Com aperto de mãos, Colômbia e Equador encerram conflito diplomático
Colômbia, Equador e Venezuela encerraram uma disputa nesta sexta-feira, apertando as mãos em uma reunião de cúpula uma semana depois de deslocarem tropas e de vários países cortarem relações com o governo colombiano. “E com isso… esse incidente que c
Publicado 07/03/2008 19:49
A cúpula do Grupo do Rio de países latino-americanos encerrou seus debates na tarde desta sexta (7) em Santo Domingo com a leitura de um documento que confirma a superação da crise diplomática entre Colômbia e Equador, detonada por uma incursão militar colombiana em território equatoriano ocorrida no último dia 1º. Os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Colômbia, Alvaro Uribe, selaram o fim do conflito com um aperto de mãos.
Os cumprimentos foram transmitidos ao vivo pela televisão na América Latina, em resposta a um pedido especial do anfitrião da cúpula, o presidente dominicano, Leonel Fernandez.
A “Declaração de Santo Domingo” foi firmada por cerca de vinte delegações de países latino-americanos após um árduo trabalho diplomático para contornar a troca de acusações entre os presidentes de Colômbia e Equador. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o único que não pôde comparecer à Cúpula pois já havia agendado uma série de atividades nas quais lançou as obras do PAC nas favelas cariocas.
O documento inclui um compromisso colombiano de nunca mais repetir um ataque a outro país por questões de segurança, como ocorreu no sábado passado quando a Colômbia atacou um acampamento das Farc no Equador, o que provocou a grave crise.
“Com o compromisso de não agredir nunca mais um país irmão e o pedido de perdão, podemos dar por superado este gravíssimo incidente”, disse Correa dirigindo-se a Uribe, que se aproximou para cumprimentá-lo durante a sessão plenária da Cúpula do Grupo do Rio realizada na capital dominicana.
Troca de farpas
Antes, durante as discussões, Correa e Uribe haviam protagonizado um tenso debate e trocado acusações. ''Não posso aceitar as falsidades de Uribe'', afirmou Correa, recusando que tenha ''as mãos manchadas de sangue''. ''Rejeito essa infâmia segundo a qual o meu Governo colabora com as FARC'', continuou o chefe de Estado equatoriano dirigindo-se ao presidente da Colômbia.
Correa insistiu que ''nada justifica a agressão'' e que o Equador ''aguarda uma condenação'' da Colômbia, a cujo Governo exige que não volte a violar a soberania de um país. ''Empenhai-vos em nunca mais agredirem um país irmão e parem com as vossas mentiras'', continuou, dirigindo-se a Uribe. O presidente do Equador defendeu ainda a formação de uma força internacional na fronteira com a Colômbia, que acusa de ''não poder ou não saber controlar com as suas políticas militaristas''.
O computador mágico de Uribe
Na sua intervenção na reunião de cúpula, o presidente Uribe reconheceu que não informou o Equador da incursão do seu Exército. Porém, justificou o ataque no qual foi assassinado o ''número dois'' das FARC, Raul Reyes, e outros 20 guerrilheiros.
''Não tivemos a cooperação do presidente Correa em matéria de luta contra o terrorismo', argumentou Uribe, indicando que as suas tropas encontraram, após o ataque à guerrilha, documentos que provam a ligação entre as FARC e o Governo equatoriano. Numa das cartas, Uribe alega que o ''presidente Correa manifesta vontade em reunir-se'' com o líder das FARC, Manuel Marulanda, na companhia do presidente venezuelano, Hugo Chavez.
Em declarações anteriores, o chefe de Estado do Equador já tinha afirmado que Uribe sempre soube que os contatos entre as autoridades do Equador e as FARC tinham como objetivo conseguir a libertação de reféns nas mãos dos guerrilheiros, recusando que esses contatos tivessem intenções políticas ou fossem de apoio à guerrilha.
Diversos analistas políticos independentes já alertaram que os ''documentos'' e ''mensagens'' que o governo Colombiano alega ter encontrado no computador apreendido durante a operação militar contra as Farc não merecem nenhum crédito, pois um computador pode muito facilmente ser ''abastecido'' de informações que sejam convenientes para o governo colombiano atacar seus adversários.
Nicarágua rompe e depois reata relações
Antes da reunião do Grupo do Rio, a frente política contra a Colômbia esteve centrada na Nicarágua, país dirigido por Daniel Ortega, que rompeu as relações diplomáticas com Bogotá. Equador e Venezuela, que também suspenderam as suas relações com a Colômbia, reforçaram, por sua vez, a presença militar na fronteira colombiana.
Ortega propôs a criação de um grupo de países com a missão de conseguir um cenário de paz na Colômbia, onde as FARC combatem as forças governamentais há 48 anos. Ortega pediu ainda uma “troca humanitária” de reféns da guerrilha, entre quais a antiga senadora colombiana sequestrada em 2001, Ingrid Betancourt, e 500 guerrilheiros sob prisão.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, disse que os acordos alcançados nesta sexta, pondo fim ao conflito entre Equador e Colômbia, permitem a retomada das relações de seu país com o governo colombiano. A Nicarágua havia anunciado na quinta-feira o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Ivan Rios
No momento em que decorria a reunião, as autoridades colombianas anunciaram que as suas tropas assassinaram Ivan Rios, cujo verdadeiro nome seria Manuel Munoz Ortiz, um membro da direção das FARC e alvo de um pedido de extradição pelos Estados Unidos.
Rios foi morto pelas tropas numa zona rural do município de Samana, 400 quilómetros a oeste de Bogotá, disse o gabinete do procurador-geral da Colômbia. O líder guerrilheiro, que se juntou às FARC na década de 80, era um dos comandantes mais jovens do grupo rebelde e dirigia, desde 2004, o bloco central da guerrilha, que conta com 1200 combatentes.
A notícia está sendo espalhada com estardalhaço pela grande imprensa, mas até o momento, o governo colombiano é o único ''informante'' do assunto. As Farc, por enquanto, não se pronunciaram.
A divulgação desta notícia também parece ser mais um artifício do governo Uribe para tentar desviar o foco da atenção para um assunto que tem isolado e desgastado seu governo na região.
Bombas americanas
Ainda nesta sexta-feira (7), o ministro da Defesa do Equador, Wellington Sandoval, disse em entrevista na TV equatoriana que o ataque colombiano ao acampamento das Farc foi realizado com armamentos e tecnologia fornecida pelos Estados Unidos.
Cinco ''bombas bombas inteligentes'' de fabricação norte-americana foram utilizadas pela Colômbia no sábado do ataque, disse Sandoval, o que comprova mais uma vez que não houve enfrentamento de tropas, mas um massacre premeditado. O ataque resultou na morte de 23 pessoas, incluindo o porta-voz das Farc, Raul Reyes.
Sandoval disse ainda que nenhuma outra força militar na América Latina teve comparáveis equipamentos eletrônicos e propôs que o Equador aumente o orçamento das suas forças armadas para reforçar a fronteira norte do país com a Colômbia.
Estudantes mexicanos entre os mortos
Também circula a informação, desta vez com fontes confiáveis, de que entre os mortos no ataque colombiano contra as Farc estavam diversos mexicanos, estudantes e professores que realizavam pesquisa sobre a guerrilha. São conflitantes os dados sobre o número de mexicanos assassinados no ataque. O diário La Jornada fala em cinco mortos, enquanto a Telesur obteve a informação de que seriam dez os mexicanos que integravam o grupo.
''Isso confirma que o grupo não tinha capacidade operativa armada nenhuma, posto que não se organizam ofensivas guerrilleiras colombianas com estudantes e professores mexicanos em suas fileiras. Assim se desmonta mais uma mentira de Uribe. Além disso, não somente a presença dos mexicanos era conhecida pelo exército colombiano, como foi graças à espionagem colombiana sobre os estudantes de Filosofía e Letras da Universidade Autônoma do México (UNAM) que se pôde localizar o acampamento das Farc'', argumenta Pascual Serrano, do Rebelión.
Da redação,
com agências