A rénuncia de Fidel

A renúncia de Fidel da máxima direção do país, como ele mesmo disse no seu artigo, veio depo


Lembro-me como se fosse hoje o dia em que cheguei em Cuba, praticamente a cinco anos atrás. Tudo impressionava, desde as coisas que imaginava encontrar, até as que eu jamais havia parado para pensar que pudesse haver na Ilha.  Passei dois anos convivendo diretamente com estudantes estrangeiros e esporadicamente com cubanos. Somente a partir de meu terceiro ano na Ilha passei a viver junto e a compartir o dia-a-dia com cubanos.


Durante esse tempo em Cuba, além de estudar medicina, tenho procurado compreender a luta desse invencível povo. A sociedade cubana atual é uma espécie de projeto em construção, fruto de uma corajosa e ousada luta. Como eles mesmos dizem ” La vida no es fácil, pero tan poco difícil. Hay que seguir luchando hasta la victória siempre”.


Sempre na vida, para não cometer injustiças é bom analisar tudo no seu contexto. Isso é algo que os turistas que vêm a Cuba não têm possibilidade de fazer, pois desfrutam do melhor da Ilha, e muitos amigos de Cuba não o faz durante suas breves visitas, pois o tempo não lhes permitem. Os meios de comunicação sensacionalistas são profissionais na quebra dessa regra, pois o que mais gostam é de chocar os ouvintes. 



Analisar Cuba, para emitir qualquer critério do projeto socialista defendido aqui, é antes de tudo saber que Cuba se trata de um país naturalmente pobre, pois não tem grandes jazidas de minerais preciosos, reservas de petróleo, e não há grandes rios ou florestas. Seu território é menor do que um dos menores estados do Brasil, o Acre. Isso impossibilita a expansão de rebanhos e os grandes e variados cultivos, pois o clima também não favorece, agregado às grandes perdas anuais causadas por tormentas e ciclones. Seu parque industrial é limitado ou praticamente não existe.  Somente isso seria suficiente para se perguntar: como Cuba consegue compartir com paises ricos os melhores indicadores de desenvolvimento humano? Como pode ter os melhores atletas mundiais? Como consegue dar assistência de saúde e estudo gratuito para todo seu povo e para mais de 40 mil estudantes estrangeiros? Como consegue ser mais justo que muitos paises, milhares de vezes mais ricos? A resposta se torna mais difícil quando adicionamos a essa fórmula um dos mais cruéis e mais longos bloqueios econômicos na historia da humanidade.


O Embargo imposto pelos EUA a Cuba proíbe a relação comercial da Ilha com todas as empresas norte-americanas e também com as estrangeiras que tenham em  seus produtos componentes americanos. A maior expressão da severidade do bloqueio se deu no auge do período especial entre os anos de 1992 a 1996 quando faltou de tudo na Ilha, e o governo americano decidiu destruir Cuba pela fome. Os mais afetados foram as crianças e os anciãos.


Frente a esse difícil contexto, e os avanços atuais em áreas tão estratégicas, se torna mais fácil entender porque Fidel Castro é tão respeitado em Cuba e no mundo. Torna-se mais claro por que nos momentos em que o povo cubano mais sofreu com o bloqueio, atribuído diretamente ao fato de Fidel estar no poder, mesmo assim disseram “estamos com Fidel”.


Lembro-me desde o primeiro dia em que estou em Cuba, que sempre muitos cubanos tinham receio do que podia passar com a saída de Fidel da direção do país. Medo de uma intervenção, de uma grande abertura com perda das conquistas revolucionárias, medo de uma nova direção. A doença de Fidel pôs em experimento uma nova direção, que naturalmente tem os mesmo princípios, que até o atual momento tem demonstrado sensatez e firmeza nos propósitos revolucionários. Para aqueles que esperavam uma sublevação, uma oposição com caminhos em outras direções, verdadeiramente não vejo nenhuma possibilidade de isso acontecer.


A renúncia de Fidel da máxima direção do país, como ele mesmo disse no seu artigo, veio depois de um período de preparação psicológica a todos os Cubanos. Há na Ilha um clima de tranqüilidade e compreensão de que o comandante Fidel Castro já não conta com condições físicas para desempenhar tal papel, mas que suas idéias serão fontes de orientação para o continuar do processo revolucionário. Muitas manifestações públicas de apoio e solidariedade à decisão de Fidel vêm ocorrendo em todo o país. Alguns populares têm se pronunciado em desacordo e entendendo que Fidel deve ficar no governo. Na manhã de hoje a FEU (Federação Estudantil Universitária) e a UJC (União da Juventude Comunista) realizaram um grande encontro de todas suas lideranças para fazerem um manifesto de apoio a Fidel e afirmar que jamais vacilarão na defesa dos propósitos socialistas.


Como estudante estrangeiro em Cuba, tendo parâmetros de outras realidades políticas, não tenho dúvida em afirmar que qualquer um dos membros do atual Conselho de Estado Cubano que assumir a direção do país, terá maior possibilidade de realizar grandes avanços do que outro chefe de Estado de muitos paises, pois além do legado de bons quadros construídos no seio da revolução, aqui há uma verdadeira unidade de propósito e um real comprometimento de todos com os interesses sociais. 


Janilson Lopes


Estudante Acreano em Cuba do 5º ano de medicina


Fonte: Artigo extraído do blog do deputado Edvaldo Magalhães para acessar clique aqui.