Presidente do PCdoB solidariza-se com trabalhadores da Renault
Operários da montadora francesa no Brasil denunciam escravidão na fábrica
Publicado 02/02/2008 08:38 | Editado 04/03/2020 16:54
O presidente estadual do PCdoB do Paraná, Milton Alves, visitou nesta sexta-feira (1) os quatros trabalhadores que estão acampados desde o último dia 20 de janeiro em frente à montadora multinacional Renault, localizada no município de São José dos Pinhais, a 15 km de Curitiba. O dirigente partidário foi até lá levar a solidariedade dos comunistas paranaenses e brasileiros “contra a truculência e a desumanidade da empresa” e exigir que a mesma respeite as leis trabalhistas nacionais.
De acordo com Milton Alves, os trabalhadores estão ameaçados de demissão porque paralisaram a produção durante um dia em protesto à exigência de fazer horas-extras e em razão da redução do horário de almoço para aumentar a produtividade da montadora francesa, o que é ilegal pela legislação trabalhista brasileira. “Na França a Renault jamais exploraria os trabalhadores de forma tão cruel como está explorando no Brasil. Lá, isso causaria uma nova queda da Bastilha”, compara. Alves pretende encaminhar a denúncia aos partidos políticos socialistas e comunistas e sindicatos europeus.
No próximo dia 7 de fevereiro, o francês Patrick Biu, secretário-geral do Comitê de Grupo Renault (CGR), organismo internacional que representa todos os trabalhadores da montadora, sediado na França, desembarca em São José dos Pinhais para uma nova rodada de negociações objetivando a suspensão das demissões e da obrigatoriedade das horas-extras.
Gilberto Miranda, Alceu Luiz dos Santos, Irineu Carvalho e Robson Jamaica estão acampados em barracas defronte à montadora de veículos na Região Metropolitana de Curitiba há 11 dias. Eles contam que a Renault quer demiti-los por “falta grave” em virtude de denúncias e protestos que fizeram no retorno das férias, em de 7 de janeiro, quando a montadora organizou verdadeiros “pelotões de guerra” para revistar e proibir a entrada na fábrica dos operários com equipamentos eletrônicos, como celulares e máquinas fotográficas, em virtude do lançamento de um novo veículo. Os quatro trabalhadores são delegados sindicais na empresa e por isso têm direito à estabilidade.
“A Renault quer descaracterizar a luta contra a escravidão e quer nos exemplar demitindo-nos. Ela abriu um processo interno para fabricar uma ‘falta grave’ que justifique a arbitrariedade contra nós e a libere para continuar cometendo ilegalidades”, denunciou Robson Jamaica, coordenador dos delegados sindicais. Segundo ele, nas paralisações decididas pelos trabalhadores em assembléias a multinacional sempre convoca a guarda municipal de São José dos Pinhais para reprimi-los. “Será que a prefeitura de São José dos Pinhais está a serviço da Renault?”, questiona, ao estranhar “a cega obediência do prefeito às ordens da francesa”. “Reprimir e tratar trabalhador como se fosse caso de polícia isso é um absurdo que precisa ser levado às cortes internacionais”, opina Jamaica.
Jamaica informa ainda que a produção de automóveis aumentou neste ano 40% em relação ao segundo semestre de 2007. Em contrapartida, o efetivo aumentou em apenas 20%. Para ele, a imposição de horas-extras pela Renault faz parte de uma estratégia para não contratar mais mão-de-obra e garantir lucros astronômicos à custa da saúde dos trabalhadores. “Estamos aguardando uma posição oficial do superintendente do Ministério do Trabalho, João Graça, que deverá se pronunciar nos próximos dias a respeito do descumprimento da Portaria Federal nº 42, do próprio Ministério do Trabalho, que regulamenta as questões do horário de almoço e das horas-extras”.
Ao agradecer a solidariedade dos comunistas brasileiros à causa dos trabalhadores da Renault, Robson Jamaica, que é militante do PCdoB, também concordou que a empresa quer caracterizar a luta pela redução da jornada de trabalho e mais dignidade como uma questão pessoal. Mas ele assegura que “se trata de uma luta coletiva”. Os delegados sindicais, coordenados por Jamaica, aproveitaram a oportunidade para mandar um recado aos diretores da multinacional francesa: “só votaremos à fábrica se não houver retaliações”.