Jornais estrangeiros dão palpites sobre futuro da Amazônia
Três jornais de repercussão internacional publicaram nas últimas semanas matérias com avaliações controversas sobre o futuro da Amazônia. O francês Le Monde afirma que as plantações de soja estão asf
Publicado 21/10/2007 19:43
Le Monde: soja 'asfixia Amazônia'
Uma reportagem do jornal Le Monde afirma que a Amazônia se encontra “asfixiada pela soja”. O longo texto do vespertino francês afirma que a commodity é “um dos mais ferozes inimigos da floresta brasileira”.
“Está a floresta condenada? Desde 1960, um quinto de sua superfície já foi derrubada. Hoje, é a cultura da soja que a ameaça”, escrevem do Pará – que chamam de “faroeste brasileiro” – os repórteres do Monde.
A reportagem descreve como os produtores de soja vivem o que chamam de “guerra fria” contra ambientalistas, sobretudo ativistas do Greenpeace, uma das organizações não-governamentais mais críticas em relação aos sojicultores amazônicos.
“A tensão é palpável”, diz o jornal. “Na Cooper Amazon, empresa que distribui fertilizantes, Luis Assunção, o diretor, não esconde sua raiva: 'Aqui, agora, é a guerra. Uma guerra fria'”.
Os repórteres relatam a desconfiança gerada pela presença de estrangeiros no Pará, e destacam as manifestações recorrentes de sojicultures que afirmam que “a Amazônia pertence aos brasileiros”.
Contra os argumentos de que a soja ajuda a Amazônia a se desenvolver, o Monde questiona: “Quem se beneficia deste desenvolvimento?”
O jornal lembra a violência que continua opondo grileiros e posseiros no campo, os assassinatos contra ativistas sociais e membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e as repetidas revelações de trabalho escravo em fazendas da área rural.
Por fim, o jornal diz que “o pior está por vir” com o que chama de “explosão dos biocombustíveis”, um fenômeno que obrigaria a conversão de mais áreas de plantio para a cana-de-açúcar e empurraria a soja mais para dentro da floresta.
La Nación: 'Privatização' da Amazônia
Já o diário argentino La Nación diz em reportagem publicada no final de setembro que as concessões de partes da floresta amazônica para exploração privada, regulamentadas na semana passada pelo governo brasileiro, “podem ser uma boa notícia”.
O jornal observa que o argumento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de que “se isolar a maior floresta do planeta do contato humano é uma utopia, pelo menos que aqueles que a exploram o façam de forma sustentável”.
A reportagem comenta que serão arrendados nos próximos meses 220 mil hectares no Estado de Rondônia.
“O grande problema da Amazônia é a falta de fiscalização”, afirma o jornal. “Por isso, 70% do arrecadado com a licitação se destinará aos órgãos de fiscalização da selva. Segundo o Greenpeace, cada fiscal é responsável por uma área do tamanho da Suíça.”
Segundo a reportagem, “a diferença entre o desmatamento e ‘o manejo florestal sustentável’ que deverão realizar as empresas que venham a obter as concessões pode ser medida matematicamente”.
“Segundo o Ministério do Meio Ambiente, enquanto no primeiro caso se extraem todas as árvores para vendê-las ou para utilizar a terra, na utilização sustentável se extraem entre 5 e 6 árvores das 500 que pode haver em um hectare de selva”, diz o texto.
O jornal comenta que “a decisão de lançar os contratos de gestão e desenvolvimento é parte do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia empreendido pela ministra Marina Silva”. “Com várias medidas, esta militante histórica pela preservação reduziu em 49% o desmatamento desde 2004”, diz a reportagem.
Segundo o diário argentino, “a falta de desenvolvimento nas regiões da selva termina fomentando a destruição”. “Por isso se licitarão áreas da selva. O trabalhador sem emprego ou renda se converte em mão de obra para operações ilegais. Quando manter a selva de pé é um bom negócio, a destruição se detém. O ambientalismo pragmático talvez seja mais eficiente do que as utopias”, conclui.
El País: 'exorcizar' a internacionalização da Amazônia
Em meio a críticas de ecologistas, o presidente Lula quer “exorcizar” a possibilidade de que a Amazônia venha a ser internacionalizada, afirma uma reportagem publicada na página do jornal El País na Internet.
“Lula adverte ao mundo desenvolvido que 'a Amazônia tem dono'”, titula o correspondente do jornal no Brasil, fazendo o que o diário espanhol qualificou de um duro discurso contra os que dão “lições de conservação”.
A reportagem se refere às palavras do presidente na abertura do 2º Encontro dos Povos da Floresta, pronunciadas “com voz firme, em um discurso quase improvisado”, nas palavras do repórter.
Segundo o jornal, Lula disse que há 8 mil anos o Brasil tinha 9% das florestas mundiais. Hoje, tem 29,5%, porque os países desenvolvidos derrubaram as suas.
Mas o El País lembra que a defesa que o presidente faz do seu projeto de desenvolvimento amazônico trouxe junto críticas.
“Lula foi criticado durante seu primeiro mandato por ecologistas brasileiros e internacionais, pelo que consideravam falta de sensibilidade diante dos problemas ambientais, e pela ausência de apoio à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva”, diz o jornal.
“O presidente foi acusado de priorizar o desenvolvimento econômico, inclusive na Amazônia, por cima das exigências ecológicas. Por isto, em seu segundo mandato, tenta recuperar a credibilidade nesse tema, sensíveis à opinião pública.”
O dilema, afirma a reportagem, é conseguir isso e ao mesmo tempo garantir a autonomia do país sobre o território amazônico.
“O Brasil sempre rejeitou o slogan de que ‘a Amazônia é de todos’, e chegou a temer mesmo que, sob o pretexto de não proteger seus bosques, os Estados Unidos possam chegar a pedir sua internacionalização como patrimônio da terra”, diz o El País.
“Este é o demônio que Lula, com seu discurso fervoroso e taxativo, tentou exorcizar.”
Da redação,
com informações da BBC