Um minuto para o camarada Edvar Bonotto
Cristiano Capovilla, da direção estadual do PC do B, presta sua homenagem a Edvar Bonotto, a quem qualifica com um comunista de “visão política apurada, capacidade de lidenança,construtor, divulgador e formulador do partido”. Bonnoto faleceu no último
Publicado 05/11/2007 18:53 | Editado 04/03/2020 16:48
Quinta-feira, 1º de novembro de 2007, 9:00 horas da manhã, o pleno do Comitê Estadual do partido estava reunido quando o camarada Oliveira dá a notícia fatídica: “faleceu o camarada Edvar Bonotto. Foi membro da comissão política do partido no Maranhão, grande militante que atualmente estava integrado ao partido em São Paulo, fazendo parte da Comissão Nacional de Formação. Recentemente veio ministrar um curso em São Luís. Vamos todos fazer um minuto de silêncio em sua homenagem …”. Todos ficaram de pé e, naquele instante, comecei a refletir sobre o camarada Edvar Bonotto.
Edvar somava as melhores qualidades de um comunista. Visão política apurada, capacidade de liderança, construtor, divulgador e formulador do partido. Ele aliava como poucos uma incrível capacidade de argumentação com uma enorme modéstia, sempre tomando cuidado para não ser o centro das atenções. Prezava, acima de tudo, pela unidade partidária, essa difícil arte de construir o partido da revolução e do poder proletário. Quem teve o prazer de militar com ele pôde observar sua despreocupação com cargos ou coisas do gênero. Tinha ojeriza aos carreiristas de plantão. Suas convicções no partido, no socialismo e na dialética, advinham da sua autonomia racional. O camarada era livre na sua razão e nos seus pensamentos. Essa liberdade racional convertia-se nos imperativos militantes: construir! divulgar! desenvolver!
Mas sem dúvida foi no plano da teoria que mostrou seu maior exemplo de militância comunista. É difícil mensurar qual a verdadeira influência no seio do partido de um camarada como Edvar. Toda uma geração de jovens comunistas aprendeu que a luta pelo socialismo no Brasil passa também por um grande esforço teórico. A idéia de renovação do marxismo-leninismo como fazendo parte do esforço de renovação do próprio PCdoB era uma tarefa permanente. Para ele, só a dialética poderia ser o cimento que unificaria racionalmente as profundas mudanças que o partido teria que implementar após a queda da URSS, para voltar, em meio a maré contra-revolucionária, a ser alternativa de poder no século XXI. A procura por esses instrumentos racionais que possibilitariam um novo ciclo de formulações, revigorando nossa teoria, absorvendo elementos do nacional, era uma obsessão do camarada.
Criticava o pragmatismo e o imediatismo com que às vezes nos deparamos no exercício da atividade política, para demonstrar a necessidade da filosofia. Pautar a filosofia no seio do partido: essa era a missão teórica do camarada Edvar. Mas uma vez cumpriu bem sua tarefa.
Mas não era só isso. Acima de tudo era um grande ser humano, como devem ser todos os verdadeiros comunistas. Era uma pessoa generosa, desapegado das quinquilharias que sempre nos cercam. Um amante do prazer e das coisas boas na simplicidade da sua existência. Procurou, sempre, extrair da vida a sua essência, afastando as ilusões de uma sociedade normalmente alienada. Apresentava através dos diálogos, palavras e orações uma rica subjetividade, que rapidamente convertia-se em conceitos objetivos, nessa arte de buscar e viver a totalidade em um mundo fragmentado.
De repente acabou o minuto de silêncio. As atividades do comitê estadual tinham que prosseguir. Ficou no peito, em meio às lembranças, apenas um misto de tristeza, alegria e honra. Tristeza pela perda prematura de um jovem e florescente ser humano, comunista e amigo. Alegria de ter partilhado uma amizade com um espírito dessa magnitude. E o sentimento de que pessoas como Edvar Bonotto honram nossa existência com o seu convívio.
Como disse um amigo em comum: “a vida continua. Presente na vida está o camarada Edvar. Edvar vive !”
Cristiano Capovilla. Secretário de Formação do PCdoB do Maranhão.