Boas expectativas para 2008 em Florianópolis: Janete Teixeira no PCdoB

A idéia é apresentar um pouco do que pensam, fazem e estão dispostos a realizar camaradas que, diante dos debates que o PCdoB vem realizando acerca de seu projeto político, colocam-se na linha de frente da luta política na cidade.

Na Conferência Municipal do Partido, realizada recentemente, deliberou-se pela construção de alternativas para expandir a representação popular nos espaços institucionais e implementar uma nova política, baseada na ampliação da democracia, no desenvolvimento econômico com valorização do trabalho e justiça social.

Nesta primeira entrevista, exclusiva ao Portal Vermelho, conversamos com Janete Teixeira, que recentemente ingressou ao PCdoB, oriunda das fileiras do Partido dos Trabalhadores (PT). Uma pessoa maravilhosa que, com muito suor de um intenso e permanente trabalho comunitário, ganhou a simpatia e admiração de milhares de florianopolitanos. É suplente de Vereadora na Cãmara de Florianópolis, conquistando mais de 1800 votos nas eleições de 2004, primeiro pleito que concorreu.

Janete Teixeira é uma mulher de luta, mulher que faz. Atua nos movimentos sociais e é uma das responsáveis por assegurar a uma importante parcela da juventude o acesso a Universidade, além de inúmeras outras ações sociais que desenvolve. Segundo Janete, o PCdoB dá “respostas rápidas para as questões que estão latentes” e destaca o Centralismo democrático, princípio organizativo dos comunistas. “Ao contrário do que me falavam a respeito do centralismo, etc…, na Conferência foram feitas várias votações e o que mais me deixou contente, que o que era votado era o que valia, para todos”, relata Janete que, na XIII Conferência do PCdoB foi eleita para compor a direção municipal de Florianópolis.

Acompanhe a entrevista:

Portal Vermelho: Janete, você é uma das principais lideranças dos movimentos sociais de Florianópolis. Atuante em defesa dos direitos sociais e da cidadania, trabalha em defesa da comunidade. Qual é sua trajetória neste intenso período de lutas e desafios percorridos  até o momento na cidade?

Janete Teixeira: O início é um tanto impreciso, sempre me peguei questionando as minhas ações, quanto ao que ocorria ao meu redor. Sempre que via alguém sendo sacaneado(a) por outro e esta pessoa não tinha conhecimento claro, dos seus direitos, aquilo me incomodava. Comprei muitas brigas, por conta disso. Já fui demitida do trabalho, por não aceitar essas e muitas outras situações que aconteciam.

Na verdade, sou indignada com injustiças… Acho que devido a isso comecei logo, a participar do movimento comunitário. Espontaneamente fui me engajando nas lutas. Minha primeira participação foi na  APP do Colégio de Aplicação como vice-diretora, me juntando ao grupo de pais e professores para resolver problemas comuns a todos. Daí para frente, fui transportadora de escolar durante 7 anos, da qual participei do Sindicato dos Transportadores de Escolares. Participei do CONSEG do meu Bairro, por me sentir incomodada, a segurança para mim passa necessariamente, pela questão da falta de oportunidades que nossas crianças, jovens e adultos tem, essa exclusão que vemos e sentimos diariamente, na educação, esporte, cultura, etc.

Aí veio a luta para a criação da  Rádio Comunitária do Campeche e fiz parte da primeira diretoria. Da organização da Associação dos Moradores onde já estou no segundo  mandato. Através da AMOCAM, inclusive, foi possível viabilizar um projeto da maior importância, a criação do Curso Pré-Vestibular Comunitário Gratuito, que teve seu início em agosto de 2005, na Escola Porto do Rio Tavares, atendendo a centenas de alunos carentes, excluídos do sistema educacional convencional, pelas suas dificuldades financeiras, etc., junto com outras pessoas do Bairro, fomos à luta em busca de materiais necessários e implantar o cursinho que contou desde o inicio com o apoio da ELETROSUL, que foi de fundamental importância para o Projeto.

Acredito que devemos colocar em prática bons projetos para uma comunidade, dando certo devemos expandi-los para outras comunidades, e foi o que aconteceu com o Curso Pré-Vestibular Comunitário Gratuito do Sul da Ilha. Em 2006 fomos convidados a participar da coordenação de outros núcleos que estavam se deteriorando, , funcionavam precariamente levei a nossa experiência e trabalho voluntário e hoje funcionam mais três Núcleos, a saber: do Colégio Celso Ramos (Centro), Aderbal (Estreito) e Aníbal (Capoeiras) totalizando 4 Núcleos portanto, com resultados surpreendentes, aprovando alunos em vários cursos de Universidades, tanto Estadual como a Federal, além de aprovação em Concursos Públicos, Prouni, CEFET, Faculdade Municipal de São José, etc. Hoje os quatro Núcleos atendem 407 alunos aproximadamente sem qualquer ajuda da Secretaria Estadual de Educação ou da UDESC  que preferiram se retirar do Projeto, sem uma justificativa plausível.

Isso vem de encontro ao que penso a respeito da responsabilidade do Estado para com uma educação de qualidade e gratuita, mas isso não me acomodou, muito pelo contrário, e os resultados estão aí, para quem quiser ver. Esse é o meu jeito e não me conformaria com a omissão de quem quer que seja. Muitos dos problemas, nas comunidades como a questão do tráfico, a marginalidade, a violência etc., se dão pela falta de oportunidades que pararam seus estudos e querem voltar, (CEJA, EJA,…) mas, as instituições de ensino não conseguem dar conta, pois não vão a fundo, na real necessidade de cada comunidade, é como se fosse um modelo único que tem que servir a todos da mesma forma, e essa não é, muitas vezes a realidade. Penso em várias formas de projetos, alfabetização de adultos, esporte, utilizando os espaços públicos, muitas vezes ociosos, para utilização da comunidade, cultura etc. Enfim, entendo que é dessa forma, que mudaremos a realidade nessas comunidades, estamos na verdade atrasados, pois o tempo das nossas crianças passam e os apelos são muito grandes, portanto temos que ser rápidos e resgatar nossas crianças, jovens e adultos, e não deixar que eles se desviem por caminhos da sobrevivenncia a qualquer preço, esse é um desafio, mas que temos que fazê-lo, o mais urgente possível.

Finalmente, vou falar um pouco da minha luta partidária que começou quando me vi grávida de meu primeiro filho Eduardo, fiquei como simpatizante, mas me filiei ao PT, + ou – 1992, como instrumento de luta para colocar em prática nossos projetos.

Pensando assim aceitei ser candidata à vereadora em 2004, onde obtive excelente votação, e o melhor ainda foi uma campanha honesta, no “tete a tete” com a comunidade, andando, a verdadeira campanha, passando de casa em casa, na comunidade que vivo, com a participação de amplos seguimentos da cidade que me apoiaram e acreditaram no meu projeto.

Portal Vermelho: Como foi sua entrada no PCdoB e quais os principais motivos que levaram a esta opção?

Janete Teixeira:  Desde a campanha de 2004, que estamos nos entreolhando, eu por achar muito interessante a forma como os militantes do PCdoB se organizam e como vão atrás do que eles querem. Venho acompanhando o mandato da Vereadora Ângela Albino e como eles estão engajados nos movimentos sociais. Isso me chamou muito a atenção, respostas rápidas para as questões que estão latentes. O Partido dá apoio irrestrito aos movimentos sociais, o partido está dentro dos movimentos.

Portal Vermelho: Quais as expectativas e a sua perspectiva como filiada do PCdoB?

Janete Teixeira: Ser uma força para ajudar nesse processo. Minha perspectiva, é buscar formas de atender as necessidades das comunidades, melhorar ambientalmente, bem como socialmente a vida das pessoas. Dar respostas às demandas, de forma rápida acredito que assim as coisas funcionam melhor.

Portal Vermelho: Como foi que você sentiu a receptividade da militância do PCdoB?

Janete Teixeira: Foi muito interessante, me senti muito à vontade.

Portal Vermelho: Como tem sido a receptividade dos seus amigos, simpatizantes, colegas de projetos e trabalho, enfim a sua base eleitoral e quais são as diferenças que você sentiu com esta mudança?

Janete Teixeira: Algumas não acreditaram, pois foi uma ação rápida, mas foi conversada com pessoas que diretamente estão ligadas, conversamos e achamos que pelas condições era o melhor a fazer. Outras adoraram, se sentiram aliviadas. Outras preocupadas inicialmente, mas agora viram que as respostas estão realmente atendendo ao que nos propomos.

Portal Vermelho: Na XIII Conferência Municipal você passou a integrar a direção municipal do PCdoB. Como você avalia os debates da Conferência e o papel e desafios do Partido para o próximo período?

Janete Teixeira: Ao contrário do que me falavam a respeito do centralismo,etc. na conferência foram feitas várias votações e o que mais me deixou contente, que o que era votado era o que valia, para todos. O que se tinha que discutir, aquele era o momento, depois era só votação. Isso para mim é a verdadeira democracia. Teve falas muito interessantes, pessoas de pensamentos diferentes, mas que no final o objetivo era um só. Pessoas que me chamaram a atenção, de forma que passei a conhecer mais o partido e as pessoas que dele fazem parte. O espaço dado às comunidades, que se colocaram muito bem, com toda a simplicidade, mas com muita propriedade. Uma palavra de ordem nessa Conferência foi à palavra “OUSADIA”, realmente precisa estar muito seguro do seu espaço, para poder dar um salto dessa amplitude, mas necessário, sempre lembro que não podemos e não devemos apenas esquecer da simplicidade, dessa ligação direta com todos os movimentos sociais existentes. Os desafios colocados são grandes sim, mas não impossíveis, pois um militante do PCdoB com certeza valem por dez. Foram colocadas posições muito bem claras na Conferência do que temos a fazer. Que a diferença não é só pela Vereadora Ângela Albino ser um nome novo, disputando com o velho. Teremos que ter um projeto, aí sim, diferente para a nossa Florianópolis.

Portal Vermelho: Você destacou-se nas eleições de 2004 com uma votação surpreendente. Seu nome figura como uma das alternativas para manter a bancada do PCdoB na Câmara Municipal de Florianópolis. Qual seu pensamento para o futuro da cidade de Florianópolis?

Janete Teixeira: Ter o mandato integralmente, como já faz a vereadora Ângela Albino, aberto às comunidades, onde além da discussão do meio ambiente, temos que estar discutindo a questão social. Pois temos em todos os espaços dessa cidade, problemas sérios. Que a população consiga ter acesso direto, que se faça uma renovação das forças dentro da Câmara, que tenhamos sim, muitos vereadores com a visão do todo, comprometidos com as necessidades da população, sobretudo a mais carente, não fazer como muitos que usam a política e seus mandatos para poucos, para seu próprio interesse. Os vereadores eleitos são de todos, os que votaram e os que não votaram neles. Mudar a lógica da Câmara, barrar o clientelismo e que sejam atendidas ou que se viabilize de alguma forma questões que digam respeito a todos, não como normalmente se faz, apenas aos “amiguinhos”. A população tem que se dar conta do seu papel, que é fundamental, buscar melhorias para todos, na questão da saúde, educação, cultura, etc.

Portal Vermelho: Santa Catarina é um dos Estados com os piores índices de participação política das mulheres em espaço de poder. Como avançar na participação das mulheres na sociedade?

Janete Teixeira: Muito disso se dá pela questão cultural, mas que temos, principalmente, enquanto mulheres mudar essa realidade. Nós é que temos que buscar e motivar novas lideranças, muitas vezes desconhecidas, que não se dão conta do seu papel, valorizando-as naquilo que melhor sabem fazer. Um dia depois de ter escrito estas palavras, reli e vi a minha história aqui, pois tive muitas conversas com camaradas do partido, como o Sidnei, Vinícius, Guizoni, de forma alguma diminuindo o papel “deles”, mas o que realmente mexeu comigo foi a fala da Ângela Albino e a da Maristela Maffei do Rio Grande do Sul, onde por telefone ficamos conversando muito e a história dela também é muito da minha. Não a conheço pessoalmente, mas me identifiquei, como venho acompanhando também, a Manoela do RS.  Essas três mulheres a exemplo de muitas que temos trabalham com muita seriedade, amor e com uma visão do todo. E esse trabalho de homens e mulheres é com certeza a relação mais interessante e construtiva possível. Na XIII Conferência Municipal houve uma fala que adorei foi a do Senhor Gão, líder comunitário, que disse que “Ousadia é uma mulher grávida, com 5 filhos, levar todos seus filhos à escola e ir trabalhar”.

Portal Vermelho: Um recado para militância do PCdoB.

Janete Teixeira: Gostei muito de conhecer as pessoas do PCdoB, ali estavam a juventude, os negros, os movimentos, as pessoas dos  sindicatos empenhadas(os) e que participam ativamente nos seus espaços. Vi ali, pessoas dispostas a correr atrás daquilo que acreditam, de um mundo muito melhor, que temos obrigação de estar juntos para a busca, senão do ideal do mais justo possível.

De Florianópolis
Vinícius Puhl