Marcha pela reforma agrária chega em Caxias do Sul

Os movimentos sociais que integram a Via Campesina estão realizando três marchas no Rio Grande do Sul. Elas partiram das regiões onde estão localizados os acampamento do MST e seguem em direção à Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul. Nesta segunda (24),

A Fazenda Guerra foi escolhida como destino para as marchas por se tratar de uma terra símbolo do modelo do agronegócio. A Fazenda ocupa uma área de 9.000 campos de futebol, ocupando 30% do território do município de Coqueiros do Sul. Apesar do tamanho, gera apenas dois empregos fixos e outros 20 temporários. Em impostos, a Fazenda Guerra contribui para Coqueiros do Sul com a mesma arrecadação que quatro aviários de pequenos agricultores. Além de dirigir toda sua produção para a exportação.


 


As marchas são motivadas pela lentidão do processo de Reforma Agrária no estado. Atualmente no Rio Grande do Sul, 2.500 famílias permanecem acampadas a espera de um pedaço de terra. Algumas há mais de já se encontram nessa situação há mais de cinco anos. Nesse mesmo período apenas 800 famílias foram assentadas.


 


Se por um lado a lentidão em se fazer reforma agrária é resultado da política agrária do governo federal, que não deu conta de assentar as 140 mil famílias acampadas pelo país, por outro, também existe uma política de desmonte das políticas sociais e retirada de direitos por parte da administração da governadora Yeda Crusius.


 


O gabinete de reforma agrária foi extinto e não há, hoje, qualquer órgão público responsável pela reforma agrária no governo do estado. As ações dos movimentos sociais no mês de abril demonstraram na prática que a única política para as questões sociais no Rio Grande do Sul é a repressão policial e a criminalização.


 


Além da ausência de políticas públicas, há o favorecimento ao chamado agronegócio, a ação do capital financeiro internacional na agricultura. Houve nos últimos anos, uma ofensiva na aquisição de terras e agroindústrias por este setor formado por empresas internacionais dirigidas por grupos financeiros. Como a Aracruz Celulose, controlada pelos Bancos Safra, Votorantim e BNDES. Ou a sueco-finlandesa Stora Enso, controlada por fundos de ações. Estas empresas pretendem, na área de celulose, adquirir 1 milhão de hectares de terras no estado para o plantio de pinos e eucaliptos.


 


Diversos movimentos sociais e ambientalistas têm alertado contra a exploração em monocultivo, que ameaçam o meio ambiente com a destruição da biodiversidade e o empobrecimento do solo. Além disso, as grandes extensões de terra nas quais são investidas o monocultivo são um obstáculo a mais para a reforma agrária no país.


 


As plantações de eucalipto e pinus também provocam uma crise hídrica na região. Um estudo do professor Ludwig Buckup, da UFRGS, comprova que a quantidade de árvores para celulose na metade sul exigirá uma quantidade de água maior do que a média de chuvas de região, ou seja, há risco inclusive de falta de água para o consumo humano. Além do risco ambiental, os custos para estes “investimentos” são altos para os cofres públicos: um emprego na Aracruz Celulose na Bahia custou 400 vezes mais do que em qualquer outro ramo da indústria, enquanto, no campo, as monoculturas de celulose geram 37 vezes menos empregos do que a agricultura camponesa. No Rio Grande do Sul existem exemplos de desapropriação de terras que deram certo para a reforma agrária.


 


Como o caso do assentamento criado na antiga Fazenda Anonni, com o mesmo tamanho da Fazenda Guerra, onde vivem hoje 420 famílias, produzindo, por ano, cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150 mil sacas de soja, 35 mil sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5 mil cabeças de suínos e 10 mil quilos de hortaliças. Essa produção movimenta o comércio local e leva alimento sadio para a mesa dos trabalhadores da região.


 


O assentamento também tem seis escolas para as crianças assentadas. Caso a Fazenda Guerra seja desapropriada, pode assentar 465 famílias. O que significa gerar milhares de empregos diretos na região, com a construção de 465 casas, venda de geladeiras, fogões, ferramentas, etc.


 


Uma das marchas partiu ontem, dia 11, de Eldorado do Sul, de Capão do Leão, onde a Via Campesina realizou um protesto o viveiro da Votorantim Celulose (leia matéria aqui). Outra marcha partiu da região das Missões e fez uma encontrou ontem, entre Bossoroca e São Luiz, onde recebeu o apoio de cinco prefeituras da região, que realizaram um ato em defesa da reforma agrária. As marchas, que iniciram no dia 12 de setembro, devem durar cerca de 30 dias.