para gravar dados digitais -, o valor do CD parece obsoleto.
“Se o CD fosse uma pessoa, diria que está aposentado, mas não morreu. O CD foi destruído por uma série de políticas e procedimentos errados – preço errado, trabalho de ponto de venda feito errado, design tratado como se fosse supérfluo, etc.”, explica um dos presidentes da gravadora Trama, João Marcello Bôscoli.
“A internet foi tratada como criminosa, os piratas deram aulas de logística e preço, o DRM (sistema anticópias adotado pela indústria de disco) é visto como uma solução… Foi inevitável que as pessoas perdessem o interesse na mídia”, agrega o executivo
A Trama lançou o Download Remunerado, em que os artistas independentes que hospedam MP3s no site Trama Virtual recebem pagamentos de acordo com o volume de seus downloads. “Assim como a TV, o rádio e a própria internet, acredito no financiamento através das marcas. Nunca paguei para ver uma novela da Globo”, diz Bôscoli.
Já a gravadora Warner apostou na internet e fez uma parceira com uma marca de pastilhas em que ela “dá” um MP3 de graça para cada caixinha de pastilha vendida.
O futuro
A morte do CD não é um fato. Mesmo com vendas despencando (2006 foi considerado o pior ano para a indústria do disco nos Estados Unidos desde 1990), a lição dos tempos do vinil foi aprendida – uma mídia não mata outra, e todas podem coexistir.
“O CD não está morrendo como querem alguns”, teoriza Mônica Ramos, responsável pelos Novos Negócios da DeckDisc. “Essa conversa de que CD era ou é caro é de quem não sabe fazer conta de padaria. Coloque de um lado os custos e de outro o que se fatura com a venda. Se o resultado for positivo, comemore, mas ele nunca será alto.”
Dentro dos CDs, algumas alternativas foram apresentadas este ano. A primeira delas foi o CDZero, da gravadora SonyBMG, que lançava versões reduzidas (com menos faixas) de seus lançamentos para baixar o preço do produto, como um aperitivo do álbum. É o resgate do conceito do single ou do EP, que praticamente inexiste no Brasil.
A concorrente Universal contra-atacou com versões inteiras de seus discos em caixinhas de papelão, o Music Pac, também baixando o preço do disco. “Estamos em plena atividade para reinventar nosso negócio”, emenda Marcelo Castelo Branco, presidente da gravadora EMI no Brasil.
Com isso, a música segue seu rumo para além do disco. “Como música é ar vibrando, ela pode ter muitas formas e ocupar muitos espaços”, continua Bôscoli. “Para nós, uma camiseta, um boné, um pen drive, uma mochila ou um livro que tenha como tema a música é música também. Ela está na TV, no rádio, na internet, nos aviões, nos restaurantes, nas lojas, nos automóveis, hotéis.”
“Os novos negócios de verdade abrangem telefonia, celular, venda por internet de álbuns e fonogramas, sincronização em TV e publicidade, todos eles pertinentes à indústria fonográfica em seu próprio conceito de geradora de conteúdo e complementares à venda de CDs e DVDs”, conclui Mônica.
Da Redação, com in formações de O Estado de S. Paulo