''…a parte de baixo da pirâmide já me conhece'', intimida o novo comandante da PM
Cerimônia de portas fechadas, clima tenso, e o novo comandante-geral da PM, coronel Gilson Pitta, dispara: ''…a parte de baixo da pirâmide já me conhece''. A postura arrogante mostra que podem vir por aí mudanças profundas, com uma linha ainda mais d
Publicado 01/02/2008 14:51 | Editado 04/03/2020 17:05
Pitta entrou na PM em 1975 e estava à frente da P2, o serviço reservado da PM. Nunca comandou um batalhão e sempre trabalhou na área de inteligência. A frase, no parágrafo acima, serve para mostrar quem manda e que o comando não vai tolerar qualquer tipo de “insubordinação”.
Sobre o movimento que reivindica melhores salários e promoveu a passeata no dia 27 de janeiro – estopim para a crise – o novo comandante já disse que caberá à Corregedoria investigar o caso. “Se punições forem necessárias, serão aplicadas”, advertiu. “Quer ganhar igual a almirante, vai trabalhar na Marinha. Soldado da PM tem que ganhar como soldado da PM”, disse Pitta. Acontece que até bem pouco tempo o novo comandate-geral não pensava assim. Ele foi um dos que assinaram o manifesto dos coronéis exigindo reajustes e segundo seus ex-companheiros “barbonos” (como são chamados os oficiais que participam do movimento) participou, no mesmo dia da passeata, de uma reunião do grupo onde se comprometeu, em comum acordo com outros coronéis, a não aceitar cargos de chefia enquanto o impasse com o governo não fosse resolvido.
Na verdade, já existe no movimento uma suspeita de que Pitta estava infiltrado no movimento (não vamos esquecer sua origem) e de que teria mandado o serviço reservado da PM (conhecida como P2) filmar a manifestação de domingo.
Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, os policiais militares do Rio têm o segundo pior salário inicial entre os PMs de todo o País. A PM do Rio perde apenas para a Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
Crise e mais crise
O tamanho da crise pode ser avaliado pela antecipação, em 24 horas, da posse do novo comandante, medida que buscou evitar manifestações e entregas de cargos e quebrou um protocolo de 200 anos, pois até então a posse do comandante-geral foi sempre pública e diante da tropa formada. Na cerimônia atual, homens de Pitta só autorizaram a entrada dos poucos participantes. Apenas 30 pessoas estiveram presentes. A transmissão do cargo durou pouco mais de uma hora.
Postura diferente
Na sua despedida, o ex-comandante da PM, coronel Ubiratan Ângelo, perguntado sobre sua opinião disparou: “Leia o regulamento. Sempre fui leal aos chefes. Mas também sempre fui fiel à instituição. Jamais traí a tropa, nem o secretário de segurança, nem o governador”.
O coronel Ubiratan é respeitado entre os que militam nas entidades que lutam pelos direitos humanos. Dentro da corporação, era solidário ao movimento pelo aumento de salários e buscava o diálogo com seus comandados. Agora que assume um comandante-geral que já anuncia sua guerra contra “a pirâmide de baixo”, o clima do verão carioca, tanto nos quartéis quanto nas ruas, promete ser ainda menos ameno.
*Jornalista do PCdoB/RJ