Eduardo Guimarães: ONGs, a bola da vez
A falta de seriedade no trato dos assuntos de interesse público pelo jornalismo politicamente engajado gera factóides que sucedem-se e desaparecem no espaço de semanas. Só para ficarmos em exemplos recentes, assuntos que provocaram catarse na opinião p
Publicado 10/02/2008 17:11
Há poucos dias, inflaram movimentos episódicos da Bovespa que geraram queda nas cotações por conta do alarmismo midiático, que produziu (poucos) ganhadores e (montes de) perdedores por conta da crise econômica americana. A oposição e a mídia esfregaram as mãos, antevendo menor crescimento da economia e do emprego, o que lhes permitiria, oxalá, chegarem a 2010 com discurso para enfrentar a sucessão presidencial.
Apesar dos reiterados desmentidos das autoridades federais, fabricou-se um “apagão” de energia elétrica que viria no futuro próximo. Diante do aprofundamento posterior e tardio da mídia num assunto técnico que ela tratou com viés político, o tal “apagão” deixou de ser “noticiado”.
Mas o que mais evidencia a irresponsabilidade desvairada da mídia é a epidemia imaginária de febre amarela vendida ao país como sendo real, o que fez dezenas de pessoas serem internadas por overdose de vacina contra a doença e chegou a matar algumas. Cadê a contagem das vítimas fatais? Cadê a contagem de pessoas com suspeita de terem contraído a moléstia?
No último golpe do vigário midiático, o dos cartões corporativos, mídia e oposição deram com os burros n’água. A persistência no assunto e as comissões parlamentares de inquérito já assustam mídia e oposição, pois a investigação profunda do assunto rebaterá nos gastos nababescos da era FHC, na era dos Romaneé-Conti, da chef de cuisine do ex-presidente tucano, Roberta Sudbrack, e em poucos dias também esse caso irá para as calendas.
Então, que tal nos anteciparmos em relação ao próximo golpe?
Um passarinho, que trabalha na editora Abril, telefonou-me para avisar que o próximo passo da mídia oposicionista e de seus mentores tucanos e pefelistas será a polêmica das ONGs.
Essa banalização do jornalismo investigativo é o que de pior pode acontecer ao país, no que concerne à necessária fiscalização da imprensa sobre os governos. Esse tipo de jornalismo é necessário em qualquer democracia digna do nome, mas, no Brasil, está se equiparando à fábula de Pedro e o Lobo, na qual um garoto que dava alarmes falsos sobre a fera, quando ela apareceu de verdade ninguém acreditou nele.