Empresas nacionais dominam leilão feito pela ANP
A nona Rodada de Licitações da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mudou de figura e foi marcada por ofertas altíssimas feitas por empresas estreantes e por uma presença menos intensa da Petrobras, que perdeu a hegemonia pela primeira vez. As novatas da in
Publicado 28/11/2007 10:04
Previsto para durar dois dias, o leilão foi encerrado pouco depois das 18h desta terça-feira (27). Seu destaque foi a OGX Petróleo e Gás, de Eike Batista, que pagou cerca R$ 1,48 bilhão por 21 blocos exploratórios – 70% do total de R$ 2,1 bilhões arrecadados no leilão pela ANP. Foram vendidos 117 blocos ou 43% dos 271 oferecidos. A Petrobras fez 56 lances, mas só ganhou 27 blocos.
O montante arrecadado pela agência, a ser incorporado ao caixa do Tesouro Nacional, é recorde na história dos leilões da ANP, que começaram em 1999. O diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, comemorou o resultado. “Chegamos a R$ 2 bilhões, uma coisa expressiva. Mais do que dobramos o recorde anterior, que era da sétima rodada”, disse. Ele afirmou que a retirada de 41 blocos exploratórios situados na chamada camada “pré-sal”, com grande potencial de reservas, decidida no início do mês pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), comprometeu a participação das grandes empresas mundiais do setor. Ele admitiu que a expectativa antes da retirada desses blocos era arrecadar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões.
“Acho que as 'majors' se prepararam especificamente para aqueles 41 blocos. Quando o governo federal determinou a retirada dos blocos, elas provavelmente tiveram dificuldade e desinteresse em se jogar em novos pleitos”, afirmou. Empresas como Exxon Mobil, Chevron, Shell, BP, BG, Eni e Repsol não deram lances.
Petrobras e empresas nacionais
Para o diretor da ANP Vítor Martins, a rodada teve como pontos positivos a forte participação das empresas nacionais, o sucesso da nova fronteira da Bacia do Rio do Peixe, na Paraíba, e a manutenção da Petrobras como a empresa que mais arrematou blocos (27) sozinha ou em parcerias, com gasto total de R$ 296 milhões. “Em essência, a rodada fortaleceu o modelo existente”, afirmou Martins.
O prefeito de Souza, na Paraíba, município onde foram leiloados blocos da bacia do Rio do Peixe, saiu do leilão exultante. Disse que com os blocos arrematados o orçamento do município passará de R$ 50 milhões em 2008 para R$ 150 milhões em 2009.
Na avaliação de diversos observadores, a atuação da Petrobras no leilão foi “tímida”. O gerente executivo da exploração e produção corporativa da estatal, Francisco Nepomuceno, avaliou que os ágios dos concorrentes foram muito elevados. Ele disse que as ofertas para as áreas onde a estatal perdeu tiveram como base “o valor que a Petrobras entendia que elas valiam”.
Dos 27 blocos arrematados pela Petrobras, a maioria em parceria com outras empresas, nove foram em sociedade com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que não era estreante porque já havia se habilitado em rodada anterior.
As empresas estreantes mostraram muito apetite e, em alguns casos, ofereceram ágios para águas rasas equivalentes aos de águas profundas. A OGX pagou R$ 344 milhões, o maior lance do leilão, pelo bloco S-M-270, na Bacia de Santos, com ágio de 6.511% em relação ao preço mínimo. A OGX pagou ainda os outros dois maiores ágios do dia: 2.767% no bloco C-M-466 e 1.666% no bloco C-M-592, ambos na Bacia de Campos. “Me estruturei para ter uma empresa de petróleo com o potencial que o Brasil merece e precisa”, disse Batista.
Entre as nacionais que ficaram com áreas estavam brasileiras como a Ral e a já conhecida Starfish, que se associou à novata Eaglestar. Outra que chamou a atenção foi a STR Projetos. Ela ganhou sete dos dez blocos oferecidos na bacia do Parnaíba, no Maranhão.
Entre as nacionais que não eram estreantes, mas ganharam novas áreas, está a Silver Marlim, que já ganhara cinco blocos exploratórios no Recôncavo baiano.
Nelson Narciso, diretor da ANP, disse que 34 empresas arremataram blocos no leilão, sozinhas ou em parcerias, e o investimento mínimo previsto em exploração superou os R$ 6 bilhões. “Ao contrário do que se pensava, o processo não ficou prejudicado, embora pudesse ter sido melhor se tivesse seguido como foi desenhado”, ressaltou. Na avaliação do ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, que acompanhou o leilão, a presença de empresas nacionais e estrangeiras, estreantes ou não, disputando áreas indica que o modelo brasileiro funciona.
Fonte: Valor Econômico