Capitalistas tomam conta do cenário da moda brasileira
A moda brasileira começa a se transformar em negócio, disse o presidente da Identidade Moda, Vicente Mello, em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira (4). Para ele, o mercado de moda no Brasil, que “é reconhecido internacionalmente pelo tale
Publicado 05/01/2008 11:39
A Identidade Moda é nova gestora das marcas Zoomp, Zapping, Herchcovitch; Alexandre, Fause Haten, Clube Chocolate e Cúmplice. A Identidade Moda é controlada pela HLDC, dos investidores Enzo Monzani e Conrado Will, ex-executivos do Pátria (banco de negócios) e do Banco Patrimônio.
A profissionalização da moda brasileira repete o processo vivido pelos mercados europeus e americanos nas décadas de 80 e 90. Vicente Mello citou como exemplo o grupo LVNH, que controla marcas como Louis Vuitton e Dior.
“É um movimento estrutural. Começou um processo de consolidação no mercado de moda brasileiro”, afirmou Mello
A Identidade Moda pretende abrir capital no futuro em até cinco anos. “O projeto, olhando o médio e o longo prazo, é ter participação tanto no mercado brasileiro como no mercado internacional, de exportação e fazer uma abertura de capital da Identidade Moda”, explicou Mello.
Leia abaixo a íntegra da entrevista feita por Paulo Henrique Amorim
Vicente, em primeiro lugar, que empresa é essa Identidade Moda?
Bom Paulo, o que a gente está fazendo é construindo uma gestora de marca. Então, esse é um projeto que começou há quase dois anos, a implementação dele começou em julho de 2006, quando a gente concluiu a aquisição das duas primeiras marcas, a Zoomp e a Zapping, com o objetivo de criar um grupo gestor de marcas emulando um modelo que aconteceu no seguimento de moda nos mercados europeus e americanos na década de 80 e 90. Quando a gente teve a entrada de alguns conglomerados que foram adquirindo marcas.
Então é uma empresa de gestão de marca. O negócio de vocês é administrar marca.
Exatamente.
Vocês não produzem uma camisa pólo.
Não, toda a produção é terceirizada. Tem um reconhecimento de que o valor nessa indústria, e em outras indústrias, ao logo dos últimos anos foi migrando de coisas tangíveis para intangíveis.
O que é que você quer dizer com isso?
Marca é um ativo completamente intangível. Então, o valor está na marca que você coloca no carro, na camiseta, no leite em pó, no sabão em pó. S ele é fabricado numa fábrica A, numa fábrica B ou numa fábrica C, isso não importa.
Na China ou na Tailândia, também não tem a menor importância.
Porque é a marca que estabelece o compromisso com o consumidor final.
Agora, a minha pergunta é a seguinte, a Identidade Moda é uma empresa que pertence a um grupo de Venture Capitalist, de investidores capitalistas que não são desse mercado de moda e que entraram nisso como poderiam ter entrado, se fosse um bom negócio, em shopping center, poderia ter entrado em telecomunicações. Quem é que é o controlador da Identidade Moda? Que grupo é esse de Venture Captalists?
Esse grupo é chamado HLDC, que tem dois sócios. Um se chama Enzo Monsani e o outro Conrado Will. Os dois egressos do Patrimônio e do Pátria.
São dois executivos da área financeira.
Isso, que vem do mercado de Private Equity. A HLDC tem um outro investimento que é a BenQ Mobile do Brasil, é uma empresa de handset de telefonia celular, de aparelhos de telefone celular. Então, esse é o controlador do grupo Identidade Moda.
Então, ela tem, portanto, dois negócios. Ela tem a BenQ e a Identidade Moda, a HLDC.
Isso.
E você é o responsável pela gestão da Identidade Moda.
Isso, eu sou o presidente da Identidade Moda.
Vocês hoje têm, com essas empresas que vocês já têm, um faturamento anual de R$ 300 milhões, mas o Estadão diz que vocês pretendem chegar, rapidamente, a R$ 900 milhões quando então abririam o capital, é isso? Fariam o IPO?
O projeto, olhando o médio e o longo prazo, é que essa gestora de marcas tenha entre dez e dose marcas, com participação tanto no mercado brasileiro como no mercado internacional com exportação e fazer uma abertura de capital da Identidade Moda, num horizonte de três a cinco anos.
Vicente, a minha grande amiga e essa grande profissional que é a Glorinha Kalil tem uma tese, que eu gostaria de submeter a você, a moda brasileira é uma moda que tem uma imprensa muito boa, uma visibilidade na mídia muito boa, mas ela não é uma indústria de moda, ela não é um negócio de moda, ela não tem acesso ao mercado internacional. Tem uma loja do Alexandre Herchcovitch em Tóquio, tem loja em Nova York. Você concorda com essa tese? Ou a Identidade Moda pretende enfrentar esse desafio exatamente ao formar esse grupo?
O que eu acredito que está acontecendo no mercado de moda neste momento no Brasil, com esse processo de consolidação que nós somos um dos participantes, existem outras, é justamente de transformar a moda brasileira, que é extremamente reconhecida pelo talento criativo, pela capacidade de gerar tendência e de design, transformar isso num negócio. O melhor paralelo é o que aconteceu no mercado europeu. Você olha o mercado europeu 20 anos atrás, você tinha marcas que eram extremamente reconhecidas como marcas, mas eram pequenos negócios e 20 depois, com esse processo de consolidação, as marcas continuam sendo marcas extremamente reconhecidas, mas que viraram grandes negócios.
Quando você fala do mercado europeu você está falando de que grandes conglomerados, por exemplo, só para dar uma ilustração para os nossos ouvintes e internautas?
Você olha, por exemplo, o grupo LVMH.
Na LVMH tem o que lá dentro?
Você tem Louis Vuitton, você tem Dior. Você olha o grupo Gucci, que é outro grupo europeu com Alexander McQueen, Stella McCartney, Bottega Veneta. Os grupos que iniciaram esse processo de consolidação quinze, vinte anos atrás.
O próprio Armani fez isso, não fez?
O próprio Armani é um outro grupo.
Mas, na verdade, é um grupo capitalista em que o Armani hoje é um gestor profissional, não é mais o dono, não é? O Giorgio Armani.
É.
E é isso que vocês querem reproduzir aqui?
Isso é uma das coisas que a gente quer reproduzir. Eu acho que não é um movimento único, é um movimento estrutural. Começou um processo de consolidação no mercado de moda brasileiro, nós somos um dos jogadores, um dos participantes desse processo de consolidação e tem outros grupos procurando fazer a mesma coisa.
E o primeiro investimento forte na área internacional é o Alexandre Herchcovitch?
A gente está iniciando esse processo de internacionalização mais focado pela marca que já é a marca mais internacional, que é a marca do Alexandre Herchcovitch.
Fonte: Conversa Afiada