Fórum Social Mundial assume a diversidade amazônica
O Conselho Internacional do Fórum Social Mundial (FSM) realizou na semana passada, em Belém (PA), uma reunião para preparar os próximos passos dos “altermundistas”, incluindo a oitava edição do FSM que acontecerá em janeiro de 2009 e que será amazônica. O
Publicado 06/11/2007 08:54
O FSM é um âmbito de encontro e debate de uma variada gama de organizações e movimentos, cujo denominador comum é sua rejeição ao atual rumo da globalização econômica e a busca de outros modelos de globalização. Daí serem chamadas também de “altemundistas”. Mas, o Conselho Internacional decidiu reunir-se em Belém como ato de apoio e aproximação a essa cidade de 1,4 milhão de habitantes, escolhida como sede do Fórum 2009, disse Cândido Grzybowski, um dos principais organizadores do FSM e diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
“Foi animador conhecer a densidade dos movimentos sociais e organizações amazônicas, que asseguram o êxito do Fórum em Belém”, disse Grzybowski à IPS. Os grupos participantes já avançaram “tanto em organização quanto em idéias”, desde que em maio o Conselho Internacional escolhe a sede da próxima edição centralizada do FSM, acrescentou. a cidade foi escolhida como forma de destacar a importância da Amazônia para o mundo. Belém é a porta de entrada para essa região compartilhada por oito países e que concentra uma grande parte da diversidade biológica mundial e onde o desmatamento causa temores e protestos em todas as partes.
Também faz parte da Amazônia a Guiana Francesa, remanescente colonial que será um tema importante no FSM de Belém, destacou Grzybowski, acrescentando que o grande encontro dará visibilidade à diversidade da população amazônica, que compreende indígenas, quilombos (comunidades descendentes de ex-escravos africanos), povos ribeirinhos e outros, sem esquecer o drama dos trabalhadores submetidos a condições de escravidão. Não só estará em questão a independência da Guiana da França como, também, “as conseqüências de sua situação para a América Latina, especialmente para os países amazônicos”, disse à IPS Jean Michel Auboint, representante da União de Trabalhadores da e da Organização de Direitos Humanos dessa colônia francesa.
Com exemplos de efeitos negativos Auboint apontou a militarização e possíveis agressões, a apropriação de conhecimentos tradicionais e de recursos naturais por parte da potência colonizadora e as restrições à livre circulação, que é uma tradição cultural entre os povos locais, como os indígenas e os quilombolas (habitantes dos quilombos). “Os indígenas não têm direitos legais na Guiana Francesa”, ressaltou.
O FSM realizou suas três primeiras edições em Porto Alegre, seu berço e símbolo por ter desenvolvido várias idéias democratizantes, como o orçamento participativo. Em 2004, o encontro anual mudou para Mumbai, na Índia, e voltou à capital gaúcha no ano seguinte. Em 2006, foi aprovada uma edição policêntrica em três continentes, com encontros em Caracas (Venezuela), Carachi (Paquistão) e Bamako (Mali). Este ano, Nairóbi, capital do Quênia, retomou a tradição de apenas um encontro mundial, mas, pôs fim à periodicidade anual. O FSM agora é bienal e 2008 será dedicado a manifestações locais em diferentes lugares do mundo.
Em seu balanço da mobilização que é preparada para 26 de janeiro próximo, o Conselho Internacional comprovou que haverá uma grande diversidade de atos e iniciativas. Belém organizará seminários e duas grandes manifestações para afirmar-se como uma referência do movimento por “outro mundo possível”, ou “altermundista”. No Rio de Janeiro um espetáculo na praia encerrará o ato “Rio com vida”, para ressaltar a preocupação local com a segurança, enquanto São Paulo promoverá um encontro de quatro dias pelo direito à educação, enquanto seminários e campanhas acontecerá em outras cidades brasileiras, informou Salete Valesan, do Instituto Paulo Freire e permanente organizadora desses encontros.
A comunicação ganhou uma importância-chave neste processo “pulverizado de manifestações em todo o mundo, para dar visibilidade e estabelecer a conexão entre tantas atividades. Por isso, o Conselho Internacional aprovou a criação de um site interativo (www.fsm2008.net) com variadas ferramentas que permitirão informar, inclusive de forma audiovisual, sobre as múltiplas ações, disse à IPS Antônio Martins, da Associação por uma Taxa para as Transações Financeiras e Ajuda aos Cidadãos (Attac). Cada organização, “por menor que seja”, poderá proporcionar informação sobre suas mobilizações. Outra iniciativa convida profissionais e amadores a fazerem vídeos de até um minuto de duração para compor uma “história audiovisual coletiva’ da Ação Global que se estenderá por vários dias antes e depois de 26 de janeiro.
O conselho deu “passos gigantescos” na organização do FSM, destacou Grzybowski. Decidiu-se criar um Grupo de Enlace, formado por 11 titulares e cinco suplentes, com representação de todos os continentes e equilíbrio de gênero, para suceder o grupo brasileiro de organizadores que até agora se encarregou dos trabalhos administrativos do movimento. Além disso, houve avanço em um plano para obtenção de recursos de forma permanente, não apenas voltados às atividades, mas para melhor sustentabilidade do processo, buscando superar as dificuldades financeiras e organizacionais que apresentam a preparação e execução de cada edição do FSM, concluiu Grzybowski.
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