Jornais na Web: A notícia como bem público
O jornal americano The New York Times desativou esta semana o seu serviço Times Select, pondo fim a uma experiência de dois anos de cobrança pelo acesso às versões online de artigos de sua equipe de colunistas. Logo em seguida, dois outros ícones
Publicado 23/09/2007 20:09
O velho debate sobre a gratuidade dos jornais online está chegando a um desfecho determinado por questões eminentemente práticas, mas deixa no ar uma questão que ainda provoca curto circuitos na cabeça de donos de jornais e especialistas em imprensa: o da gratuidade da notícia.
O The New York Times investiu US$ 10 milhões no Times Select e resolveu jogar a toalha depois que ter conseguido apenas 227 mil assinantes pagos (outros 887 mil ganharam assinaturas grátis). Pior do que isto, foi a insatisfação dos colunistas que ficaram por trás do muro da cobrança e que perderam milhares de leitores ao redor do mundo.
O blogueiro e consultor de Web Jeff Darvis admitiu que deixou de ser um leitor habitual de estrelas do colunismo como Thomas Friedman e Maureen Dowd porque não assinou o Times Select e acabou descobrindo que ambos não faziam tanta falta assim.
A grande maioria dos demais jornais na Web não cobra nada pelo acesso ou exige apenas cadastramento do leitor. Aqui no Brasil, a Folha de S.Paulo e O Globo cobram acesso ao seu conteudo online, enquanto O Estado de S.Paulo limita a quantidade de notícias publicadas na Web.
O balanço financeiro da experiência do Times Select ainda não é conhecido, mas os jornais The Wall Street Journal (americano) e Financial Times (inglês) já admitiram formalmente que podem deixar de cobrar acesso à suas versões online. Os jornais econômicos oferecem um conteúdo especializado e não enfrentaram grandes resistências da clientela formada por empresários e corporações na hora de pagar a conta.
Se até eles estão dispostos a aderir à gratuidade é que porque o buraco é mais embaixo. A verdadeira questão é a facilidade de opções na Web. Usando um mecanismo de buscas o leitor pode facilmente obter gratuitamente a mesma informação que alguns jornais cobram. Este é talvez o grande argumento por trás da meia volta dos grandes jornais em matéria de assinatura online paga.
A mesma linha de raciocínio vale para as versões em papel. Por que vou comprar um jornal impresso se posso ter o mesmo conteúdo na Web, sem pagar nada? É claro que isto não é uma sentença de morte dos jornais impressos, mas as suas tiragens cairão, ainda mais, se eles não buscarem novos nichos informativos.
Isto comprova uma possibilidade levantada desde o início da avalancha informativa na Web sobre a transformação da notícia num bem público. Depois de ser um produto — ou, como dizem os economistas, uma commodity com preço variável — a notícia perde valor monetário e ganha relevância social.
As implicações desta mudança ainda não foram exaustivamente estudadas pelos teóricos da comunicação, mas os jornais, rádios, emissoras de TV e revistas já começaram a sentir os seus efeitos práticos. A imprensa está vendo a sua principal matéria-prima perder valor, o que muda a natureza do seu negócio.
Os jornais não terão outra alternativa senão trocar o noticiário de atualidade pelas reportagens investigativas e textos analíticos, se quiserem sobreviver.