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Anistia: Clara Charf, viúva de Marighella, recebe indenização

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou nesta sexta-feira (7) a concessão de indenizações a sete mulheres que foram perseguidas políticas entre 1946 e 1985. Uma das beneficiadas foi Clara

Durante a sessão, foi dito que Clara poderia recorrer do valor determinado em um período de 30 dias. Clara tomou a palavra para solicitar que ninguém entrasse com recurso, e deixar claro que não o faria. ''O Estado jamais vai poder pagar as vidas das pessoas. O que a gente tem que pedir é que isso não se repita no Brasil. O mais importante não é o dinheiro, mas o valor dessa comissão para tornar público o que aconteceu'', afirmou Clara, que chorou ao discursar. 


 


Ela foi aplaudida de pé por uma platéia de cerca de 100 pessoas que lotaram o auditório do Ministério da Justiça para assistir ao julgamento dos processos pela Comissão de Anistia, que foi precedido de uma sessão em homenagem ao papel das mulheres na ditadura militar. Além da pensão mensal, Clara terá direito a cerca de R$ 150 mil, que se referem a pagamentos retroativos aos últimos cinco anos. Clara entrou com o pedido de indenização em abril.


 


''São mulheres que foram ícones da resistência à ditadura'', resumiu o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. O julgamento dos sete processos ficou a cargo apenas de seis mulheres que compõem a Comissão de Anistia. Há dois tipos de indenização a perseguidos políticos. O primeiro é a pensão mensal vitalícia, com o pagamento de atrasados referentes aos últimos cinco anos antes da entrada do processo no Ministério da Justiça.


 


Este benefício só é concedido a quem consegue comprovar que tinha vínculo empregatício na época em que começou a ser perseguido politicamente. O outro tipo é a indenização em prestação única que tem seu valor limitado ao teto de R$ 100 mil.


 


Perseguição


 


Nancy Mangabeira Unger, irmã do ministro Roberto Mangabeira Unger, foi outra beneficiada com uma indenização em parcela única de R$ 100 mil. Ela  solicitou o pedido de indenização em prestação única em 2006. Em 1969, ela foi expulsa da Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro sob a acusação de subversão. Em julho de 1970, quando foi presa, teve o dedo decepado por uma bala de fuzil. Nancy saiu do Brasil em 1971, na troca de presos políticas pela libertação do então embaixador da Suíça, Enrico Bucher, seqüestrado por organizações que lutavam contra o regime militar.


 


Estrella Dalva Bohadana Bursztyn também recebeu indenização de R$ 100 mil, em parcela única, por nove anos de perseguição política. Ela foi presa e torturada. A costureira Halue Yamaguti de Melo foi outra que requisitou e conseguiu indenização de R$ 100 mil do governo. Militante do PCB, Halue foi presa quatro vezes, uma delas com seus filhos adolescentes, e torturada.


 


Assim como Clara Charf, Ana Wilma Oliveira Moraes ganhou o direito de receber uma pensão vitalícia no valor de R$ 2 mil, além de R$ 282 mil em atrasados. Ela entrou com o processo em 2001. Em 1969, Ana Wilma era secretária da Folha da Manhã quando foi presa e torturada. Morava com Carlos Penafiel, integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Beatriz Arruda, que ganhou indenização de R$ 100 mil, foi casada com o deputado estadual Fernando Leite Perrone, que era ligado à ALN. Ela foi para o exílio, no Chile, com o marido, em 1969. Só voltou ao Brasil em 1979, com a Lei de Anistia. O último processo que estava sendo julgado hoje à noite era o de Maria do Socorro de Magalhães, que foi presa pela polícia e torturada, em 1972.


 


Os sete casos representam uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado amanhã, e fazem parte de um universo de 60 mil requerimentos que estão na comissão.A metade deles já foi analisada, sendo que 50% foram deferidos. A previsão é que todos sejam julgados até 2010 ainda durante o mandato do presidente Lula.


 


Da redação,
com agências