CPI Carcerária: governo Aécio censura ação da imprensa

Mais um episódio na novela da censura na imprensa mineira praticada pelo governo Aécio Neves. Desta vez, deputados federais, integrantes da CPI Carcerária da Câmara Federal, puderam acompanhar de perto a prática adotada desde que o tucano chegou ao Pal

O objetivo da visita ao estado foi presenciar a situação dos presídios e o desenrolar das investigações sobre os 33 presos que morreram queimados em Ponte Nova e Rio Piracicaba e a gravidez de uma menina de 17 anos, que estava presa há dez meses junto com homens em uma cadeia de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha.


 


Visitas
Os integrantes da CPI chegaram na quinta-feira (21) para visitar três carceragens da região metropolitana. Durante todo o trabalho dos parlamentares, a ação da censura do governo mineiro se fez presente, tendo à frente o próprio Superintendente de Imprensa, Hugo Teixeira.


 


O relator da CPI Carcerária, deputado Domingos Dutra (PT-MA), denunciou o cerceamento da imprensa. “O governo Aécio é um governo fraco, que tem medo de enfrentar as verdades. Nós que combatemos a censura na época da ditadura, não podemos aceitar novamente este tipo de arbitrariedade”.


 


Segundo Dutra, todos os passos eram monitorados pelo Superintendente de Imprensa, que tentava comandar os repórteres como se fossem seus funcionários. “Fazemos visitas em todo o país e nunca fomos tão cerceados, qual o interesse de Aécio de esconder a realidade dos presídios?”, indagou o relator.


 


Rede Globo
Na inspeção feita na 2ª Delegacia de Contagem, apenas a equipe da Rede Globo nas pôde entrar nas celas para acompanhar os integrantes da CPI. Apesar de sua oposição, a equipe da TV Câmara também teve acesso. ''O próprio Hugo Teixeira tentou impedir fisicamente a minha entrada, se posicionando na minha frente'', contou um repórter.


 


Um incidente público deixou claro o autoritarismo implementado pelo Superintendente. Descontente com a atuação do repórter da TV Globo, Teixeira cobrou explicações ao jornalista na frente de outros profissionais, em um restaurante nas imediações da Delegacia. “Ele mostrou-se uma pessoa extremamente mal educada, chegando a gritar e fazer acusações”, confidenciou um repórter que prefere não se identificar para não entrar na longa lista de demitidos a mando do Palácio da Liberdade.


 


Não satisfeito, segundo a mesma fonte, Hugo Teixeira entrou em contato com a direção da Rede Globo cobrando sanções ao repórter. Segundo o mesmo jornalista que pediu anonimato, “este jornalista relatou que foi duramente cobrado na emissora e sentiu medo até de ser demitido”.


 


Na Assembléia
A ação repressora não parou por aí. O segundo dia de atividades da CPI em Minas foi uma Audiência Pública na Assembléia Legislativa nesta sexta-feira (22). O objetivo foi ouvir autoridades relacionadas à segurança pública, como o secretário de Defesa Social, Maurício Campos Junior. De forma inusitada, a TV Assembléia não estava transmitindo a importante reunião, levando ao ar uma outra atividade parlamentar ocorrida dias atrás.


A situação só foi revertida depois de um discurso incisivo do deputado Domingos Dutra (PT-MG), que denunciou ''a aberração'', pois havia solicitado a transmissão desde o dia anterior. Além disso, é corriqueiro que não havendo sessões em Plenário, deve ser transmitido a atividade mais importante no momento, no caso, a Audiência Pública.


 


Depois de muitas reclamações, feitas também pelo deputado João Leite (PSDB), a Audiência começou a ser transmitida. O deputado governista José Maia (PSDB) defendeu a decisão da TV Assembléia em não transmitir a Audiência. “Não houve qualquer censura, tudo o que a CPI pediu estamos atendendo. Não adianta chegar aqui deputados federais e quererem passar por cima da Assembléia. Não existe hierarquia em que a Câmara é superior à nossa Casa”.


 


Papel social
Outra que se assustou com o comportamento do governo estadual em relação à imprensa foi a deputada federal Cida Diogo (PT-RJ). “A maior dificuldade que enfrentamos aqui foi a forma que a imprensa tratou a nossa atuação. A imprensa não está cumprindo seu papel social, que é informar”. Segundo ela, não deixar que a imprensa mostre o que está acontecendo dentro dos presídios é uma forma de assumir incompetência do governo do estado.


 


Um dos assessores que veio acompanhar os trabalhos da CPI, o diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, Renato Pereira Filho, afirmou que a presença de Hugo Teixeira nas visitas feitas pela CPI foi bastante incômoda. “Ele ficava tentando tomar o controle de tudo, inclusive ganhou o apelido de ‘Pastinha’”. Segundo Renato, “no jargão das cadeias, ‘Pastinha” é aquele que leva e traz, e este era o papel que este tal de Hugo estava cumprindo para o Aécio”


 


O deputado estadual Carlin Moura (PCdoB), que tem sido um dos únicos a denunciar a censura na imprensa mineira, considera que foi “positivo que parlamentares de outros estados testemunhassem o que acontece em Minas com os meios de comunicação”. Para Carlin, o governo Aécio impede que a imprensa mostre a realidade dos presídios porque estão todos abandonados e dezenas de mineiros já morreram dentro de celas, conseqüência da política carcerária do governador.


 


Outro lado
Procurado pela reportagem, o superintendente Hugo Teixeira negou que tenha interferido no trabalho da imprensa. Segundo ele, o fato de entrar apenas duas equipes de TV nas celas foi uma preocupação com a segurança e que foi decisão dos parlamentares. Hugo não quis se manifestar sobre o fato da TV Assembléia não transmitir a Audiência. “Prefiro não entrar nesta questão”, disse.


Quando perguntado sobre as reclamações em relação a sua ação no dia anterior, Hugo se retirou e se disse apressado para coordenar a entrevista coletiva dada pelo secretário de defesa social, Maurício Campos Junior.






De Belo Horizonte,
Kerison Lopes